Racionais MC's

Mano Brown e DJ Marky são as atrações da festa beneficente Disco Baby, que acontece neste sábado (8)
Mano Brown e DJ Marky são as atrações da festa beneficente Disco Baby, que acontece neste sábado (8)
Créditos: vgl

Para muitos que acompanham os Racionais MCs, KL Jay é um “professor” capaz de conjugar em uma mesma lição, os ensinamentos de mestres da música negra norte-americana, como Marvin Gaye, The Meeters e Curtis Mayfield, e de brasileiros como Tim Maia, Cassiano e Hyldon.

Nada mais justo, então, que as crianças – um público que para KL Jay “não mente” e “tem uma coisa muito apurada” -, tenham a oportunidade de receber sua mensagem musical. “Ela (a criança) sabe quando uma coisa é boa. Quando ela não gosta, ela reage, mostra que não gosta. E quando gosta, mostra que gosta. Então, a melhor maneira de você ver se uma música é boa ou não é você mostrá-la para uma criança”, resume. 

Neste sábado (24), KL Jay será atração da Disco Baby, na Offset, em São Paulo, das 15h às 19h, na edição especial de um ano da festa. Leia a seguir a entrevista concedida por telefone em que KL Jay fala, entre outros assuntos, que que o rap perdeu seu caráter exclusivamente político por ter se diversificado e para não ficar “chato”. 

Qual é o segredo para que o funk, o soul, a música negra dos anos 70 e 80 continue sendo importante?

É uma música atemporal. Ela tem uma pegada muito alto astral, é uma música viva. Uma música que tem um BPM que não tem como você não dançar. Então, acho que é importante continuar divulgando através dos tempos.

É claro que a gente tem que acompanhar o novo também. Eu assisti a um filme que tinha uma frase muito interessante que eu me identifiquei muito: “Um olho no passado e um olho no futuro”. A gente não pode esquecer nunca as origens, o que ficou, o que foi o passado. A gente não pode esquecer porque ele é praticado hoje também. Não só musicalmente falando, mas a coisa da vida também.

KL Jay, Sesc Pompeia

Você vai se apresentar para as crianças, vai ser um repertório diferente ou o mesmo que você costuma tocar mesmo?

Ó, eu vou levar o possível repertório, um possível set. E lá, a gente improvisa porque sempre é improviso. É igual um jogo de futebol. Você treina, treina , faz jogadas ensaiadas, mas na hora você nunca sabe o que vai acontecer. Nunca sabe como vai ser. Sempre é improvisado.

O seu filho é DJ também, como você?

Eu tenho dois filhos DJs (Will, de 25 anos, e Kalfani, 16, da banda Pollo).

Como que foi a educação musical deles.  Você foi uma referência para eles e para os amigos deles por apresentar sons, proporcionar um ambiente musical?

Isso sempre foi inevitável: “Ele é filho do KL Jay”. Mas eu nunca os forcei a ser DJs, eles foram DJs porque quiseram ser. Eu os ensinei, eles despertaram a curiosidade. Desde criança, sempre mexeram nos equipamentos.

Mas rolou essa coisa, o pai dele é DJ, dos Racionais, por isso que ele conhece um monte de música. Normal também.

E de vez em quando rolam umas divergências de gosto? Você respeita na boa?

Claro, claro. Eles são os meus filhos, mas eles não são eu. Então, o gosto naturalmente ele vai ser diferente. E eu nunca quis impor estilo, gosto nenhum, para nenhum deles. Para nada, nunca impus nada.

Os Racionais são uma grande referência para estes grupos de funk que estão surgindo em São Paulo, o funk ostentação. Você vê funk e rap em uma mesma raiz ou acha que hoje eles são, como já apontou o MV Bill, opostos?

 Para mim é o seguinte, está na mesma árvore, são galhos diferentes. Mas é uma música tribal, certo? Uma música tribal como o jazz é, o blues, como o funk dos anos 80 e como o rap é. O funk carioca ele é tribal também, independente do estilo, de ser ostentação, falar de amor ou não.

 E independente de eu me identificar ou não. É uma música que merece respeito porque é feita por pessoas oprimidas e que, no mínimo, estão sendo verdadeiras no que estão falando.

Pode ser até uma música fantasiosa e tal, mas eles não tem medo de falar o que eles pensam. Isso merece o meu respeito. É uma música tribal, não tem como você dançar também.

Vem tudo da África…

É, começou com a África, começou com os tambores, não é cara? Que foi para o mundo, se aperfeiçoou através dos tempos.

Rotação 33, Fita Mixada

 E como que é a questão do rap ter perdido o lado político, da questão racial, social, que era muito forte no começo de onde ele veio nos Estados Unidos e com o tempo ele indo mais um lado em que praticamente o pop e o rap se fundiram, enquanto que no Brasil, alguns nomes como vocês do Racionais, MV Bill, novos rappers como Emicida mantiveram essa precupação. Porque você acha que o rap daqui e o de lá foram por caminhos diferentes?

