Durante seus últimos anos de vida, John Cage, pioneiro da música aleatória e no uso de instrumentos não convencionais, abriu sua vida ao artista brasileiro Emanuel Dimas de Melo Pimenta, que, agora, compartilha algumas dessas experiências com o público em uma mostra que homenageia o centenário desse grande compositor americano.

Apesar de ter mudado as normas de anotação musical estabelecidas há 700 anos e de causar muita controvérsia até hoje com suas obras de música aleatória e de influências orientais, Cage “não é um artista muito popular”, afirmou Pimenta, curador da exposição John Cage: 100 anos, aberta esta semana em Lisboa.

Embora a faceta mais conhecida de Cage (Los Angeles, 1912-1992) seja a musical, esta mostra, que conta com imagens de fotógrafos como o italiano Roberto Mazzotti e do inglês Hans Wild, também destaca outros aspectos do artista e as relações que o mesmo cultivou ao longo de sua vida.

Com esta exposição, aberta até o dia 12 de outubro, a capital portuguesa se somou a Barcelona nas atividades de homenagem ao centenário do músico, explicou à Agência Efe o brasileiro radicado em Portugal, que acaba de retornar da cidade espanhola, onde também exibiu algumas de suas imagens.

“Não se trata só de resgatar sua música, mas de compartilhar seu pensamento”, explicou o autor da única série de fotografias tomadas do “loft” de Cage em Nova York, que também estão expostas de maneira parcial nesta mostra.

O artista multidisciplinar e arquiteto lembra que fez essa sessão fotográfica para modelar a ideia fundamental da visão do músico: “Tomar consciência do que nos rodeia e do que somos”.

Os cheiros dos condimentos com os quais o artista cozinhava – outro sinal de sua grande sensibilidade, segundo o amigo -, e algumas das plantas das mais de 200 que povoavam a casa do músico, estão agora espalhados pela sala da exposição, montada na galeria do banco BES em Lisboa.

Entre outras facetas do americano, o público poderá conferir a musical através da partitura Ária, dedicada à soprano Cathy Berberian, e de duas gravações de suas composições. Aliás, a música só poderá ser escutada por aqueles que forem ao banheiro do recinto, também incorporado ao espaço da mostra.

Na abertura da exposição, Pimenta interpretou, em um piano branco que domina a sala, a obra mais conhecida de Cage, a chamada 4’33. Esse título, por sua vez, faz alusão ao tempo que um músico deveria permanecer calado e sem usar seu instrumento para permitir que o espectador “escutasse” o silêncio do ambiente.

A memória de Cage também enche as paredes através de entrevistas, de escritos e de um vídeo realizado pela artista plástica Regina Vater em 1986.

Além de fazer suas próprias anotações e deixar seu comentário sobre a vida do músico, o público ainda pode explorar um pouco mais da interatividade da exposição e levar uma pedra de presente no final do percurso, um dos rituais que o artista fazia questão de fazer nos lugares que visitava. 


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Exposição de amigo brasileiro homenageia centenário de John Cage em Portugal

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