O Nenhum de Nós andava meio desaparecido da mídia e agora está de volta com um álbum ao vivo – Nenhum de Nós a Céu Aberto – CD que faz um resumão da carreira da banda que fez muito sucesso nos anos 80 e parte dos 90 com hits como “Camila, Camila”, “O Astronauta de Mármore”, “Diga a Ela” entre outras.

O grupo formado por Thedy (vocal, violão), Carlos (guitarra), Sady (bateria), Vicenti (teclado, acordeon, violino) e Veco (guitarra, violão) colocou cerca de 20 mil pessoas às margens do Rio Guaíba, em Porto Alegre, para a gravação do disco. No dia 31 de outubro o Nenhum de Nós faz um show de lançamento no Canecão (Rio de Janeiro) junto com o Biquíni Cavadão.

O Virgula conversou com o vocalista Thedy e o guitarrista Carlos e eles contaram um pouco da trajetória musical da banda. Também comentaram outros assuntos como internet, novos grupos e muito mais. Acompanhe:

Fala um pouco sobre a formação do Nenhum de Nós: como vocês se encontraram, de onde surgiu a idéia de formar a banda e quais são suas influências?
Carlos: Eu, o Thedy e o Sady nos conhecemos ainda no colégio. Faz tempo isso!
Nossa amizade sempre foi regada à música. De certa forma, foi esse elo que nos uniu, desde o começo.
Afastamos-nos um pouco quando entramos na universidade. Foi nesse período que comecei a tocar com os Engenheiros do Hawaii. Logo que saí dos Engenheiros começamos a ensaiar e a compor nossas primeiras músicas. Assim surgiu o Nenhum. Era a época do lançamento do “Rock Grande do Sul”, uma coletânea de bandas gaúchas pela RCA. O mercado começava a absorver o rock daqui do Sul. Logo fizemos “Camila, Camila” e essa música nos jogou no mercado após pouco mais de seis meses de poucos e precários shows. Nossas influências não mudaram muito com o tempo: Beatles, Smiths, David Bowie, REM, Piazzola, U2, Paralamas…contando com as coisas que o Veco e o João trouxeram com eles, mais tarde.

Thedy: A gente ouve umas bandas que permearam toda nossa carreira. Rock inglês e argentino, Fito Paez sempre foi muito importante. Continuamos curtindo essas coisas e também Coldplay. Agregamos coisas inusitadas tipo o tango, que entrou de outra forma na nossa música. Hoje, a gente coloca essas influências sem ficar muito gritante. Música indiana, eletrônica também. Beatles, que valem pra todas as eras, e tem Smiths que é uma grande influência no jeito que o Carlão toca guitarra.

O Nenhum de Nós fez bastante sucesso no final dos anos 80 e anos 90. Atualmente vocês estão um pouco fora da grande mídia. Como a banda encara isso?
Thedy: A gente sempre fez nosso trabalho da melhor maneira possível em todos os álbuns para continuar com aquele status do começo. Mas isso é uma coisa difícil ou quase impossível de manter. Quando fazemos um disco, a expectativa por ele é a melhor.

Carlos: Continuamos trabalhando normalmente. Costumo dizer que foi a grande mídia que ficou por fora de nós. É normal que isso aconteça. Às vezes é até bom.
Ganhamos até discos de ouro nesse ínterim.

Mas a ausência é sentida pelas pessoas, não?
Thedy: Quando não estamos fazendo shows, as pessoas reclamam. É que, às vezes, a gente se vê sem fôlego para fazer isso. Mas, tem horas que queremos e conseguimos chegar aos lugares.

Falando agora sobre o Nenhum de Nós A Céu Aberto, rolou muita nostalgia ao reunir os maiores hits da banda?
Carlos: Temos orgulho de dizer tocamos músicas de todas as fases da banda em nossos shows. Não deu nem tempo de sentir nostalgia. Tudo está atualizado em nossa mente. Quanto a nossas histórias, acho que foram se incorporando às nossas personalidades. Estão aninhadas em algum lugar de nosso corpo.

Vocês procuraram fazer novos arranjos para os sons ou preferiram manter a sonoridade que o público já conhece?
Carlos: Foi uma mistura dessas duas coisas. Preocupamo-nos com o fato das músicas serem reconhecidas pelas pessoas, mas também a nossa motivação de criar tinha de ser contemplada.

Por que esse disco nesse momento e num show de graça?
Thedy: A gente se preparou para enxergar nossa história e qual seria a maneira de marcar esse momento importante para o Nenhum. Pensamos que seria legal fazer um show de graça, ao ar livre, na nossa cidade, em Porto Alegre. A gente queria que o show fosse uma maneira de contar a nossa história. Então, fizemos isso através das músicas e selecionamos um repertório que contasse essa história e fosse uma espécie de celebração.

Onde foi o show?
Thedy: Foi às margens do Rio Guaiba, em Porto Alegre. Começou com umas sete mil pessoas e, perto do final, estava com umas vinte mil.