Veja bem, eu tenho um outro pensamento em relação a isso. Eu acho que o hip hop se diversificou. O rap abriu o leque da musicalidade e dos assuntos que podem ser ditos. E ele saiu dessa teia de ser só política.

Ele foi muito importante sendo político, mas se ele ficasse só político hoje em dia, ele seria chato. Então, abriu-se o leque para você falar do que quiser, contar a história que você quiser. E isso é democrático, isso é libertador.

Porque independente da ideologia, da política que existiu no rap, o rap é primeiro de tudo música e a música não pode ficar presa a ideologias, a conceitos.

Eu acho que nos Estados Unidos, ele se tornou popular, muito popular, por ser uma música tribal, agressiva e você poder falar de vários assuntos. Eu não digo pop, eu digo popular.

No Brasil, ele está começando a ter esse leque de ideias, de assuntos, de letras, de histórias, está começando a se abrir, tem que ter muita coragem para você contar uma história… Por exemplo, eu acho que precisa muita coragem para você fazer um rap falando que a sua namorada tem uma namorada, no caso do Lil Wayne. Tem uma música dele que fala , a minha namorada tem uma namorada. Isso é ser real e você pode se identificar ou não. Você não pode ter medo de se expor, falar do que você quiser.

KL Jay e DJ Marky

É arte…

 É música, cara, você não pode ficar preso. Preso a conceitos, se não a gente fica chato. E é horrível ser chato, não é? “Ah, essa música chata, lá vem essa música falando essa mesma coisa”.

Não que o rap não tenha nunca mais dizer sobre política, de racismo porque isso está aí também. Mas o sexo, o dinheiro, o crime, a ostentação, fazem parte da vida. Se você contar tudo isso de uma maneira inteligente e musical, tem o seu mérito, entendeu?

Cara, seu trabalho no Racionais e seguido por muita gente, é quase uma militância. Qual você considera ser sua missão na música?

Você já respondeu à pergunta. Eu tenho uma missão com os Racionais. A gente se encontrou de novo, eu acredito que a gente já estava junto há 500 anos. A gente morreu, veio e se encontrou de novo. A minha missão como KL Jay, na música, é ajudar outros artistas, outros DJs, MCs, ajudar da forma que for, fazendo campeonato de DJs, fazendo música, contratando show, participando de música.

E divertir as pessoas, fazer as pessoas na pista se sentir em outro lugar, em outra dimensão, um outro tempo, um outro planeta. A minha missão quando eu estou tocando é essa, fazer as pessoas viajarem e ficarem hipnotizadas com o som que eu toco.

O disco dos Racionais sai quando?

Olha, a gente pretende lançar o disco no ano que vem. Eu estou fazendo meu disco, KL Jay na Batida Volume 2, que eu estou fazendo de trás para frente, lancei primeiro o três, agora vem o dois e depois o um.

Este projeto solo é mais experimental?

Está bem rap, bem hip hop, bem essência hip hop mesmo.

Racionais MCs, Vida Loka Parte 2 

Se você tivesse que dar uma dica para uma criança que sonha em ser DJ um dia, o que você falaria?

É (faz um pausa). Primeira coisa, ouvir música, ouvir qualquer música. Que soe bem aos seus ouvidos. Ouvir música é essencial, é muito importante para o DJ, ouvir qualquer tipo de música, mesmo que você se identifique com um estilo, ouvir todos os estilos.

E ser verdadeiro com você mesmo. Ser você mesmo, seguindo o seu talento. É uma questão de você descobrir o talento. Ouvir música e ser você. Praticar a discotecagem em casa, comprar equipamento, ir nos lugares, conhecer outros DJs, ver os DJs tocando, essas coisas, se envolver no meio.

Não tem uma fórmula assim, eu falo o que deu certo para mim.

Como que você acha que a boa música pode influenciar a formação de uma criança?

As crianças não mentem e a criança tem essa coisa muito apurada nela. Ela sabe quando uma coisa é boa. Quando ela não gosta, ela reage, mostra que não gosta. E quando gosta, ela mostra que gosta. Então, a melhor maneira de você ver se uma música é boa ou não é você mostrá-la para uma criança. Ela vai dizer se é boa.

SERVIÇO

DISCO BABY COM KL JAY

participação especial do Dj mirim Caio Augusto + Djs Coy Freitas, Acacio Moura

Projeções Vjs Vaivendo
Promoção: Eli Possato

Dia 24 de agosto, das 15h às 19h

PREÇOS:
Ingressos Disco Baby

Adulto: R$ 35
Bebês e crianças: R$ 15
Babás e 3a idade: R$ 20

Pacote Almoço no Chácara Santa Cecília + Disco Baby

Crianças até 2 anos: R$15 (paga somente o ingresso)
Crianças a partir de 3 anos: R$ 37
Babás e terceira idade: R$ 75
Adultos: R$ 85

Offset (Rua Ferreira De Araújo, 589 – Pinheiros – São Paulo – SP Telefone: 11/xx/3097-9396)


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KL Jay leva 'ensinamentos' da música negra para crianças da Disco Baby no sábado (24)