Já faz um bom tempo que o Cueio Limão vem aparecendo nos palcos dos festivais de hardcore do sudeste, mesmo caminhando na contramão de grande parte do público que freqüenta os eventos do estilo.

Sem depressão nem tristeza, o quinteto formado na cidade de Dourados, interior do Mato Grosso do Sul, virou atração obrigatória nos grandes shows com seu pra lá de bem humorado hardcore melódico. A banda lançou recentemente seu terceiro álbum de estúdio, Paraguayo, gravado no Rio de Janeiro com a produção de Rafael Ramos (ex-Baba Cósmica) em toque de caixa, mas com muita pegada e qualidade.

“Os caras ficaram acampados no estúdio e vieram pro Rio muito bem ensaiados. Zoavam na hora que tinham que zoar e se comportavam muito bem na hora de trabalhar. Rola muita disciplina no Cueio”, comenta o orgulhoso produtor.

No novo álbum a banda soa muito a vontade, mostrando sua evidente evolução desde o primeiro CD, Quem Matou o Bozo, que virou sensação entre os fãs do estilo no ano de seu lançamento.

“Começamos a gravar no Rio e passamos a noite no estúdio. Ai passamos o dia todo gravando e dormimos lá novamente. Ainda bem que nossos camaradas do Strike moram ali perto do estúdio e cederam o apartamento deles pra nós. Ficamos mais oito dias lá com eles”, comenta o guitarrista Mano Torquato. “Gravar com o Rafael foi demais. Sempre fomos fãs do cara e da banda dele, o Baba Cósmica, e do lance dele ter descoberto os Mamonas Assassinas. Quando tivemos essa oportunidade foi como realizar um sonho. O cara é roqueiro mesmo.”

Além de ser o baterista e principal compositor do Baba, Rafael ainda produziu discos de grandes artistas como a baiana Pitty e até dos Los Hermanos. Além da verve roqueira clássica, o produtor sabe onde por as mãos para dar aquele impulso a mais no disco, como comenta o próprio Mano.

“Ele falou que nós tínhamos que ter uma balada sacana. E nós sempre fazemos um humor e tentamos ser um pouco irônicos assim. Ai ele falou ‘não pô. Mas vocês tem que enfiar o pé na jaca e tal’ e ai a gente gravou uma música chamada Garota Suvaqueira“, ri o guitarrista. “Mostramos pra ele e ele pirou!”

Sem depressão

Mas de 2000 pra cá, muita coisa mudou no cenário hardcore do Brasil. As bandas do chamado pós-hardcore ou emocore começaram a tomar conta dos festivais e das casas de show, diminuindo o espaço das bandas mais bem-humoradas como os Trapizombas, Thompsons, Gramofocas e Fistt.

“A cara. O negócio é que rola muito essa história de rock de cabeleireiro sabe?”, brinca F.Nick (baixista e vocalista da banda jundiaiense FISTT). “Parece que não tem mais tanto espaço pras bandas que nem a gente.”

E as temáticas abordadas pelas bandas citadas nem são tão diferentes assim das ditas bandas emo. A grande diferença é enfoque dado para as situações, como explica F.Nick: “Nós sempre tivemos essa coisa de zoar os nerds sabe? E zoar os emos. Mas nós também falamos sobre os nossos problemas, só que em vez de chorar nós vamos é encher a cara” diverte-se.

Rafael Ramos também vê o bom-humor como a mais natural das maneiras de se lidar com os fatos da vida, principalmente se o assunto é hardcore. “Quando eu escrevia as músicas pro Baba eu não tentava ser engraçado. Eu era muito moleque, então eu queria mesmo é falar do cara que se ferrava no puteiro e tal. Ai acabava que ficava daquele jeito. Mas era espontâneo sabe? Nós não estávamos atrás da piada.”

O Cueio Limão também persegue a diversão em primeiro lugar, mas não aponta o dedo pra ninguém quando a questão é gosto. “Eu particularmente não gosto muito do som dessas bandas novas do mesmo jeito que elas não devem gostar do som que a gente faz. Mas eu vejo essa mudança como uma coisa normal. Uma coisa natural mesmo”, comenta Mano.  

No Caminho

“Agora nós estamos morando em São Paulo”, explica o guitarrista. “Nós mudamos para a capital em janeiro porque a demanda de shows pra cá era bem maior e quando não era por aqui era no interior.” E a oportunidade de fazer mais shows fez brilharem os olhos dos meninos, como eles mesmos gostam de dizer, do mato.

“Nosso negócio é tocar. Se desse pra gente tocar todo dia nós tocaríamos todo o dia. A gente não quer aparecer na TV, não quer tocar só na rádio. Queremos é pegar a guitarra, ligar, tocar e cantar em qualquer lugar que a gente puder entendeu?” Desabafa Mano Torquato. “Eu não consigo entender esse negócio de banda que só quer aparecer na revista, ver se ta bonitinho, lançar moda ou então seguir moda, sei lá. Eu gosto é de tocar! Se você me der uma guitarra eu vou tocar. A gente só não toca 24 horas por dia porque senão vamos ser despejados.” Ri o divertido guitarrista.

E esse amor pelo palco se reflete em oportunidades para o Cueio Limão, que está sempre tocando por todo o estado de São Paulo e tendo sido uma das principais atrações do último ABC Pró HC, que teve o A New Found Glory como headliner.

“Não deu pra eu assistir o show do NFG cara. Eu tava com uma ressaca brutal!” Ri ele. “Ainda bem que deu pra tocar, a base de muitos remédios. Muito Engov.”

Influências

“Eu sinto falta da época em que as bandas eram mais bem-humoradas sim. Bandas tipo os Raimundos, que foram uma grande influência. Antes até o Ultraje a Rigor e o Joelho de Porco, daqui de São Paulo. Graforréia Xilarmônica que é lá do sul. Elas colocavam humor nas letras. Não era tão escrachado. Era mais sutil e até mais político. Sinto muita falta” comenta o guitarrista.

Além dessas, o Cueio Limão deve bastante ao próprio Fistt, que foi quem os trouxe para tocar em São Paulo pela primeira vez.

“Antes tinham muitas bandas divertidas né? Tínhamos nós, os Trapizombas, o próprio Cueio quando começou a vir pra cá, o Worms, o Vinte… Eram bandas que tinham a ver com o nosso som mas a maioria não tem nem mais o espaço que merece” Declara F.Nick, do Fistt.

“Jundiaí foi o nosso primeiro show fora do estado do Mato Grosso do Sul. Dai o F.Nick convidou a gente pra ir pra lá tocar em um show que ia rolar Fistt, CPM 22 e o Dead Fish. Essas eram as bandas que a gente endeusava mesmo. Foi a realização de um sonho. Tocamos lá e vendemos um monte de demos” Relembra o guitarrista. “Agora toda a vez que a gente volta pra Jundiaí sempre tem uma galera que leva as demos pra mostrar pra gente que tava nesse primeiro show. Muita gente curtindo. É uma galera que acompanha a gente desde o começo e nós sempre ficamos ansiosos pra voltar pra lá.”

E o Cueio volta para a cidade do ponto de partida no próximo dia 29, novamente ao lado dos camaradas do Fistt e mais várias bandas.

“É uma cidade que é importante pra caramba para a gente. Fora que tocar com o Fistt é demais. Eles são assim. Se libertam!” comemora Mano.


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Cueio Limão e o resgate do rock bem humorado