Quando o jornalista Gilberto Dimenstein ainda era garoto e estudava em Nova Iorque, passava boa parte de seu tempo intrigado com o que via pela janela do colégio. Na praça em frente a sua sala, velhinhos passavam parte do dia tomando sol, sem nada mais interessante para fazer.

Foi desse devaneio juvenil que surgiu a idéia do projeto Oldnet, o mais antigo concretizado por sua ONG Cidade Escola Aprendiz. Baseada no conceito “bairro-escola”, a ONG acredita que qualquer espaço público pode ser palco de aprendizado, como uma praça, um beco ou um asilo. “Definimos o Aprendiz como um laboratório de idéias criativas em educação”, define Izabel Marques, coordenadora do programa Oldnet.

É seguindo o conceito de educação itinerante que o Oldnet faz sucesso entre adolescentes e jovens senhores da terceira idade. Há quase dez anos em prática, o programa promove a integração entre jovens e idosos por meio de aulas de computação.

De acordo com pesquisa encomendada pela ONG ao instituto Datafolha, apenas 4% dos idosos no Brasil navegam na internet. Inverso a esta escassa estatística, a grande maioria dos velhinhos entrevistados respondeu que o que mais gostariam de aprender era a mexer no computador. Mais do que crochê, tricot, dama e xadrez.

Durante um ou dois anos, idosos interessados em deixar para trás o pavor exercido pela tecnologia seguem os ensinamentos de jovens professores, na faixa dos 14 aos 18 anos. São adolescentes selecionados em colégios públicos e particulares de São Paulo, que se inscreveram no programa sabendo da responsabilidade de passar conhecimento a outro ser humano. “No Oldnet não é só o idoso que aprende. O jovem que topa participar aprende a lidar com a responsabilidade de ter um aluno esperando por ele. Precisa saber que se ele faltar, alguém que saiu de casa, pegou um ônibus e está ansioso por informação vai ficar sem aula. Isso os torna mais responsáveis”, avalia Izabel.

Veja o depoimento da aluna Chloe Siqueira:

A jornalista Natália Garcia foi voluntária do Oldnet enquanto cursava o cursinho pré-vestibular e sente saudade de tudo o ensinou e aprendeu. “Meus alunos sempre foram queridos. Tinha um que era meio mal-humorado, demorava muito pra digitar e a gente sempre acabava perdendo o conteúdo da página do formulário. Daí ele ficava mais bravo ainda e eu precisava ter paciência”, conta.

Segundo Natália, as aulas eram sempre direcionadas às necessidades de cada aluno. “Tinha um que era torcedor do Boca Juniors. A gente ficava entrando no site do time, vendo a história e eu aproveitava pra ensinar ferramentas de busca. Um outro aluno era arquiteto e queria aprender a fazer planilhas no excel. O louco é que o conceito de virtual não entrava na cabeça deles. Uma vez eu estava dando aula de paint para a dona Regina e ela ficou maravilhada, com os olhos brilhando. Eu perguntei o que era e ela respondeu: A borracha não borra!”, conta sorrindo a jornalista.

Diva Legnalioli, 62 anos, é uma das alunas do Oldnet que fazem parte da “turma avançada”, como brinca a coordenadora Izabel. Curiosamente, ela e as outras quatro integrantes de sua turma tornaram-se expert em internet. Enquanto a maioria dos alunos se sente feliz em aprender apenas a enviar e-mails, conversar pelo MSN e mandar scraps no Orkut, dona Diva e sua turma fazem downloads de músicas, gravam CDs, se comunicam pelo Skype e pesquisam sobre seus países preferidos no Google.

“Sempre fui resistente a mexer no computador. Achava que nunca ia aprender e tinha pavor de apertar alguma tecla e estragar a máquina! Conheci o Oldnet por meio de uma amiga que já freqüentava e adorei o projeto logo de cara. Hoje navego por puro prazer e posso dizer que isso me salvou de uma depressão”, conta dona Diva, que já até comprou um notebook.

Veja o depoimento da aluna Gildê de Castro:

Para a estudante Gabriella Giggrio, 19 anos, o mais difícil na relação com o idoso é lidar com a teimosia. “Eles acham que nunca vão conseguir aprender, ficam com medo. Mas não entendo porque eles pensam assim, pois a maioria são muito bons, aprendem rápido, mesmo com toda a dificuldade motora, problemas de visão e concentração. O mais difícil pra eles no começo é lidar com o mouse e a barra de rolagem”, conta a estudante, que já era aluna de outros projetos do Aprendiz e no Oldnet tornou-se professora. Hoje, ganha seu próprio dinheirinho dando aulas particulares para idosos que não podem sair de casa por algum motivo de saúde.

Para participar do projeto, basta inscrever-se no site www.oldnet.com.br. As aulas começam em fevereiro de 2009 e devido a grande lista de espera, é possível esperar até 2 anos para integrar o programa. Os encontros acontecem uma vez por semana e duram cerca de uma hora. Já os jovens interessados em ser voluntários, devem procurar a coordenação da ONG ou inscrever-se por meio de seu próprio colégio. É preciso ter noções mínimas de computação e disponibilidade para dedicar 3 horas por semana ao programa. No dia dos encontros, durante a primeira hora, os voluntários preparam a aula do dia junto com o coordenador pedagogo. Em seguida passam uma hora ensinando os alunos e depois avaliam como foi a aula do dia, o que pode melhorar e o que já está legal.

“Enquanto os idosos participam da inclusão digital e se livram do medo da tecnologia, os jovens aprendem a desenvolver responsabilidade e a aprimorar sua expressão, tanto na fala como na escrita. Todos saem ganhando com isso”, comenta sorridente Izabel, feliz com o belo trabalhou que escolheu para desenvolver.


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Oldnet: ONG integra jovens e idosos por meio do computador