Rodrigo Suricato lança “A Dois” em parceria com Vitor Kley

Ao entrar na sala do zoom foi possível ver o Suricato se preparando para a tarde de entrevistas que ia acontecer. Com o espaço ajeitado e diversos instrumentos de fundo ficava claro a paixão pela música. Tocando o projeto solo, que inclusive era um dos motivos da entrevista, e também a banda Barão Vermelho, Rodrigo Suricato ressaltou a importância que a música tem na sua vida, mas como ela é só uma das maneiras dele se expressar.

PUBLICIDADE

Junto com Vitor Kley, Suricato gravou a música “A Dois” pela Universal Music. A faixa solar traz a importância do afeto, empatia e amor. Mais do que isso, a música para Rodrigo Suricato é uma forma de se comunicar com o mundo, mas não a única.

PUBLICIDADE

Entre duas indicações ao Grammy e o lançamento de três álbuns somente em 2020, além de passagens por festivais, shows e programas de TV. O artista ressalta a importância de se expressar de diferentes formas e não depender apenas do show business. Afinal, são diferentes versões de nós mesmos que vão surgindo ao longo dos anos e se prender a uma única linguagem ia tornar tudo muito chato.

Em um papo sobre música, influências, cancelamento e saber curtir cada conquista, eu conversei com o Rodrigo Suricato sobre o lançamento de “A Dois” com Vitor Kley, sobre novos projetos e como passar o que você sente para o mundo. A entrevista você confere abaixo:

PUBLICIDADE

Daniela de Jesus: Como começou sua relação com a música?

Suricato: Minha relação com a música fica mais forte por conta da relação com os meus irmãos mais velhos. Na época dos anos 80 eles escutavam muita música brasileira, e naquele tempo era natural todo mundo ter uma banda e tocar algum instrumento. Eu fiquei encantado com esse universo e me interessei.

D: Quais as bandas que vocês têm de referência naquela época?

S: O rock nacional como Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso, Titãs. Além do rock Clássico como The Beatles e Led Zeppelin.

D: Como aconteceu a parceria com o Vitor Kley e como foi misturar as influências dos dois?

S: Na minha canção eu tenho uma influência do rock, mas tento me comunicar de uma maneira mais pop. O Kley me chamou atenção por estar acima do conceito, por ter um apreço pela composição e pelo violão. Além disso, nossas influências do começo da carreira são bem parecidas. Eu sempre admirei ele e eu já queria fazer algo com ele.

D: “A Dois” fala bastante de amor e empatia. Em tempos de intolerância, como você acha que a música pode fazer com que as pessoas tenham mais empatia?

S: As pessoas têm tendência a confundir esse estilo mais “good vibes” com alienação, pessoas que andam com um girassol na mão e vão querer sair dando abraços grátis na rua. Não é isso, a minha música mais solar é o que sai de uma vitamina das minhas questões internas que são pesadas. Mas que apesar delas, eu consigo tirar o suco que eu consigo iluminar e que vão trazer questões boas para o debate. É trazer lucidez que vai iluminar a vida das pessoas. Tem canções minhas, por exemplo, que eu digo “O pior de mim está na mesma mão que eu trago flores para você”, isso é basicamente um pouco do que me resume. Eu tento iluminar o mundo de alguma forma com as coisas que me acontecem. Eu faço canções para me curar, não para entreter o mundo, eu faço para tratar as minhas questões.

D: A música “A Dois” é da banda “Tem Amor”, queria saber como que rolou a escolha da música.

S: Foi amor à primeira vista, eu estava dando entrevista em um lugar e eles estavam fazendo um pocket show e eu fiquei bastante interessado na canção. Eu me senti mais seguro em gravar músicas de outros artistas, e sendo de uma banda independente me alegra muito.

D: Uma das suas referências é o Barão Vermelho, como foi entrar na banda e qual a importância de estar no Barão e ter a sua carreira solo?

S: O Barão Vermelho faz parte da minha formação musical, é a minha banda nacional predileta. Foi uma honra receber o convite, e uma responsabilidade. Eu já conhecia o repertório todo porque eu falei Barão Vermelho fluente. Mas ao mesmo tempo, não abrir mão do meu trabalho solo foi uma condição minha. Ter esse lado coletivo é importante porque eu aprendo muito, mas ao mesmo tempo eu tenho o meu canto em que eu consigo me expressar com mais fluidez e isso é muito importante.

D: O que o Rodrigo Antônio Nogueira tem do Suricato e o que o Suricato tem do Rodrigo Antônio?

S: O Rodrigo Antônio ensinou tudo para esses artistas, ele ensinou a ser cidadão do mundo. A minha arte está inteiramente enraizada naquilo que eu sou como pessoa. Claro que o Rodrigo Suricato e o Rodrigo do Barão são um recorte do Rodrigo Antônio. Esse lado é o meu mais potente em relação a comunicação com as pessoas. Porque o Rodrigo Antônio é muito caseiro, de pouquíssimo amigos, quase um bicho do mato, tímido para caramba. Eu preciso de esse lugar artístico para trazer meu lado mais comunicativo para as pessoas. Inclusive, o Minotauro é Antônio Rodrigo Nogueira, olha a coincidência, eu sou Rodrigo Antônio Nogueira, eu não sei como é para o Minotauro, mas pra mim funciona dessa forma.

