Tears for Fears em São Paulo


Créditos: Taiz Dering

O Tears For Fears bem que tentou com afinco, mas não conseguiu passar de um baile da saudade para o público nostálgico do Credicard Hall nesta quinta-feira (dia 6), em São Paulo. A banda de Roland Orzabal (vocal, guitarra) e Curt Smith (vocal, baixo) reproduziu suas canções com entrosamento e qualidade de som impecáveis até mesmo nas canções mais novas, mas grande parte da plateia só estava ali para ouvir hits como Shout, Head Over Heels e Sowing The Seeds Of Love.

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O grupo subiu ao palco às 22h, brindando o público logo de cara com um de seus maiores clássicos: Everybody Wants To Rule The World. Impressionante como a voz de Curt Smith estava bem fiel à gravação original; qualquer desavisado poderia sugerir que a banda estava fazendo playback – mas não foi o caso. Em seguida, veio Secret World, que incluiu um pequeno trecho da letra de Let Em In, de Paul McCartney. A referência faz parte do contexto do disco mais recente do grupo, Everybody Loves a Happy Ending (2004), que segundo Orzabal, foi bastante influenciado pelo trabalho solo do ex-beatle.

Sowing The Seeds Of Love derramou mais uma boa dose de nostalgia para o público do Credicard Hall. Ao final, Orzabal declamou em português “estamos felizes de estar aqui esta noite com nossos amigos do Brasil. Estivemos aqui há 15 anos, foi fantástico. Boa noite, São Paulo”.

A quase beatlemaníaca Everybody Loves a Happy Ending se mostrou como mais um grande momento do show. Apresentando a dose certa de psicodelia, a música poderia facilmente ser uma das faixas do disco Ram, de Paul McCartney. Mas ela passou quase despercebida pelo público que estava lá para ouvir somente os hits.

Ao terminar a canção, Smith foi ao microfone e pediu desculpas por não ser tão bom no português como Orzabal. O baixista se limitou apenas a mandar um “obrigado” em português e depois anunciou Mad World – outra que foi bem recebida pelo público.

Se o Tears For Fears cometeu algum tropeço em seu setlist, foi a versão desnecessária de Billie Jean, de Michael Jackson. A banda apresentou uma versão bem arrastada do clássico do Rei do Pop; começou com algumas nuances de blues, mas no geral foi um momento descartável. Seria bem melhor ter incluído alguma canção da fase em que Curt Smith se afastou do grupo, como Raoul And The Kings of Spain ou God’s Mistake. Mas deste período, o grupo tocou apenas o hit Break It Down Again.

Ao longo do show, ficou subentendido que Smith não está em sua melhor forma: o backing vocal Michael Wainwright assumiu os vocais de algumas faixas, talvez para poupar a voz de Smith por conta da maratona de shows no Brasil. Mas Wainwright revelou-se como uma bela arma secreta; o cantor consegue reproduzir com perfeição os timbres de Orzabal e Smith e não deixou cair o nível da apresentação. Seu alcance vocal também mostrou-se muito bom ao interpretar a voz feminina do clássico Woman In Chains.

Em suma, o Tears For Fears pode ter feito um show que primou pouco pela espontaneidade (o repertório é praticamente igual às últimas apresentações na América Latina) mas mostrou que tem canções interessantes além dos hits manjados de quase trinta anos atrás. Porém, quando as luzes do Credicard Hall se acenderam em músicas como Head Over Heels e Shout, ficou claro que a grande maioria do público presente estava mais preocupada em se divertir cantando suas próprias interpretações das letras e dançar com as mãozinhas para o alto, no melhor (pior) estilo David Guetta.

Setlist:

01 – Everybody Wants to Rule the World
02 – Secret World
03 – Sowing the Seeds of Love
04 – Change
05 – Call Me Mellow
06 – Everybody Loves a Happy Ending
07 – Mad World
08 – Memories Fade
09 – Closest Thing to Heaven
10 – Billie Jean (Michael Jackson cover)
11 – Advice for the Young at Heart
12 – Floating Down the River
13 – Badman’s Song
14 – Pale Shelter
15 – Break It Down Again
16 – Head Over Heels

Bis:
17 – Woman In Chains
18 – Shout 


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Tears For Fears não supera 'baile da saudade' em São Paulo

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