Raissa Nosralla/Divulgação Supercordas

Com 13 anos de estrada, o Supercordas é um dos precursores da nova psicodelia brasileira, de bandas como Boogarins e Bike, e de um movimento internacional em que se destacam Tame Impala, Temples, Pond e Jagwar Ma.

No sábado (5), com show no Sesc Pompeia, em São Paulo, eles lançam Terceira Terra, terceiro álbum deles, com participações especiais de Irina (Garotas Suecas), Julito (Bike) e Pepe (Holger).

Pedro Bonifrate (guitarras e harmônicas) falou sobre o show, cena atual, o que difere a psicodelia de hoje daquela que rolou nos anos 60 e 70, entre outros assuntos.

Além de Bonifrate, a banda conta com Diogo Valentino (baixo), Filipe Giraknob (guitarras, efeitos) e Gabriel Ares (teclados).

Que temáticas quiseram buscar nesse novo trabalho?
Pedro Bonifrate – O disco toca em temas diversos, mas sempre procurando um movimento que vai de dentro pra fora, buscando olhares distintos, porém complementares, sobre o mundo e sobre problemas contemporâneos, mesmo que esses problemas, digressões, viagens partam das nossas cabeças. Uma coisa que acho um pouco entediante sobre a música dos últimos anos é a insistência em se olhar pra dentro, para os espaços internos e particulares, para o próprio umbigo, para um cotidiano confortável e inofensivo. Recentemente, vejo que muitos artistas têm transformado esse paradigma e se voltado para o mundo e o nosso lugar nele. Acho uma mudança saudável e condizente com os “tempos interessantes” que estamos vivendo.

Por que ele se chama Terceira Terra?
Bonifrate – O disco tomou o nome da última faixa, que é talvez seu momento mais épico. A princípio, é uma referência ao mito guarani da terra sem males, que se seguiria à primeira terra habitada pelos deuses, e à segunda, que é essa em que vivemos, onde “nada se move sem atrito”, onde há geração e corrupção.

De forma mais abrangente, é uma referência aos mundos que estamos construindo com nossas escolhas e ações. O peso e a responsabilidade sobre essas construções tem aumentado na medida em que aumenta nosso poder destrutivo sobre a natureza e sobre nós mesmos. Em última instância, há a ideia de que o rumo que estamos tomando como um grande veículo coletivo planetário não parece nos levar a um estágio melhor ou mais harmônico. Estaríamos realmente ligados à busca por uma terra sem mal?

Ou outros impulsos mais individualistas estariam ditando os rumos da nossa sociedade? Acho que são algumas das questões que atravessam o álbum, ou ao menos eu acho que deveriam atravessar.

O que leva vocês a querer fazer uma música nova?
Bonifrate –  Da minha parte, como compositor, escrever canções é quase como uma necessidade do espírito, pra não dizer do corpo ou das duas coisas juntas numa só. Como um grupo, acho que estamos sempre buscando formas diferentes de combinar nossas contribuições individuais, pra que a nova música soe diferente da antiga, e isso pode ser um dos impulsos mais fortes da nossa criação coletiva.

Quais são os grupos e artistas da nova onda psicodélica que mais gosta e indica?
Bonifrate –  Infelizmente, não tenho tido tempo para ouvir tudo o que eu queria ouvir com atenção. Gostei do disco do Bike, curto muito o My Magical Glowing Lens. Somos suspeitos pra falar dos Boogarins, já que nos tornamos grandes amigos, mas não tenho dúvidas de que eles fazem um som incrível e cada vez melhor. Também acho que a referência e a delimitação de uma ‘nova onda psicodélica’ pode ser um pouco empobrecedora, quando foca em elementos mais óbvios em um artista ou outro que remetam a um ‘gênero psicodélico’.

Acho que há alguma psicodelia, alguma forma torta e colorida de manifestação das almas, em tudo o que eu acho interessante hoje em dia. A Ava Rocha ou o Gui Amabis ou o Cidadão Instigado ou a Stella Campos, por exemplo, podem não ser vistos necessariamente como surfistas dessa onda, mas o que eles fazem é cheio de psicodelia, ao menos no sentido em que eu gosto de empregar esse termo, que tem mais a ver com uma perspectiva libertária do fazer canção do que com características estéticas específicas.

Fale um pouco da galera que vai participar do show. Se sentem parte de uma cena?
Bonifrate –  Acho que não nos sentimos parte de algo assim, ainda mais hoje em dia. Mas talvez a gente não saiba quando faz parte de uma cena. Temos nossa teia de projetos, em que participamos musicalmente, e temos afinidades com muitos outros artistas que estão em atividade. Sei que os três convidados atuam em projetos que curtimos bastante, e que tem algum tipo de empatia com o que estamos fazendo. São reforços experimentais que trazemos de fora da banda, e que acreditamos adicionarem elementos interessantes ao nosso som.

Bike é uma banda muito consistente em grooves e guitarras que está começando uma trajetória muito maneira no meio musical, aqui e lá fora. A Irina e o Pepe são grandes amigos da banda, e Garotas Suecas e Holger são bandas com as quais convivemos já há alguns anos por aí. Ainda tem o Luccas Villela, que tem tocado bateria em alguns dos nossos melhores shows, e que está fazendo um trabalho muito legal com o E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante e com o Inky. Tem tudo pra ser uma experiência única e intensa.

Na sua opinião, o que difere a psicodelia de hoje daquela que rolou nos anos 60 e 70?
Bonifrate –  Difícil dizer, já que são tantas as diferenças entre o nosso mundo e aquele de 50 anos atrás, e ainda há essa conexão com a psicodelia dos anos 90 e 00, que é muito marcante pra nós. As filosofias se transformaram, as drogas, os costumes e a música também.

SERVIÇO

Supercordas lança Terceira Terra no Sesc Pompeia
Dia 05 de março, sábado, às 21h30.
Ingressos: R$ 6,00 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$ 10,00 (credenciado*/usuário inscrito no Sesc e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 20,00 (inteira).
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 18 anos.
SESC Pompeia – Rua Clélia, 93.
Não tem estacionamento.
Site: sescsp.org.br/pompeia


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"Filosofias, drogas, costumes e música se transformaram", diz Supercordas

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