Diogo Nogueira

Do samba de raiz ao samba-canção, o novo disco de Diogo Nogueira, Porta-Voz da Alegria, reafirma o filho de João Nogueira (1941-2000) como artista que promove uma conversa entre popular e pop. “O samba é POPular e é um ritmo genuinamente brasileiro, isso é pop e o pop é justamente esse território de fronteiras amigáveis a todo tipo de influência”, afirma em entrevista ao Virgula.

Criado em rodas de samba, Diogo chegou a jogar futebol profissionalmente pelo Cruzeiro de Porto Alegre antes de decidir se dedicar à mesma profissão do pai.

Porta-Voz da Alegria sucede a Bossa Negra, parceria com o bandolinista Hamilton de Holanda, lançado em agosto de 2014. Os trabalhos anteriores dele são Mais Amor (2013) e Tô Fazendo a Minha Parte (2009).

Leia a entrevistona que fizemos com o cara, em que ele fala sobre o novo álbum, futebol, paternidade, como é seu cotidiano quando está longe dos palcos, entre outros assuntos.

Porta-voz da Alegria é seu quarto trabalho de estúdio, o que mudou em relação aos seus álbuns anteriores?

Diogo Nogueira – Depois de oito anos, o que muda basicamente é que com o tempo você passa a ter mais propriedade no processo de trabalho. Em Porta-Voz da Alegria, o Bruno Cardoso e o Lelê souberam aproveitar muito mais de mim do que nos projetos anteriores em que eu sempre tinha muito pouco tempo para gravar. É talvez o trabalho no qual mais tive envolvimento em todo o processo e o resultado final reflete isso.

Quis voltar ao samba de raiz e ao pagode após ter feito um trabalho anterior que era mais cool, ligado ao jazz e ao choro, o Bossa Negra, com Hamilton de Holanda?
Diogo – Esse novo trabalho é eclético e tem de tudo, do samba-canção ao samba de raiz, algo de romântico e diferentes nuances. A linha condutora foi a de ser um álbum leve, pra cima, feliz e para mim é igualmente “cool”. A música é infinita e te dá diversas possibilidades, porquê não experimentar todas? É um disco jovem, assim como eu, conectado com o nosso tempo. O Bossa Negra foi também uma interpretação do samba que é muito plural.

Que música do disco mais tem a ver com seu momento atual?
Diogo – Acho que todas, sem querer parecer piegas. É um trabalho que me agrada, que me diverte e que me dá vontade de cantar.

 No repertório do disco estão músicas de compositores como Arlindo Cruz, Almir Guineto, Xande de Pilares, Serginho Meriti, Sombrinha, Toninho Geraes, Paulo Cesar Feital, Pretinho da Serrinha, entre outros. O que caracteriza a atual geração do samba, na sua opinião?

Diogo – Justamente a mistura, a troca de diferentes referências e gerações. Tem também o respeito pelo que já foi feito, sem deixar de lado o que o público quer ouvir nas rádios ou na roda de samba.

Que sensação você espera que as pessoas sintam após ouvir o álbum Porta-Voz da Alegria?
Diogo – Alegria, felicidade e vontade de cantar.

O que você ouve que não é samba?
Diogo – Escuto de tudo, rock, pop, jazz, MPB, mas o samba é e sempre foi a trilha musical na minha vida. É como aquele quadro que fica na casa da sua avó, que passa para seus pais e depois fica com você. Algo presente e íntimo. Apesar de ter herdado uma cultura de samba, sou novo, tenho um gosto eclético e não tenho preconceitos. Não sou fechado a um determinado som, se eu gostar, consumo, ponho no telefone e ouço aonde eu estiver. A mistura é inteligente, a música é infinita e se fechar em um “gueto” musical, não é bacana. Vivemos em um país onde a mistura é que dá o sabor, seja na comida, na nossa gente, na nossa cultura musical.

O seu samba tem aproximações com o pop, com a música romântica. O samba, na sua opinião, é a música pop brasileira?
Diogo – O samba é POPular e é um ritmo genuinamente brasileiro, isso é pop e o pop é justamente esse território de fronteiras amigáveis a todo tipo de influência. Em Porta-Voz da Alegria, esse samba tem cara de partido alto, às vezes de samba-canção, de pagode, de MPB, de romântico e no final tem cara de Diogo Nogueira. Tenho viajado com o musical SamBRA e a cada espetáculo vejo como o público reage da mesma maneira a sambas de diferentes épocas e estilos, ao final o samba é samba, nossa mais forte identidade, seja qual for a “pegada” ou a levada.

