Bruna Prado

Com seu segundo álbum O Desafino pede Passagem, previsto para o segundo semestre de 2018, Bruna Prado faz show de pré-estreia no dia 28 no teatro do Sesc Santana, dentro do Festival Novas Rotações.

A cantora e compositora se apresenta na mesma noite que São Yantó (ex Lineker, que recentemente trocou seu nome de batismo para o nome artístico devido as confusões com a cantora Liniker), que também divide algumas músicas ao lado da cantora.

Ela lança na semana que vem o clipe de Pouso da Cajaíba, que vem para fechar uma trilogia de três vídeos de canções da artista, completada por “Quem precisa de uma mulher?” (lançado em março de 2017) e “Doutor” (maio de 2017).

Acompanhando uma pesquisa de Doutorado em Performance Musical, que está sendo realizada na Universidade estadual de Campinas e que aborda o tema da relação entre corpo, voz e feminino no meio musical da MPB e as relações de gênero e poder entre cantoras-intérpretes e músicos instrumentistas; este novo trabalho de Bruna Prado constrói, em canções e imagens, uma narrativa que aborda a separação entre corpo e mente, natureza e humanidade

O que está rolando de mais interessante hoje na música brasileira, na sua opinião?
Bruna Prado – Há pouco tempo eu me sentia nostálgica e pessimista com relação à música brasileira, pois acreditava que a canção havia morrido. Era muito ligada afetivamente à geração de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Chico Buarque – na verdade ainda sou.

Pouco a pouco, no entanto, fui entrando em contato com a nova geração de músicos, me acostumando a esta nova sonoridade que mescla a influência dessa MPB com as tecnologias digitais, que incluem o uso de efeitos eletrônicos e criação de vídeos-performance que complementam o fonograma, tirando a ênfase da composição e trazendo para todo o cenário que envolve a sua concepção.

Comecei a perceber, então, que a canção, na maneira como a concebíamos, talvez tenha morrido sim, mas para dar passagem a uma nova identidade musical, dos anos 2000, que eu já consigo reconhecer e que para mim está presente no trabalho do Metá Metá, nos dois últimos álbuns de Elza Soares, Ava Rocha, Letrux, São Yantó, Linn da Quebrada, As Bahias e a Cozinha Mineira, Maria Beraldo, entre outros artistas dessa nova geração que quebram as barreiras entre o que se acreditava ser “a boa MPB”, a música pop e as artes performáticas.

O fato de ser pesquisadora te ajuda e a ser compositora?
Bruna – Com certeza! Eu tenho procurado nos últimos anos fazer com que minha pesquisa e meu trabalho artístico estejam totalmente casados entre si e com a minha vida. A pesquisa que estou desenvolvendo no meu doutorado, sobre relações de gênero no meio musical, é uma necessidade interna minha, um desejo de questionar certos padrões existentes no meio profissional onde atuo. É uma pesquisa, portanto, com um valor político e afetivo para mim, assim como as minhas composições. A diferença entre uma e outra é que na música eu posso ser mais livre, mas ambas são a mesma coisa.

Poucas mulheres são produtoras musicais e compositoras, crê que isso seja reflexo do machismo?
Bruna – Sim, das relações de gênero. Há muitos estudos sendo realizados sobre as mulheres na música e sobre a relação, culturalmente construída, entre voz e feminilidade, que explicaria a predominância de mulheres na função de cantoras-intérpretes. As funções de produção musical e de escrita/composição estão muito relacionadas à tecnologia, à escrita, ao pensamento matemático/abstrato e à racionalidade, virtudes que foram simbolicamente construídas como sendo masculinas – em oposição à intuição, às paixões e emoções, femininas.

Hoje em dia as mulheres estão tomando a frente nestes trabalhos e têm recebido apoio dos coletivos feministas para se aventurarem nestes ambientes misóginos. Ano passado participei de um festival de música, o Sonora SP, em que todas as participantes eram mulheres, desde as musicistas, às produtoras e técnicas de som. O cenário está mudando.

Quais são suas principais referências entre as musicistas?
Bruna – De cantoras, Maria Bethânia e Elis Regina, são as que eu mais gosto e me identifico. Quanto a compositoras, Violeta Parra, Dona Ivone Lara, Leci Brandão, Joyce, Sueli Costa e Dolores Duran. Da atualidade, sou muito fã da Lívia Nestrovski, da Ava Rocha e da Juçara Marçal.

Quantos anos você tem? Crê que exista algo que seja típico na sua música que indique a sua origem?
Bruna – Tenho 32 anos. Creio que minha música revela essa grande paixão que sempre tive pela canção popular brasileira, com influências, notadamente, do samba, da bossa-nova e da MPB pós anos 1970. Esses estilos foram parte da minha formação, minhas avós gostam muito de cantá-los, desde que sou criança, e também ouvia com meus pais. A casa do meu pai é repleta de discos de música popular brasileira.

Tenho uma influência também do rock, já que na adolescência ouvia muito Nirvana, Led Zeppelin, Beatles e Pink Floyd. Minha trajetória musical começou na guitarra, mas pouco tempo depois abandonei o instrumento e comecei a me dedicar ao violão e ao canto, isso foi quando redescobri a MPB.

Que característica acha que é a mais marcante da sua geração?
Bruna – A minha geração viveu uma fase de transição, de grande desenvolvimento da tecnologia. Musicalmente, ficou entre essa influência da MPB mais antiga – e da época dos vinis, fitas K7 e a transição para o CD – e toda a revolução pop e tecnológica. Assim, acredito que ficamos por um tempo perdidos, mas agora estamos encontrando nossa identidade nessa mistura de linguagens que a tecnologia permite. Vi muitos amigos músicos que se formaram comigo sofrerem essa transição, essa redescoberta em seus trabalhos artísticos. Músicos que se dedicavam exclusivamente ao samba, ao choro, ao jazz e à MPB se abrindo para novas linguagens, explorando novos timbres em suas músicas. Então penso que o elemento mais marcante na minha geração é justamente este da mutação, da transformação, da reinvenção.

Que elementos novos O Desafino pede Passagem traz para sua música?
Bruna – “O desafino pede passagem”, meu segundo disco, que será lançado em breve, é, no plano musical, uma mistura das linguagens que me influenciaram – MPB, rock e um pouco do bolero mexicano. No plano poético ele aborda toda a reflexão e pesquisa que venho desenvolvendo há alguns anos sobre a relação entre voz, corpo, natureza e feminilidade e o processo de histerização do corpo e das paixões femininas.

Com relação ao meu primeiro disco, A Maçã, lançado em 2014, penso que o elemento que mais marca a diferença deste novo trabalho é a predominância do meu lado compositora sobre o meu lado intérprete.

SERVIÇO

Festival Novas Rotações
Bruna Prado e São Yantó Quinta feira, dia 28 de junho de 2018 às 20 horas Teatro do SESC Santana – Avenida Luiz Dumont Villares, 579, Santana, São Paulo, SP Atendimento ao público: 11 – 2971-8771


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'Nova geração quebra barreiras', diz Bruna Prado

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