Convidada especial da terceira edição do Música em Trancoso, a cantora norte-americana Jane Monheit subiu ao palco do festival na noite de terça-feira (18) para dar voz à noite jazz e, em seu posto de diva, cantou como ninguém, embora o show não tenha empolgado sem a esperada “canja” de seu ídolo declarado Ivan Lins.

Se no início da carreira, com seus dois primeiros álbuns arrebatadores – Never Never Land e Come Dream with Me -, a cantora foi premiada e apontada como uma grande revelação, hoje ela é umas das grandes e, incontestavelmente, provou isso no show.

No entanto, uma exibição intimista para uma plateia de 1.100 lugares completamente lotada pode se mostrar um tanto quanto contraditória, assim como um artista cantar “mutcho bem” em português e falar com a platéia em inglês. Mas, trata-se de Jane Monheit, neste caso, a cantora certa no palco errado.

Dona de uma voz cristalina, que transita entre o grave e o agudo sem esforço, Monheit segurou bem a plateia amparada em sua capacidade vocal e nas velhas músicas do ídolo Ivan Lins, a começar pela do Criança Esperança (“Depende de Nós”), versão que, por sinal, não ficou ruim.

Mesmo com um repertório que misturava clássicas, releituras e algumas poucas de seu nono e último álbum, “The Heart Of Matter” (2013), o que agradava mais eram as versões em português, caso de “Samba do Avião” (Tom Jobim), “A Gente Merece Ser Feliz” (Ivan Lins) e, no “bis”, “Começar De Novo” (Ivan Lins).

“A música brasileira é a melhor do mundo. Sempre canto músicas brasileiras por onde passo”, disse a americana durante o show. A resposta calorosa do público pareceu ter emocionado a artista, que declarou sua paixão aos ritmos tupiniquins ainda em 2007 com o álbum “Surrender”.

Acompanhada por um trio de peso, com Michael Kanan (piano), Neal Miner (baixo) e o marido Rick Montalbano (bateria), a diva do jazz também fez questão de exaltar o calor baiano – “temos sorte em estarmos aqui”, em livre tradução -, tendo em vista que, para quem veio do frio e da neve de Nova York, sua praia é outra.

Já Ivan Lins, que voltará a participar do festival na próxima quinta-feira, na Jam Session de César Camargo Mariano – com quem cantou na última segunda – é um ídolo declarado de Monheit e, inclusive, chegou a confirmar sua participação na noite, além de explicar a origem desta amizade.

“Eu a conheci durante uma série de seis dias de shows, na qual fazia duas apresentações por dia. Ela foi em todas e, nas últimas, após saber quem era, tive que convidá-la para cantar comigo”, revelou o compositor, que levantou o teatro na segunda-feira, dia da bossa do festival, com a faixa “Ai Ai Ai Ai Ai”, tema da novela Mulheres de Areia.

“Maaaaaaass!”, como diz a letra da canção citada, ele não apareceu, e o encontro, que poderia ser memorável, também não ocorreu. O fato é que, independente disso, a noite em que Jane Monheit cantou em Trancoso continuará sendo inesquecível, principalmente para quem não conhecia o poder da voz da cantora americana. 


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Sem "canja" de Ivan Lins, Jane Monheit canta, mas não encanta em Trancoso

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