Veja fotos de divulgação e da coletiva

Baixe as músicas do cantor

O pocket show com Otto, 35 anos, já estava marcado quando soube que teríamos 15 minutos antes com ele; melhor ainda. Sem cerimônias, o cantor se sentou com uma roupa toda branca, com sua garrafa de água na mão e despejou sobre nós toda a sua cultura, os seus conceitos e sua espiritualidade.

Para quem não o conhece, fica a impressão de rude, mal-educado e de ter músicas estranhas, mas basta uma conversa de dez minutos para perceber a verdadeira pessoa e artista que ele é. E logo já se intitulou, com um sorriso no rosto: “sou pernambucano, nordestino e brasileiro, músico e compositor”.

Com suas palavras e um sotaque gostoso de ouvir, tivemos um verdadeiro bate-papo de bar. Ele falou de seu novo disco, Sem Gravidade, um trabalho em que ele viajou por lugares diferentes (Amazônia, Chapada Diamantina). Mas por quê? Na sua opinião, poder sair da vida urbana e tentar organizar a nossa mente é fundamental, “é um respiro na alma das pessoas”, diz ele.

Opa, alma, espírito, esse é um dos assuntos de que Otto mais fala. O cantor diz que não tem uma religião definida, será? “Sou católico, sou budista e sou guerreiro pelo candomblé”. E ainda complementa “Para mim, Deus é o universo”.

A gente tá falando um monte de coisa e cadê a música? Foi bem por aí que se deu a entrevista, Otto respondia todas as perguntas com histórias e “teve uma vez….”. Na primeira pergunta da coletiva, ele falou, falou e “Qual é a pergunta mesmo?”, disse ele ao se perder no meio da resposta. E assim foi… entre batucadas, perguntas e respostas seguiu o pocket show, com o bom humor do grande contador de histórias. Além disso, ele já falou sobre seu próximo disco. Próximo?! É isso mesmo, o álbum Certa manhã acordei de sonhos intranquilos. Não, não é o verso de uma música, é o título do CD: “Procuro não mais carimbos de título e sim mais frases”, explica.

Mas nem só de alegria foi a entrevista, Otto demonstrou seu interesse em alertar a população brasileira: “O Brasil está numa época de culto ao glamour, isso prejudica a alma”. E complementa: “Se você depender da mídia, da televisão, da massificação, você perde a sua alma”. Para ele, o ser humano não consegue buscar sua identidade em meio a tudo isso.

E não parou por aí. Otto fez uma crítica aberta aos grandes jornais de São Paulo e Rio, que preferem dar destaque a bandas estrangeiras a promover o trabalho de um brasileiro. “Podiam ter mais respeito com a divulgação do meu disco”, desabafa. E ainda cita o exemplo dos EUA que protegem sua música nacional. Além disso, ele se sente um pouco excluído de festivais e shows: “As pessoas podiam interagir mais comigo”, revela. Com isso, Otto mostrou seu grande sentimento nacionalista e patriota: “Eu amo a nação, a ousadia, a inventividade daqui.” E completa: “Levo a sério minha língua, gosto muito do português brasileiro”.

Para mudar um poucos os ares, vamos falar sobre o coração do pernambucano, que está noivo da atriz Alessandra Negrini. Otto se mostrou muito apaixonado e, logicamente, dedicou o disco a ela, que o ajudou muito. “Eu compreendo o trabalho dela e ela compreende o meu trabalho e no amor é a mesma coisa”, conta sobre sua relação.

Chega de falar sobre intimidade e vamos voltar para a música. Otto revelou sua preocupação social com a letra e com a ideologia das músicas. “A música eleva a alma das pessoas…desde o nome do disco, até as letras e os convidados, eu faço tudo com sentimento”, fala. E não foi só isso, “Os artistas têm que seguir, trilhar o bom caminho…a informação, a boa poesia já é um lance social”, conclui. Apesar de admitir nunca ter gostado da escola nem da universidade, ele costuma ler muito. “Eu sou uma colcha de retalhos, eu leio, eu garimpo as melhores palavras”, enquanto cita Nietzsche.

Quando perguntado sobre qual dica daria para os aspirantes a músicos ele dispara: “As pessoas têm que olhar para o país, para o nosso povo, para o universo que tem aqui dentro. A partir do momento que consegui enxergar isso, melhorei muito. Não adianta olhar lá para fora, sem saber das coisas nossas. Siga suas raízes.” Ele mesmo adquiriu muita experiência e mudou muito: “antes eu precisava fumar e tomar meia dúzia de conhaque, agora não, sou eu mesmo falando aqui”.


int(1)

Entrevista com o cantor Otto

Sair da versão mobile