O ano era 1968. Enquanto estudantes saíam às ruas e o governo procurava repreender toda e qualquer manifestação contra as suas idéias, na música, diversos artistas abusavam da criatividade e driblavam a censura na música.

É nesse ano que os Mutantes lançam o seu primeiro disco, homônimo, e que é considerado por boa parte da crítica como o mais importante disco do rock nacional.

No contexto histórico, o grupo e o disco vinham contribuir para algo que a bossa-nova e os tropicalistas já tinha começado: criar uma identidade nacional para a música e mostrar que, pra fazer barulho, eles sabiam se virar. Morando em um país onde os pedais de efeito não existiam, os irmãos Batista provaram que a necessidade é mãe da criatividade.

O álbum tem 11 músicas que, 40 anos depois, ainda são consideradas clássicas e ganharam nova roupagem na voz de vários artistas (até os gordinhos do Magic Numbers se renderam e, quando passaram pelo Brasil, fizeram uma versão doce de Baby, uma das faixas do disco).

A qualidade do disco se deve à inventividade melódica do grupo. Claro que a qualidade das letras também conta. Caetano Veloso contribui com três composições que se tornariam clássicos da música popular brasileira: Panis et Circense, A Minha Menina e Baby.

O que faz de Mutantes um disco clássico é o seu ineditismo para a época e o seu distanciamento dos clichês roqueiros e a diversão com a qual Rita Lee, Arnaldo e Sérgio Baptista faziam música. O disco contou com a ajuda de George Martin (produtor dos Beatles) e de Rogério Duprat, um dos mais importantes nomes do tropicalismo, e com quem a banda já tinha trabalho no álbum Tropicália – Panis et Circense. O resultado, portanto, não poderia ser outro: puro experimentalismo.

As 11 faixas levam o ouvinte a viajar por sons esquisitos, músicas com tom de desenho animado, louvor a Gengis Khan e à insurreição revolucionária. Curioso é que apesar de tanta inventividade na sonoridade do disco, Mutantes traz apenas três composições de autoria do grupo (Senhor F, Ave Gengis Khan, O Relógio e uma parceria com Caetano, Trem Fantasma).

Apesar de toda a novidade, na época, o disco vendeu apenas 10 mil cópias. Mas a gravadora continuou apostando no grupo, e num futuro próximo, não se arrependeu da decisão. O disco entrou na lista da revista Mojo dos álbuns mais experimentais de todos os tempos. Ao comentar o disco, a revista diz que a banda acabou e seus integrantes enlouqueceram. Disso, pouca gente duvida hoje.

Disco: Os Mutantes – Mutantes
Ano: 1968
Faixas:
1. “Panis et Circenses” (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
2. “A Minha Menina” (Jorge Ben)
3. “O Relógio” (Os Mutantes)
4. “Adeus Maria Fulô” (Humberto Teixeira/Sivuca)
5. “Baby” (Caetano Veloso)
6. “Senhor F” (Os Mutantes)
7. “Bat Macumba” (Gilberto Gil/Caetano Veloso)
8. “Le Premier Bonheur du Jour” (Jean Renard/Frank Gerald)
9. “Trem Fantasma” (Caetano Veloso/Os Mutantes)
10. “Tempo no Tempo” (John Philips)
11. “Ave Gengis Khan” (Os Mutantes)


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Disco clássico: Os Mutantes, uma viagem experimental