Palco Eletrônica do Rock in Rio


Créditos: Claudia Assef

Saí de São Paulo rumo ao Rio de Janeiro domingo à noite com a missão de descobrir se, afinal, o tal palco Eletrônica do Rock in Rio estava ou não funcionando. Sim, porque apesar da bela programação anunciada, com nomes realmente relevantes do Brasil e do mundo (Masters at Work, François K, Gui Boratto, Joe Claussel, Luciano, Zegon, Renato Ratier e, xodó da minha lista, Dimitri from Paris), não vi uma linha publicada por aí falando de alguma das apresentações do palco. Mistério.

Peguei um voo às 18h15 em Congonhas levando à tiracolo a madrinha da minha filha, Bruna, e a Maia, ainda na minha barrigona de seis meses. Voo no horário, bolsas munidas de Kleenex pra usar como papel higiênico. A aventura estava começando.

Chegamos ao Santos Dumont antes do horário previsto e lá estava ele, o busão do rock (ou um nome tipo assim), a linha oficial de ônibus que, de meia em meia hora, partia do aeroporto rumo à Cidade do Rock. Por R$ 35, entramos no confortável bumba, com ar-condicionado e um cheirinho reconfortante de Gleide (pra quem esperava um misto de cecê e cerveja). Até aqui, tudo perfeito!

Chegando ao estacionamento dos ônibus, a primeira amostra do que ficou carimbado pra mim como um dos grandes problemas do festival: a total falta de informação dos funcionários. Diante daquele terreno enorme, com vista pra roda gigante e pro suntuoso palco Mundo, ficamos felizes e saltitantes, talvez com uns dez anos a menos nas nossas carcaças de 30 e lá vai… Depois de tirar as primeiras – e empolgadíssimas – fotos nos demos conta de que não havia por ali nenhuma informação sobre uma possível entrada para o Rock in Rio.

Caminhamos pela lateral do evento, ladeando a enorme grade que separava a pipoca dos pagantes. Enquanto isso, a baiana Pitty tocava seu rock feminino lá dentro, empolgando uma galerinha duranga, que fazia a festa ali do lado de fora, se refestelando com garrafas de vodca e vinho de quinta categoria. Se eu tivesse mais uns dias de festival, ficaria um tempo observando um grupo de garotas adolescentes de cabelos das mais diversas cores, que bebiam de uma mesma garrafa e cantavam do alto de seus pulmões “Diz que você me adora/Que me acha foda…”.

Finalmente encontramos um cara todo paramentado de credenciais, rádio, enfim, uma pessoa oficialmente do festival. “Onde é a entrada da VIP?’. O moço nos apontou uma passarela e pra lá fomos.

A passagem sobre a avenida, sem nenhum cuidado visual, era um corredor branco, com alguns buracos remendados com fita adesiva, que escondia o oásis pra onde estávamos indo. A entrada pra área VIP era um tanto surreal, com uma fileira de funcionários manuseando máquinas que mais pareciam guilhotinas do tempo da Queda da Bastilha, que serviam para prender a pulseirinha de acesso. Ao final deste processo, duas moças bonitas te esperavam sorridentes com tesouras nas mãos, para cortar a rebarba, aquele trocinho que fica sobrando das pulseiras. Fiquei imaginando aquelas meninas se arrumando pra sair e tentando explicar pra suas mães o que afinal faziam no Rock in Rio.

Enfim chegamos ao paraíso. Uma montanha de comidas e bebidas nos esperava no andar térreo da tal área VIP, onde vira e mexe notávamos um fuá de paparazzi atrás de VIPs realmente VIPs, como a bela Juliana Paes, coitada, que achou que conseguiria ver um show de rock em paz. Ah, mas quem eu procurei mesmo foi a Christiane Torloni. Pena que ela não estava lá, apesar de ser dia de rock!

