Maria Bethânia, Liniker e Gal Costa se juntam em “Biscoito Fino” (Foto: Carolina Spork / Manouche)

Por mais que o Brasil pareça querer andar para trás em certos momentos, o país é uma usina criativa com talentos que buscam a novidade e a ousadia. Uma tendência captada pela Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo em 1922 e que até hoje ecoa em várias expressões artísticas. Quando Oswald de Andrade, um dos papas do modernismo nacional, afirmou que a massa ainda comeria o biscoito fino que ele fabricava, ele sintetizou a vontade de que o povo tenha direito ao melhor. Como já disseram os Titãs, “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

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O álbum “Biscoito Fino”, que chega hoje às plataformas de música, parte do princípio do modernismo e da frase de Oswald para mostrar, em pleno 2023, a potência e a qualidade artística brasileira por meio de um repertório plural que conta um pouco da nossa história do século 20 até os dias de hoje. Não é coincidência que o projeto saia pela gravadora que também utiliza a expressão cunhada por Oswald – a Biscoito Fino -, que nos últimos 23 anos vem colocando no mercado projetos de alto valor cultural.

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“Biscoito Fino”, o disco, tem um elenco estelar e privilegia a mistura de gerações, o que já havia sido anunciado nas duas faixas lançadas previamente, com os encontros de Gal Costa (sua última gravação em estúdio) e Marina Sena em “Para Lennon e McCartney” e Illy e Luiz Caldas em “A Vida do Viajante”. Agora, o público poderá ouvir duetos de Maria Bethânia e Chico Chico (“Em Nome de Deus”), Anelis Assumpção e Lenine (“Fico Louco”), Arnaldo Antunes e Luedji Luna (“Sentado à Beira do Caminho”), entre outros.

Com direção artística de Ana Basbaum, direção musical de Guilherme Kastrup e curadoria de repertório de Basbaum e Renato Vieira, o álbum Biscoito Fino é uma celebração à música brasileira. A capa, assinada por Ricardo Basbaum, parte do conceito da antropofagia, tão caro aos modernistas, estabelecendo uma conexão entre “biscoitos finos” feitos por uma elite cultural e a toalha de renda, que remete a um artesanato do interior do Brasil.

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Não por acaso, o disco é aberto com “Geleia Geral”, clássico de Gilberto Gil e Torquato Neto, lançado no histórico álbum Tropicália (1968), reunindo quatro grandes nomes da música brasileira contemporânea: Assucena, Liniker, Letrux e Josyara. Há a lembrança do que veio antes e que fez parte da nossa História, mas por um filtro novo que também simboliza aquela geleia geral apontada pelos tropicalistas há 55 anos.

O repertório ainda reverencia outros nomes fundamentais da MPB, como Chico Buarque (“Deus Lhe Pague”, interpretada pelo trio Metá Metá, Bia Ferreira e Brisa Flow, aparece em versão revista e ampliada), Dorival Caymmi (“Sargaço Mar”, com Arrigo Barnabé e Negro Leo), Caetano Veloso (a recente “Sem Samba não Dá”, interpretada por Criolo e Jards Macalé) e até mesmo João Gilberto (o medley que junta “Bim Bom” e “Hô-Bá-Lá-Lá”), reunindo Lucas Nunes, Dora Morelembaum e Jorge Mautner).


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Maria Bethânia, Liniker e Gal Costa se juntam em "Biscoito Fino"