Marco Antonio Ribas, o Marku Ribas, morreu aos 65 anos  no último sábado (6). Ele foi cantor, compositor, percussionista e ator. Com uma vasta discografia, destacam-se 4 Loas (2010), Mente e coração (80), Cavalo das alegrias (79), Barrankero (78) e Underground (76). O mineiro, de Pirapora, também gravou com os Rolling Stones, conheceu Bob Marley e James Brown e atuou em filmes como Quatre nuit d’une revêur, de Robert Bresson (1970), Batismo de Sangue (2006) e Chega de Saudade (2007). 

Leia o relato de Américo Rodrigues, amigo, parceiro musical, baterista e fundador da banda Os Opalas para o Virgula Música.

Marku Ribas foi um daqueles seres intensos e inquietos, que despertava a felicidade e a criatividade dos que, com ele se envolviam. Foi assim com o meu filho, que ficou impressionado ao saber que o Marku não sabia ler música. Ele me perguntou certa vez: como que ele faz essas músicas tão boas e complicadas sem saber da escrita?!

Em uma ocasião, meu filho recebeu de presente do Marku um apito indígena, que para produzir som deveria ser soprado entre o nariz e a boca. Ele passou o dia inteiro tentando tirar som e não conseguiu. Quando conseguiu, ficou muito emocionado, a partir daí começou a tocar flauta, tirar melodias no teclado, tocar bateria e vai vendo o moleque…

Passeávamos pela (rua) Teodoro (Sampaio), pai e filho, eu pela manutenção da vida de um baterista comprando baquetas, pratos, peças quebradas e no final do dia passávamos na casa do Marku. Tudo sempre limpo e cheirando a incenso, ali a gente entrava em um ambiente musical e criativo.

Ele não parava de criar um instante. Isso me enobrecia ao lado da minha cria, eu com minha vida artística e meu filho vivenciando esse aprendizado, exposto a novas descobertas da vida e da arte. Uma certeza: esse artista talentoso deixou um grande vazio na música brasileira.

Marku Ribas e Os Opalas… Bom, Marku está completamente envolvido com ascensão dos Opalas na cena paulistana e nacional. Marku fez parte do primeiro disco com a música Curumim, a qual sugeri à banda. Em minha opinião, uma das melhores músicas do disco. Fala de um ritual de casamento indígena e de uma festa na floresta.

Lembro do dia em que gravamos essa música, ele entrou em um momento espiritual e incorporou um tipo pajé. Foi o máximo, ele deixou ali efeitos de vozes e gritos da floresta. A música agora tem cor e imagem. Brasilidade rolando em toda a sua existência, Marku era o único com quem eu podia conversar sobre estas questões do brasileiro e sua diversidade cultural e musical.

Somos filhos da mescla cultural brasileira não podemos ser outra coisa, buscamos cada vez mais a nossa essência. Somos o samba, soul, baião, reggae, jazz, batuque. Somos aquilo que nos oferecem sem perder as nossas raízes.

Sou antropófago, gosto de me alimentar de todas as culturas, e extrair o melhor delas para nutrir a minha obra. Agora, em um momento autoral da banda, abrimos uma única exceção e gravamos uma composição do Marku. Isso porque pedi a ele uma música que nunca fosse gravada.

O Marku veio com mais de cem músicas. Passamos o dia inteiro ouvindo e ele tocando uma por uma. Escolhi Chocolate e Fel, que está no nosso disco autoral, isso não tem nem como agradecer, nossa missão é levar essa música ao máximo e celebrar sempre o quão grande foi o carinho que o Marku tinha por nós e pela nossa carreira.

Com isso a gente passa a entender o trabalho de composição, criação de atalhos rítmicos e sons de expressão e todo o colorido da música. O Marku foi um baita parceiro dos Opalas, não sei nem como agradecer tudo que ele fez pela banda e pelos que passaram pela banda. O Marku Ribas expressava a arte e a música de uma maneira orgânica e humana, sem subterfúgios, verdadeira. 

Veja Zamba Ben com Os Opalas e Marku Ribas




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Parceiro e amigo de Marku Ribas lembra convivência com autor de 'Zamba Ben'