“Sou avesso a homenagens, mas acredito que algumas causas não podem deixar de ser apoiadas. Estou muito honrado e agradecido pela lembrança”. Foi assim que Ricardo Darín, ator mais representativo do elogiado cinema argentino, se apresentou à imprensa brasileira na tarde de sexta-feira (19). Ele está no Brasil a convite da Mostra Cinema e Direitos Humanos na América Latina, que homenageia o ator nesta 5ª edição.

Seu mais novo trabalho, Abutres (Carancho), dirigido por Pablo Trapero, abriu a Mostra na noite de ontem (19) e é o destaque do festival. Trata-se de um filme de gênero com temática social, no qual o ator interpreta um advogado que procura vítimas de acidentes de trânsito com o intuito de conseguir indenizações milionárias das seguradoras e obter grandes comissões. Esses advogados são chamados na Argentina de caranchos (abutres, em português) e são os conflitos vividos por um deles que Darín interpreta, ao lado da bela Martina Gusman – mulher de Trapero.

“O trabalho do Trapero mostra a luta dos seres anônimos, escondidos em determinados oficios. No cinema, é preciso ser natural ao abordar esses temas sociais. Quando falamos de direitos humanos, parece que estamos mandando uma mensagem àqueles que não compartilham das mesmas ideias. Se somos incisivos demais, o que estamos fazendo é segregar. O que queremos é ser compreendidos e pra isso é preciso sensibilidade. A naturalidade da abordagem dá mais oportunidade de ser ouvido, de ser notado”, disse Darín.

Sensibilidade e senso de humor, por sinal, são as marcas registradas do ator. Ao ser perguntado sobre qual critério usa para escolher seus filmes, Darín ganha a plateia ao responder que antes de tudo, é preciso sentir a história pelo estômago e faz a sala inteira rir ao dizer que não seria o ator que é se não fosse seu par de olhos azuis. “Com esse nariz e com esses dentes, se não fossem esses olhos vocês jamais estariam aqui me perguntando sobre a minha beleza”. E afirmou ainda que grande parte do seu senso de humor,

Nove Rainhas e O Segredo dos seus Olhos

Ricardo Darín tornou-se conhecido mundialmente em 2000, com o filme Nove Rainhas (foto abaixo), dirigido por Fabián Bielinsky. Além dele, O Filho da Noiva (2001), de Juan José Campanella, também troux reconhecimento. “Fiz sucesso primeiro fora pra depois ser reconhecido no meu país. Dei sorte com os espanhóis. Fiz vários filmes na Argentina em dez anos, só que na Espanha eles estrearam um atrás do outro durante cinco anos. Parecia que eu emendava um filme no outro e isso despertou interesse do público”.

Já ao falar sobre O Segredo dos seus Olhos (2009) – outra parceria com Campanella – que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, Darín deixa claro seu zero grau de deslumbramento ao exaltar as qualidades dos concorrentes e dizer que não concorda com parte dos prêmios que o filme ganhou. “Não podemos ver o Oscar como uma verdade inquestionável. Na minha opinião, o grande trunfo do Segredo dos seus Olhos é o senso de humor. Apesar de todo o lado romântico e da temática social, é o humor que faz a diferença. É um humor particular argentino, similar ao dos brasileiros de rir de si mesmo”.

Durante o bate-papo de pouco mais de 1 hora, o ator também falou de seu desprezo em relação aos remakes americanos – Abutres e O Segredo dos seus Olhos já foram escalados para ganhar versões. “Acho que o cinema americano passa por uma grande crise de criatividade. Não vejo sentido em fazer um remake, contar uma história que já foi contada. Só se o objetivo for comercial, pelo lucro, mas isso não me interessa. Não compraria os direitos de Taxi Driver para refilmá-lo, por exemplo”.

A potência argentina

Sobre a força do cinema argentino e sua contribuição para o sucesso, Darín destacou o trabalho de vários diretores (incluindo Trapero e Campanella) e humildemente disse que acredita fazer parte desse grupo que ganhou grande respeito. Porém, fez uma ressalva: “Seria interessante que o Brasil unisse forças com a Argentina e outros países latinos para criar uma identidade para o mundo”, avaliou. 

E quando perguntado sobre a maioria dos filmes argentinos de sucesso ter seu nome no elenco e a responsabilidade que isso traz para ele, disse que foi “afortunado” por encontrar várias pessoas que o incentivaram e o fizeram crescer como ator. “Sou uma pessoa de muita sorte. Estou ciente que eles (diretores e produtores) confiaram em mim. Depois disso, passei a procurar novo desafios e cheguei onde estou agora”.

Ele falou também sobre diretores com os quais gostaria de trabalhar – “trabalharia com o Woody Allen, mas amigos meus já foram dirigidos por ele e disseram que ele deixa o elenco solto, que 50% do seu talento está em escolher os atores certos” – e revelou que adoraria trabalhar com Walter Salles. “Temos um projeto já, espero que uma hora aconteça”. Almodóvar, porém, não faz parte de sua lista de preferidos. “Ele é muito briguento, acho que não nos daríamos bem”. Sobre seus filmes brasileiros preferidos, foi direto: “Cidade de Deus e Pixote“. “Fiquei impressionado quando assisti a primeira vez o filme (do Fernando Meirelles)”, acrescentou.

No fim da tarde deste sábado (20) Darín participa de um bate-papo com o público após a sessão de Abutres, às 17h, na Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207- SP. Fone: 11 3512-6111. Para mais informações sobre a Mostra e sua programação, consulte o site oficial AQUI.  

Assista ao trailer de Abutres:


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Em passagem pelo Brasil, Ricardo Darín fala sobre direitos humanos, olhos azuis e projeto com Walter Salles

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