D: E você gosta de artes marciais?

S: Nada, eu não consigo ver as lutas. Não tenho estômago para isso.

D: Qual foi o melhor conselho que você já recebeu? Que você olha para trás e percebe que te mudou.

S: Eu não sei se foi exatamente um conselho que alguém me deu ou uma conclusão que eu cheguei. Mas todo degrau é um mirante. Durante muito tempo a gente tenta alcançar uma determinada coisa e quando conseguimos isso comemoramos durante pouco tempo e já passamos para a próxima coisa. Estamos sempre querendo, e quando chega no final da vida, nada te saciou, nada te deu completude. Eu sou daqueles que acreditam que o processo é a própria arte, é ele que eu quero curtir hoje em dia. Eu já recebi um prêmio em televisão infeliz, já fiz um show no Lollapalooza em que eu estava chorando antes, então eu me perguntei o que eu estava fazendo, se eu estava trabalhando errado. Porque é muito importante eu me divertir enquanto eu estou fazendo o meu trabalho, nem que seja para tocar em casa sem luz e palco. Então essa foi a principal lição que eu tirei.

D: Isso é verdade porque temos que entender que nem sempre precisamos estar correndo atrás de alguma coisa

S: Sim, tem esse conceito de sucesso que as pessoas têm que é um negócio sufocante. Não é assim que funciona, porque caso contrário todo mundo que tivesse sucesso seria a pessoa mais feliz do planeta. Não é sobre isso, é sobre você testar os seus próprios limites, eu testo muito os meus. Em cada hora eu gravo um disco diferente, eu tento chamar pessoas diferentes para gravar comigo. Eu tento deixar o dia a dia atrativo para as coisas ficarem mais interessantes e não perder o interesse.

D: Você fala bastante de se reinventar, como é esse processo para você? Quando você percebe que está na hora de mudar e como isso acontece?

S: É uma aceitação. Eu tenho vontade de fazer muita coisa, e eu passei muito tempo me culpando por querer fazer muita coisa. Eu passei um tempo querendo me encaixar em uma garrafa, só que eu explodi essa garrafa. Eu não quero ficar dentro de garrafa, eu quero experimentar várias coisas, a música é só uma das coisas que eu faço na minha vida. Ela é uma ferramenta como eu me comunico com o mundo mas não é a única. Eu gosto de escrever e pretendo lançar um livro, eu criei um curso para artistas independentes se informarem mais sobre o mercado da música. Através da minha própria experiência dar algumas dicas para as pessoas sobre esse meio.

D: E o livro será sobre o que?

S: Ele começou a se ramificar, eu escrevo muita crônica sobre comportamento social, eu me interesso muito sobre essa polarização. Eu já sangrei muito com isso e hoje acredito que alguma coisa vai sair desse lugar. Primeiro que as pessoas estão sendo obrigadas a aprender a escrever texto para se comunicar. Segundo, a pouca familiaridade que as pessoas têm com os próprios defeitos, as pessoas não estão acostumadas a se olhar no espelho. Quando vemos a Karol Conká, e qualquer pessoa que sai dos padrões e entra no redemoinho do cancelamento, isso dói na gente porque nos identificamos. Eu fiz análise e isso é um investimento enorme, porque além do dinheiro, está a sua disposição de se conhecer melhor. Eu já sangrei me conhecendo para aprender a ser mais tolerante com a sociedade e menos hipócrita em relação aos defeitos das outras pessoas. O livro começou quase como uma alerta de ‘Não façam música, escolha outra carreira’. Depois da análise eu percebi que não dava para eu ser o estraga prazer da história. Então eu resolvi deixar que as pessoas tirem as suas próprias conclusões sobre esse mercado que é tão nebuloso. São questões humanas, esse livro vai falar o que o artista humano sente quando é pressionado.

D: Às vezes as pessoas esquecem que atrás do microfone e do violão tem uma pessoa que tem medos e problemas também.

S: Lógico, eu não sei em que momento a gente se perde em olhar para as pessoas e esquecer que elas vivem problemas parecidos com os nossos. São outras pessoas que também são um ser humano comum. Então é importante desmistificar um pouco a soberba da imagem do artista, daquele pedestal. Então o que eu puder fazer para matar esse estereótipo eu vou fazer.

D: E o livro sai esse ano?

S: Não, ele ainda não está pronto e também não é minha prioridade agora. Eu tenho que me sentar com mais calma para continuar escrevendo. Mas eu tenho muitos planos de flertar com a vida acadêmica em relação aos assuntos que me interessam. Eu acho que é importante trocar experiência o tempo todo. Eu não me vejo como o cara que vai passar a vida toda gravando disco e fazendo turnê porque isso se torna muito monótono. Eu quero ficar em casa também, quero curtir minha família. Eu tenho muitos outros interesses, e eu quero aproveitar essa minha multiplicidade para saracotear em campos diferentes. Com certeza isso pode confundir as pessoas sobre o meu posicionamento, mas o que eu posso fazer? Eu sou assim.

Confira “A Dois” a nova música do Suricato com o Vitor Kley:


int(1)

“Faço canções para me curar, não entreter”, Suricato diz como dialoga com o mundo