Vocês vão fazer uma turnê com esse disco novo?
Thedy: A turnê começa dia 31 de outubro no Canecão, junto com o Biquini Cavadão que está também lançando disco novo. Vamos começar lá, mas não tem datas marcadas para outros lugares.

Como é o processo de criação atual de vocês?
Thedy: Acabo sendo o mais responsável pelas letras. Mas o que se ouve é o resultado de um processo coletivo. Eu chego com uma parte, mas é um processo coletivo. O Nenhum de Nós nunca foi uma banda com patrão, com um líder. Sou o porta-voz porque sou quem mais fala, mas é só por isso.

Como foi a escolha do repertório do disco novo?
Thedy: A gente colocou uma pesquisa no site. As pessoas votaram em cinco músicas que achavam que tinham que estar. Dessa votação tiramos dez músicas. Queríamos ainda colocar duas inéditas e o restante eram canções que tinham importância pra gente. Mas tudo o que entrou foi pelo critério artístico e não de mercado.

Como é o público de vocês hoje? O público que cantava “Camila Camila” e o “Astronauta de Mármore” em 87, ainda se mantém fiel?
Thedy: A gente renovou muito o público. Não é mais aquele que fica tão ligado só nos sucessos. Temos público que presta atenção em muita coisa que produzimos depois (dos principais hits) também.

Carlos: Não tenho certeza. Alguns continuam fiéis, mas muitos dos fãs daquela fase eram, na verdade, fãs dos programas de TV em que aparecíamos. Nosso distanciamento da grande mídia nos permitiu formar uma nova geração de admiradores. Que acho muito mais próxima do ideal que buscamos.

Vocês são daquelas bandas que acham chato tocar seus grandes hits, como o Los Hermanos, por exemplo, que não gostava de tocar “Ana Júlia”?
Thedy: “Camila, Camila” a gente nunca deixou de tocar porque tem um baita orgulho dessa música. Escrever uma canção pop, conseguindo colocar violência e abuso e isso fazer o sucesso que fez, dá orgulho. O Herbert (Vianna), o Frejat, Renato Russo falaram que a música já era um clássico. A nossa diferença em relação a outros caras é que eles acham que a deles é ruim. E acho que não tem sentido não cantar hoje, tem muito a ver. Ainda hoje faz sentido.

Vocês já pensam no próximo disco? Já têm muito material inédito?
Thedy: Temos. Mas só vamos entrar para gravar no final de 2008 para lançar em 2009. Já temos muita coisa composta e temos umas três opções para o nosso projeto. Três coisas que gostaríamos de fazer. Não definimos qual delas vamos escolher ainda.

Sobre a nova cara do rock nacional, como você enxerga esse ‘boom’ de bandas na linha NX Zero e até mesmo o pessoal do Fresno, que por sinal, são seus conterrâneos?
Carlos: Acho muito legal. Essas bandas carregam uma identificação muito forte com o público, e mantêm o mercado aquecido.

Thedy, como você encara o download de músicas na internet?
Thedy: Se o cara quiser colocar na internet como ferramenta de marketing viral, é ótimo. Mas é uma iniciativa dele. Isso é completamente diferente do download que se faz sem autorização do autor da música. Vejo artistas falarem que “pode baixar”. Ou o cara está sendo ingênuo ou está sendo demagógico. A música tem muita gente dependendo dela. Nos últimos cinco anos se perdeu 80 mil postos de trabalho na música, que foram os últimos números divulgados.

As gravadoras não têm mais a força que tinham, né?
Thedy: Quando se vê isso, ninguém enxerga a cara de quem perdeu o emprego. Tem gente que adorava trabalhar com música e hoje não pode mais. Eu costumo dizer o seguinte sobre download de graça: me passa o número da sua conta corrente e deixa eu fazer download pra mim. É ingênuo pensar que a gravadora é a grande culpada de tudo.

Mas a internet tem também seu lado bom.

Thedy: Acho a internet genial. O Radiohead foi genial ao colocar o disco novo paras as pessoas pagarem o quanto quiser. Mas foi o Radiohead que deu esse direito às pessoas, é uma iniciativa deles. Um monte de gente pagou, então é sinal de que se puder vão pagar mesmo.

E esse revival dos anos 80, o que você acha?
Thedy: Não consigo enxergar esse revival como a cara dos anos 80. “Ursinho Blaublau” não era a cara daquele tempo e esse lado meio brega foi o que ficou como a cara da década nesse revival. E acho que não era isso, tinha coisas muito boas como Fellini, Akira S… isso é anos 80. Não é essa festa com He-Man ou a Xuxa. Quem prestava atenção na cultura e contracultura via outra coisa. O Nenhum surgiu naquela época e vem até hoje. Quando olho esse revival gostaria que estivessem mais ligados nessas coisas e não nesse pop vazio. As pessoa fazem confusão.


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Nenhum de Nós fala sobre A Céu Aberto, novo CD da banda