Kings of Convenience no Circo Voador - Rio de Janeiro, 10/12/2011


Créditos: Jonia Caon/amorfo.com.br)

Esta não foi a primeira passagem do Kings of Convenience pelo Rio de Janeiro, mas com certeza foi a que gerou mais publicidade, disfarçada de polêmica. Em São Paulo, no último dia 08, exigiram que o bar da casa onde se apresentaram fosse fechado durante o show, além de reprimir aplausos e conversas do público. A imprensa recebeu um código de conduta especial – quase uma censura – para a apresentação. O duo virou manchete – missão cumprida – e a expectativa do show em solo carioca neste sábado, dia 10, se dividia entre a possibilidade de uma noite mágica ou trágica.

Enquanto o show não começava, a platéia chamava a banda, com aplausos entre as músicas de Bob Marley que tocavam no sistema de som. O palco armado com quatro violões, um vaso de flores e um teclado parecia pronto para receber um show de Seu Jorge e seu disco Música para Churrasco. Com um tradicional atraso carioca de um pouco mais de meia hora, a dupla noruguesa com sotaque bossa nova – Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe – entrou no palco, empunhando apenas seus violões, sob fortíssimos aplausos. Logo que seus dedilhados começaram a ecoar pelo Circo Voador, passaram-se alguns segundos de tensão. E se um telefone tocasse? Se alguém tivesse uma crise de tosse? Um copo caísse no chão? Ou pior, e se o público quisesse entoar suas bonitas canções junto à banda?

Acontece que uma parte da platéia carioca ignorou todos os avisos e resolveu que aquela era uma noite para se divertir. Fotografias, palmas a cada solinho tímido, assobios, gritinhos no meio das músicas e coro acompanhando quase todas. A surpresa, no entanto, foi o bom humor da banda. Depois de uma primeira música em meio a risos nervosos dos dois, quando todos pensavam que logo dariam algum discurso irônico, tudo começou a entrar nos eixos e o Kings of Convenience mostrou sua faceta de Reis da Simpatia. Então, de repente, palco e pista entraram em total sintonia. E tudo isso com o bar aberto e pessoas conversando um pouco mais afastadas do palco.

As canções que tiveram algum instrumento extra nas gravações em disco ganharam acompanhamento preciso da plateia. Os noruegueses, contrariando todas as expectativas, não só pareciam estar se divertindo muito no palco – cheios de sorrisos, dancinhas e piadinhas para o público – como também elogiaram bastante o afinado coro dos fãs. A banda estava nas mãos da plateia.

Apesar de trazer 3 ou 4 músicas de seus dois discos mais conhecidos – Quiet is The New Loud e Riot on an Empty Street – o show é baseado no mais recente lançamento, Declaration of Dependence, lançado em 2009, e também marca o fim de sua turnê mundial de divulgação. Os grandes destaques da noite foram os hits Toxic Girl, I’d Rather Dance With You e 24-25, além de uma versão bonita e respeitosa de Corcovado (Tom Jobim), cantada em português com direito a uma perfeita mímica de solo de sax tenor com a boca.

Erlend Øye, que também já trouxe ao Brasil seu projeto paralelo The Whitest Boy Alive, é um pouco mais comunicativo do que seu parceiro, e em solo carioca desempenhou o papel de um verdadeiro showman, empolgando e também regendo o público nos momentos em que as canções pediam coro, estalos de dedos e, surpreendentemente, aplausos. Que evolução…

Enquanto isso, Eirik Bøe chegou a falar em sua língua natal com o público, que só ria e aplaudia. O duo também fez questão de elogiar várias vezes a organização do crowdfuning que os trouxe à cidade, dando inclusive a ideia de usar a mesma tática para trazer a cantora canadense Feist.

O projeto Queremos se tornou essencial para que os cariocas tenham acesso a alguns dos shows mais interessantes do ano, que de outra maneira passariam longe dos palcos da cidade. A parceria com o Circo Voador parecia totalmente equivocada para este evento, já que o lugar é semi-aberto e cercado por outras boates e casas de festas, além do alto som nas ruas da Lapa que ecoavam lá dentro. Mas tudo deu certo justamente porque o ambiente do Circo e o público sempre amplificam a interação com a banda mais do que o comum, e felizmente este também foi o caso do Kings of Convenience. Para chancelar o entrosamento com a plateia carioca, a dupla fez um convite aberto para uma pelada entre Brasil e Noruega na praia de Copacabana, neste domingo, às 16h.

Setlist

01 – My Ship Isn’t Pretty
02 – Cayman Islands
03 – Love Is No Big Truth
04 – 24-25
05 – Me In You
06 – I Don’t Know What I Can Save You From
07 – From
08 – Failure
09 – Peacetime Resistance
10 – Mrs. Cold
11 – Know How
12 – Toxic Girl
13 – Boat Behind
14 – Misread
15 – I’d Rather Dance With You
16 – Corcovado (Tom Jobim)
17 – Waiting In Vain (Bob Marley)
18 – Rule my world (Remix)


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Kings of Convenience esquece mau-humor e embala público carioca