O filme O Cônsul de Bordeaux, que chegou às telas em 2011, procura fazer justiça à figura do diplomata luso Aristides de Sousa Mendes, um herói marginalizado em seu país e pouco conhecido no resto do mundo, mas que salvou 34 mil pessoas do nazismo com a emissão de vistos para os perseguidos fugirem da França ocupada.
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A história de Sousa Mendes é muito menos popular que a de Oskar Schindler, apesar de o diplomata – também conhecido como o “Schindler português” – ter “salvado” muito mais pessoas que o empresário alemão, imortalizado no cinema por Steven Spielberg.
Este “esquecimento histórico” se deve à vontade dos próprios foragidos do Holocausto de deixar para trás esse traumático passado, mas também ao desprestígio e à defenestração que Sousa Mendes sofreu por parte do regime de António de Oliveira Salazar, explicou à Agência Efe o diretor do filme, João Correa.
Enquanto Schindler contratou pouco mais de mil judeus para trabalhar em sua fábrica e, por consequência, fugir das autoridades nazistas, Sousa Mendes aproveitou seu cargo de cônsul português em Bordeaux (França) para conceder 34 mil vistos – 10 mil somente para judeus – às pessoas que fugiam das forças de ocupação.
Os sobreviventes que escaparam da França e seus descendentes “não queriam reviver o passado, mas olhar para frente”, comentou Correa, que chegou a entrar em contato com alguns deles para preparar o filme.
Grande parte dos judeus que ganharam um visto de Sousa Mendes emigrou aos Estados Unidos e, outros, terminaram instalados em Israel. Aliás, em 1966, este país concedeu a Sousa Mendes o título de “Justo entre as Nações” em reconhecimento ao seu trabalho.
A heróica história de Sousa Mendes, no entanto, não teve um final feliz. O diplomata foi privado de seu cargo e de sua aposentadoria, chegou à miséria e morreu em um hospital franciscano de Lisboa viúvo e longe de seus filhos, que também foram morar nos EUA.
“Esse foi o preço que ele pagou por desobedecer o regime de Salazar”, afirmou o diretor do filme, que acrescentou que “ainda hoje há pessoas em Portugal que criticam esse herói pelo fato dele não ter sido ‘fiel’ ao seu país”.
Entre seus críticos, também há aqueles que lhe acusam de “se aproveitar” dos judeus e “lucrar” com a venda de vistos, algo que Correa qualifica como um “grande absurdo”, já que nesse caso Sousa Mendes “deveria ter ficado milionário, sendo que na realidade ele morreu na pobreza”.
O diplomata, cristão praticante e de formação humanista, descumpriu a lei portuguesa que impedia a entrada de “pessoas indesejáveis” no país ao conceder 34 mil vistos aos judeus e refugiados opositores ao nazismo, todos eles em um prazo de apenas dez dias e em pleno avanço do III Reich.
“O Cônsul de Bordeaux não é um filme sobre os anos 1940, mas sobre a memória e sobre o agora”, declarou Correa.
A narrativa do longa é iniciada em um povoado do norte de Portugal e muito próximo à Galícia no ano de 2008, quando uma jovem jornalista portuguesa entrevista um velho diretor de orquestra chamado Francisco de Almeida.
A jornalista descobre que o músico de sobrenome luso nasceu na realidade na Polônia e mudou de nome após escapar da invasão nazista de 1940 em direção à Venezuela, via Bordeaux e com a ajuda do cônsul português.
A partir daí, o espectador, que é conduzido ao contexto da Segunda Guerra Mundial, se depara com a figura de Sousa Mendes “através dos olhos de um jovem judeu de 14 anos” (o próprio Francisco de Almeida), detalhou o diretor.
O filme, que já pôde ser visto nos festivais franceses de Cannes e Biarritz, também será projetado em todos os museus do Holocausto do mundo. Em Portugal, o O Cônsul de Bordeaux só estreará no próximo dia 8 de novembro, enquanto seus produtores ainda negociam sua distribuição na Espanha, França e Brasil, entre outros países.
Confira o trailer de O Cônsul de Bordeaux: