Converse Rubber Tracks
Créditos: Gabriel Quintão
O engenheiro de venezuelano radicado em Nova York Hector Castillo tem no currículo trabalhos com nomes do calibre de David Bowie, Björk, Lou Reed, Suzanne Vega, Rufus Wainwright e Philip Glass. Deste último, ele foi sócio no stúdio Looking Glass, onde foi admitido como estagiário.
O Virgula Música conversou com Hector em São Paulo, em fevereiro, enquanto ele passava pelo país com o projeto Converse Rubber Tracks, voltado para bandas independentes.
Em 2007, Hector ganhou dois prêmios no Grammy Latino por coproduzir e mixar o álbum Ahi Vamos, do argentino Gustavo Cerati. Três anos depois, ele repetiu a dose com o mesmo artista, desta vez com o disco Fuerza Natural.
Você trabalhou com muitos nomes importantes, Philip Glass, Björk, quais foram os maiores ensimentos que você teve com eles?
Com Philip Glass trabalhei dez anos. Fiz muitas trilhas, sinfonias. Quando comecei, Philip tinha um estúdio em Nova York, comecei como estagiário e depois fui assistente de gravação, depois engenheiro. No fim, como sócio, em um estúdio comercial grande. Estive aí até que encerramos.
Neste estúdio existiam duas salas, eu fiquei com uma e aí trabalhei com Bjork, Lou Reed, David Bowie.
E como essa experiência te ajuda a trabalhar com bandas novas?
Para mim, trabalhar com bandas que ainda não tem o seu som desenvolvido, que não tem tanta experiência no estúdio e como um trabalho dos sonhos porque é uma tela em branco, por dizer, e que eu posso ajudar a buscar um som e me faz trabalhar mais duro.
Quando trabalho com alguém que já tem um som, que já tem uma certa experiência, é mais fácil, de certa forma. Trabalhar com alguém que está pela primeira vez em um estúdio de gravação, que não conhece a tecnologia, dá um pouco mais de trabalho e isso para mim é bom, como engenheiro e como produtor. Como uma parte aí meio educacional e às vezes é um pouco mais divertido trabalhar com alguém que não conhece os limites, as regras. Porque não deveria haver regras no que fazemos. A única regra é que não há regra.
Para mim, é muito divertido e muito gratificante quando estou com uma banda que não faz ideia do que está acontecendo na sala de controle e soa bem, muito bem. Isso é gratificante.
Como está vendo as bandas do Brasil?
Curtindo. Ficamos três semanas no México também. As bandas vem muito preparadas e tem partes instrumentais muito boas. Aqui é uma cultura da excelência. Historicamente, sou fã de muita música brasileira e muitas das bandas, mesmo as que são bem punk rock, bem rock and roll sempre tem um sabor de algo que você se dá conta de que são daqui.
Não sei como se diz isso em espanhol, um certo tumbao (cadência rítmica).
Malandragem?
Sim, uma malandragem que você se dá conta de que não é um guitarrista americano. De repente a inspiraração e maneira como ele toca, você percebe que é diferente, o ritmo, o tempo é diferente.
Que dica daria para uma banda iniciante?
Tenha muita paixão, que toquem com paixão. Não importam os erros. Erros se pode consertar, corrigir. O importante é tocar com paixão, coloque tudo. Que trabalhem duro.
Muitas bandas querem inovar, mas é muito difícil inovar hoje em dia, com tanta música e tanta gente fazendo música. O que se precisa é personalidade, isso que se precisa buscar. Dentro de qualquer estilo, você pode tocar a coisa da sua maneira. Se você faz rock ou toca algo mais tradicional, faça à sua maneira, com sua malandragem. Essa para mim é a base.
Estudar música ajuda, é necessário para ter uma boa linguagem entre os músicos, se comunicar mais rápido, obviamente ajuda. E trabalhar duro.
Como é trabalhar com Bowie?
Ele é muito engraçado, muito inteligente, muito rápido verbalmente. É muito divertido, as sessões eram sempre alegres. E muito rápido. Como engenheiro, você precisa ser muito veloz.
E Bjork?
Bjork tem um processo interessante porque ela faz montanhas de sons e depois as esculpe. Bjork está o tempo todo gravando coisas diferentes e não sabe o que vai funcionar. Com muita gente, programadores que estão na islândia ou na Inglaterra, gente que sampleia, grava. E ela é como a grande coordenadora de tudo isso.
Gravava muitas coisas e eu nunca sei o que eu gravei porque isso se reprocessa por um DJ. É um processo interessante, bastante dela, muito único. De repente grava uma orquestra e só se usa uma parte pequena, é muito interessante.
É como um caos constante, você nunca sabe qual é a forma, qual é o arranjo da canção. Apenas ela na sua cabeça tem ideia e se sabe não sei quantas pistas de gravação e quais coisas que vai usar.