O cantor portorriquenho Ricky Martin revela sua luta pessoal que durante anos travou contra si mesmo para reconhecer sua homossexualidade em Yo (Eu, em tradução livre para o português), livro autobiográfico que lançou nesta terça-feira, sete meses após assumir ao público que é gay.

“Desde minhas lembranças mais remotas, sinto uma atração muito forte pelos homens, e embora possa dizer que também cheguei a sentir atração e química por mulheres, é o sexo masculino que no final das contas desperta meu instinto animal”, escreve o artista no nono capítulo.

O interesse pela obra do cantor fez com que alguns fãs esperassem de madrugada o centro comercial de San Juan se abrir para comprá-lo.

Se aceitando

Enrique José Martín Morales, “Kiki” para os íntimos, retrata em Yo sua relação familiar, sua experiência na boy band Menudo, a fase no México e sua luta pelos latinos nos Estados Unidos, mas é a batalha pessoal para se aceitar que toma grande parte das 292 páginas.

“Já não podia viver mais sem encarar a minha verdade. Por isso senti a necessidade de acabar com um segredo que guardava durante muitos anos: tomei a decisão de revelar ao mundo que aceito a minha homossexualidade e celebro este presente que a vida me deu”, diz na introdução referindo-se ao que publicou na internet no dia 29 de março.

Ricky Martin deixa claro, no entanto, que perdeu a virgindade com uma mulher enquanto fazia parte dos Menudos, e que se relacionou com muitas outras. Durante esta fase, chegou a ser considerado o maior “conquistador” de todos da banda.

O ícone latino de 38 anos revelou que após assumir ser gay, se sente mais forte e livre que nunca, em uma introdução na qual destaca como marcos de sua vida a etapa de Menudos, o sucesso da música Livin La Vida Loca, sua primeira viagem à Índia e o nascimento de seus filhos Matteo e Valentino.

Pressão para pegar mulher

Na adolescência que coincide com a boy band, faz a primeira revelação de caráter sexual no capítulo “De Menino a Homem”, quando explica sem detalhes que teve sua primeira relação com uma mulher pressionado pelos colegas da banda musical.

O astro assegura que nessa etapa descobriu “a sensação tão intensa que envolve o sexo entre um homem e uma mulher”, e continuou experimentando enquanto viveu no México por cinco anos. Nesta última fase, ele destaca uma mulher à qual chama de sua “Coco Chanel”, personagem que a imprensa portorriquenha identifica como a apresentadora mexicana Rebecca de Alba.

É no capítulo “Ao Encontro do Destino” onde, após afirmar que saiu com todas as mulheres que cruzaram o seu caminho, fossem “solteiras, casadas, viúvas ou divorciadas”, que reconheceu, sem grandes detalhes, que teve relações com homens.

“No decorrer desses anos, também tive alguns encontros com homens, claro, isso também fez parte da minha vivência, mas nunca foram relações que perdurassem ou que marcassem minha vida significativamente”, relata Martin.

Ele disse ter mantido um caso com um locutor de rádio de Los Angeles e chegou a pensar em largar tudo para viverem juntos em qualquer lugar do mundo.

A relação não deu certo, e acabou gerando uma crise de identidade que o levou a decidir fazer uma viagem à Índia.

O ex-Menudo enfatiza em Yo a luta de anos em defesa dos latinos nos EUA, após contar como discriminaram seu sotaque e explicar o pouco conhecimento que ainda havia nos EUA na década de 90 sobre a América Latina e suas particularidades nacionais.

O cantor fala no capítulo “Paternidade” sobre o processo que levou ao nascimento de Matteo e Valentino, por meio de uma “barriga de aluguel”.

O livro termina com um trecho intitulado “Meu Momento”, no qual confessa: “no fundo, sempre soube que sou gay, no entanto, passei anos e anos tratando de esconder isso de mim mesmo”.


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Ricky Martin revela em biografia sua luta pessoal ao assumir homossexualidade