Já sofreu preconceito no samba pelo fato de ser um branco de olho azul?
Diogo – Se fosse assim, Chico Buarque não teria vez no samba, isso é uma grande bobagem. O samba não tem preconceito, talvez seja o mais democrático e agregador dos ritmos. Sou tão branco e tão negro quanto a maioria dos brasileiros.

Você chegou a ser jogador profissional de futebol, esta sua paixão pelo futebol se reflete nas suas composições de alguma maneira?
Diogo – Na dedicatória de Porta-voz da Alegria cito o momento do gol como um das coisas que levam alegria ao povo, assim como a música, o carnaval, as crianças, etc… O futebol para mim é uma paixão, assim como a música, que é um campo que oferece diversas possibilidades, que me coloca ao lado de outros “jogadores”. Tento jogar “nas onze” e corro para o gol para no final celebrar com a galera. Acho que isso não muda, no final a gente quer mesmo celebrar e por isso dei esse nome ao trabalho.

Vê o futebol como arte? Crê que os casos de corrupção na Fifa tem relação com a derrocada do futebol brasileiro. Este tipo de incidente afastará as pessoas do futebol?
Diogo – Quando bem jogado sim, é ruim quando o entorno do que está em campo prejudica o jogo em si. Não deveria ser assim, mas a paixão pelo futebol não mudará em nada. Quando uma bola entra no gol contra o adversário, não há corrupção que acabe com essa alegria.

Em que aspecto considera que a obra do João Nogueira tenha sido mais revolucionária?
Diogo – João Nogueira foi um cronista muito especial do seu tempo. Compôs e cantou de uma forma muito original, por isso é considerado um dos maiores compositores do Brasil e suas músicas sempre fizeram as pessoas refletirem. Além disso, sempre teve uma atuação política muito forte, como a criação do Clube do Samba, que surgiu para “lutar” contra a falta de espaço para o samba em um momento em que a discoteca estava invadindo as capitais. Acho que o Clube do Samba foi um dos movimentos mais revolucionários da nossa recente música popular brasileira.

E no relacionamento pessoal com o seu pai, qual considera a maior lição deixada por ele?
Diogo – O respeito pelas pessoas e pela música, a paixão pelo samba e pelo público. Ele viveu sua arte antes de mais nada, fez amigos e não colocava o negócio antes do prazer de viver e fazer o que o fazia feliz.

Você está sempre muito bem vestido, é você mesmo que escolhe as suas roupas?
Diogo – Sim, escolho o que visto no dia a dia, mas quando tenho algo relacionado a trabalho como shows, editoriais, vídeos e agora no teatro, tem sempre alguém que toma conta do figurino.

Você tem um filho, o Davi, como procura educá-lo em relação à vida e à música?
Diogo – Quero que ele desenvolva sua personalidade, que encontre seus ideais e lute por seus sonhos. Sempre que puder darei os toques que um pai dá a um filho, mas não gosto de impor minha vontade. Ele quis subir em um palco para tocar e eu atendi ao desejo, porque não devemos reprimir as crianças. Hoje em dia, elas sabem muito mais o que querem do que na minha geração. Davi está na contra-capa do meu novo disco, tocando o tamborim, ele é para mim um “porta-voz da alegria” assim como todas as crianças. Ele tem a música no sangue, acho é coisa de família.

Seu Instagram tem muitos selfies, se considera um cara vaidoso?
Diogo – Hoje em dia, o Instagram é uma espécie de cartão de visitas de um artista. Não sou diferente de ninguém, cuido da minha imagem como qualquer homem. Sou vaidoso na medida do necessário, nada além do normal.

Como é um dia normal do Diogo Nogueira quando não está fazendo shows?
Diogo – Fico em casa, escuto música, vou para a cozinha, reúno meus amigos e bato a minha bola, participo de dois times. Também gosto de pegar minha moto e ir para praia, gosto de surfar. No meu novo clipe Tenta a Sorte, peguei umas ondinhas.

Qual é o traço de sua personalidade que as pessoas não conhecem do Diogo Nogueira?
Diogo – Sou um cara caseiro. Gosto de ficar em família, curtir minha mulher, meu filho e os amigos.

Diogo Nogueira

Diogo Nogueira
Créditos: Guto Costa/Divulgação

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Diogo Nogueira lança disco e afirma que o samba é pop

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