“Não quero viver da forma como a imprensa diz que um artista de sucesso deveria viver”. Foi com esta frase de efeito que o rapper e produtor Will.i.am abriu neste domingo sua crítica à indústria musical durante a apresentação de um projeto de recuperação de jovens marginais.

William James Adams, nome do ex-integrante do Black Eyed Peas, participou de uma das conferências do Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical (Midem), realizado em Cannes, na França, e que é o maior evento mundial de empresas ligadas ao ramo da música. O multifacetado artista abordou um aspecto que, segundo ele, o setor musical esquece em sua impetuosa busca por números econômicos estrondosos: a filantropia.

“Trans4m” é o último projeto humanitário de Will.i.am, que previamente havia criado a fundação “I Am Angel” para ajudar vítimas de desastres naturais.

“Por que esperar um furacão ou um tsunami para que a indústria musical lance mão de todo seu sucesso e o foque em uma eventualidade? Eu queria que ‘I Am Angel’ ajudasse a resolver situações urgentes e cotidianas sobre as quais a imprensa não fala”, explicou o artista em uma conversa via Skype.

Há dois anos ele começou a ajudar, através do “Trans4m”, 60 jovens de seu bairro natal, o Boyle Heights, na periferia de Los Angeles. Atualmente, o número é de 120, e seu plano é fazer com que em 10 anos sejam 600 os jovens que tenham passado por seu programa educativo, no qual os incentiva a “fazer coisas que nunca achavam que seriam capazes de fazer”.

O recente produtor de Britney Spears e Miley Cyrus impeliu outros artistas a seguir essa atitude proativa, assim como a grande indústria, à qual acusou de ser “muito preguiçosa” e de ter estagnado em suas aspirações quando dispunha de todos os meios à sua disposição.

“Deveríamos ter sido Facebook antes que outros, deveríamos ter sido Twitter. Poderíamos ter sido inclusive a Apple!”, exclamou, se referindo à proprietária da maior plataforma de download digital legal, o iTunes, com o qual não parece estar muito satisfeito.

Sobre este assunto, o artista disse que a indústria musical o “entristece”.

“Estamos em um estado lamentável, no qual os artistas estão vendendo… Para ser honestos, não sei sequer se estamos vendendo. Downloads de 99 centavos, isso é o que estamos vendendo”, disse Will.i.am, que obtém mais lucro com sua participação em uma empresa de hardware musical – The Beats, junto com o rapper Dr . Dre – que com os downloads de “I gotta feeling”, música mais baixada da história da internet.

“Faço de tudo para não ficar obsessivo com a desilusão que a indústria musical atual me provoca. Talvez esteja buscando algo que provavelmente nunca alcançarei, mas já passei por isso no passado quando vagava pelo gueto atrás do sonho de montar uma banda”, disse.


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Will.i.am: 'A indústria musical atual provoca desilusão'