No segundo andar do puxadinho VIP uma vista incrível de toda a Cidade do Rock, que foi providencial para quem estava chegando no final da festa. Como o show que estava por começar ali no palco Mundo não me interessava nem um pouco, fomos cuidar de coisas mais mundanas, como comprar cacarecos nas lojinhas oficiais e entender como sair dali, de ônibus, algumas horas mais tarde. Pergunta daqui, pergunta dali. Não, ninguém sabia de onde saía o tal bumba da Viação 1001 com destino a São Paulo. Deixamos pra resolver depois, porque o palco Eletrônico estava na hora de abrir.

Comecei a entender o porquê de não ver nada, nenhum resenha, sobre aquele palco depois da caminhada que fizemos pra chegar até lá. O lugar era afastado do centro nervoso do Rock in Rio e com um agravante: para chegar até lá era preciso vencer a muvuca da Rock Street, com suas dezenas de lojas de comida e quiosques de marcas promovendo suas ações de marketing que deixavam o trânsito por ali praticamente impenetrável.

Quando finalmente conseguimos chegar ao palco, a “diva de Ibiza” (not) Nalaya Brown começava seu set de hits bate-cabelo, acompanhada do DJ Marcelo Garcia, irmão do apresentador Marcio Garcia. Preferi andar aquele longo e muvucado caminho de volta pra VIP e comer alguma coisa.
De volta pro palco Eletrônica (perdemos a apresentação do talentoso Boss in Drama enquanto mandávamos ver um prato de risoto), deu tempo de ver o finalzinho do set de Rodrigo Penna, criador do Bailinho, fazendo seu pop dançante e feliz. Daí recebo o seguinte torpedo de um amigo que trabalha na produção do Rock in Rio: “vem aqui no backstage conhecer o Dimitri”. Era pra ver o DJ francês que estávamos ali, então claro que fomos.

Com seu look tradicional que fica entre mágico do circo Vostok e pimp, Dimitri falou rapidamente sobre seu set: “Nunca sei o que vou tocar. Sempre decido na hora”. Então não usa mais vinil, eu perguntei. E ele: “Uso o computador. Mas é música mesmo assim, né?”.

Enquanto isso o carioca Memê, espécie de embaixador da house fluminense, tocava um set animado, bem costurado, no limite do pop. Deixou o palco pronto para o grupo Hercules & Love Affair, que na noite anterior fizera uma apresentação quentíssima em São Paulo.

Assim que Andy Buttler e CIA pisaram no palco, as gotinhas de chuva que antes eram respingo, se intensificavam. O chuvisco virou chuva forte enquanto a vocalista Kim Ann Foxmann mandava ver Athena, hit do primeiro disco do coletivo, de 2008. Quis muito ficar ali, dançando na chuva, como alguns guerreiros que nem deram moral pra água que caía, mas pensei na bebezinha na minha barriga e fui embora pro puxadinho seco atrás do palco.

Ouvi dali o resto do show do Hercules, impecável como o da noite anterior em São Paulo. Torci muito pelo fim da chuva, mas que nada, só aumentava. Quando Dimitri foi pro palco, chovia forte e, lá do lado oposto ao do palco Eletrônica, no palco Mundo, um Axl Rose inchado e vestindo uma capa amarela que o fazia parecer o desenho Spy vs Spy começava a atacar também.

Pouquíssimos gatos pingados – e encharcados – ficaram ali para ouvir o delicioso e dinâmico set do francês, que abriu com a muito adequada Here Comes The Rain Again (Eurythmics) e depois mixou de Michael Jackson (Don’t Stop Till You Get Enough), Daft Punk (Around The World) e Ashford & Simpson (Ain’t No Mountain High Enough) a Dan Hartman (Instant Replay) e Jackson Five (I Want You Back). Um set de house, disco e funk chiquérrimo garanto que aconteceu, apesar de não ter quase ninguém lá pra provar o contrário.

Saímos correndo perto das quatro da manhã, ainda debaixo de chuva no finalzinho do set de Dimitri, em busca do ônibus que nos levaria pra rodoviária, enquanto do palco Mundo ecoava Welcome To The Jungle, trilha sonora pefeita para a nossa aventura de volta pra São Paulo, que estava só começando. Mas esta é outra longa história.      


int(1)

Relegado no Rock in Rio, palco Eletrônico teve bons momentos. Veja como foi a última noite

Sair da versão mobile