Se pararmos para pensar nas maiores perdas do rock, a lista não é nada pequena. Tivemos perdas trágicas como a de Lennon, outras previstas, mas que mesmo assim causaram impacto, como as de Freddie Mercury, Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix, entre outros. Mas, nada marcou tanto como a morte, também esperada, devido ao seu comportamento autodestrutivo, como a morte de Kurt Cobain, líder do Nirvana, um nó na garganta que o rock, mesmo passado mais de 10 anos, ainda não engoliu.
Kurt foi figura central do grunge, cena nascida em Seattle que fez o rock voltar às paradas e ser ecoado pelos quatro cantos do mundo. Sem dúvida, das bandas que compunham a cena (Pearl Jam, Mudhoney, Soundgarden, entre outras) a mais influente foi Nirvana, uma espécie de “Beatles do grunge”, banda que liderava uma geração de cabelos compridos, que usava bermudas, tênis e camisas de flanelas, sem censura, numa época de estádios lotados e de performances viscerais ao vivo, onde no final, destruíam-se guitarras, baterias, baixos e o que houvesse pela frente.
Cobain, com seu jeito ‘autodestrutivo de ser’, levou o espírito niilista do ‘movimento’ às últimas conseqüências e se suicidou em 8 abril de 1994. No bilhete que deixou, desabafou: “O fato é que eu não posso enganar vocês, ou qualquer um, simplesmente não é justo para mim nem para vocês. O pior crime que eu posso pensar seria o de enganar as pessoas ao fingir que estou me divertindo 100%. Sou uma pessoa de humor muito errático e não tenho mais a paixão. Paz, amor, empatia, Kurt Cobain”.

Questionados pelo Virgula, alguns músicos elegeram o suicídio de Kurt como o pior momento do rock, entre eles, o baterista do Capital Inicial, Fê Lemos. “Houve uma entre safra, ali nos anos 80, com pouca coisa boa acontecendo e, de repente, surge o Nirvana. Foi um sopro de vida e depois toda a onda que rolou com o rock de Seattle. E poxa, ele era o cara. E de repente acontece isso. Esse foi o pior momento do rock”, diz ele.
Antes de ter puxado o gatilho com a sua mão esquerda, Cobain havia ingerido grande quantidade de heroína, mas não o suficiente para matá-lo. Talvez, se não tivesse uma arma na mão, o máximo que teria acontecido era um replay da overdose de heroína que ele havia tido em 1993 e outra no dia 4 de março de 1994, em Roma, à base de champanhe e sedativo.
Neste episódio, Cobain supostamente estaria tentando se separar de sua esposa, a cantora Courtney Love, com quem se casou em 1992, no Havaí, e teve uma filha, Frances Bean. Como já tinha dito que “preferia morrer a se separar” e sempre se sentiu envergonhado por não ter uma família tradicional, basta ligar os fatos para tentar saber o que passava pela cabeça de Kurt naquele dia de abril de 94.
O que diferenciava Kurt dos outros?
Para Everett True, um dos primeiros jornalistas a divulgar o Nirvana na Inglaterra, Cobain foi alguém que carregou uma sensibilidade diferente no mundo “macho” do rock e do punk, um dos fatores que o diferenciou de outros artistas de sua época e o colocou entre os grandes do gênero.
Mas, havia mais em Kurt. E para os jovens dos anos 90, Kurt era uma espécie de porta-voz. Letras descompromissadas, ou sobre sua vida pessoal ou contra a América, cantadas com uma voz rouca, como se contivesse raiva, angústia, diferente dos ícones dos anos 60 a 80, cantando sobre os sentimentos de uma geração, algo que seria tema de Smells Lke Teen Spirit.
Se vendas de disco dizem alguma coisa sobre a importância de um artista, os números falam por si: somando todos os álbuns do Nirvana, são quase 30 milhões de discos vendidos. Em média, por ano, vendem-se 230 mil cópias de Nevermind e 120 mil do acústico MTV.
Em entrevista recente ao Virgula, a cantora Pitty disse que Nevermind foi o disco que mais marcou sua vida. “Foi um disco que eu ouvi numa fase da minha vida que mudou a minha cabeça e a de uma geração”. Para a cantora, um outro diferencial do Nirvana foi que a banda encerrou a “era farofa”, de bandas “debulhando seus instrumentos e de visual espalhafatoso”.
Come as you are: o rock depois do Nirvana

Depois de Kurt, o mundo do rock ficou em choque, mas dá pra dizer que muito se fez a partir do seu legado. O jeito ‘Nirvana’ de ser e tocar influenciou, uns mais outros menos, uma leva de novas bandas. Há algo no nu-metal de bandas como Nickelback e Limp Bizkit, e na mistura do pós-punk com o rock dos anos 90 do Franz Ferdinand.

No Brasil, a febre do grunge influenciando o rock nacional e as gravadoras começaram a apostar nas bandas independentes, e a partir daí, alguns movimentos começam a ganhar força. Foi o caso do mangue beat, que revelou bandas como Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A.

Em alguns lugares, o grunge provocou reações adversas. Na Grã-Bretanha, cansados da predominância da pauleira de Nirvana e companhia, algumas bandas tramaram um som e uma postura mais leve. Nascia o chamado brit-pop, cena que revelou bandas como Oasis, Suede e Blur. Steve Sutherland, que na época editava a revista New Musical Express, conta que na mesma semana em que Kurt Cobain morreu, a NME publicava a resenha do album Parklife do Blur. Logo em seguida saía o primeiro álbum do Oasis. Os dois álbuns, segundo Sutherland, eram típicos de uma época vibrante, com várias bandas inspiradas por grupos tipicamente ingleses dos anos 60, como Kinks, Beatles e Small Faces.

Só pra constar

O Nirvana nasceu em 1987, depois de Kurt se juntar ao baixista Krist Novoselic e ao baterista Dave Grohl para gravar uma fita demo. Dois anos depois, eles lançaram seu primeiro disco, e em 1991, lançaram o que seria um dos discos mais importantes do rock: Nevermind, que tinha entre suas faixas Smeels Like Teen Spirit, Lithium e Come As You are.

No dia 1º de abril de 1994, Kurt deixou a clínica de reabilitação, que ficava na Califórnia, e horas depois foi dado como desaparecido. Uma semana depois, o eletricista Gary Smith achou Kurt morto, na casa do cantor, com uma arma próximo ao corpo. Ele havia se matado com um tiro na boca, aos 27 anos.

A morte de Kurt foi um choque para o mundo do rock, um verdadeiro nó na garganta, mais um ícone perdido. Mas, mais de uma década depois, o seu legado mostra que o lugar do Nirvana na memória dos fãs e das bandas que vieram depois, está longe de perder o seu lugar.

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