Coral e Chico César se unem em “Ressonância”, sobre o tempo e o amor (Coral por Lina Mintz. / Chico César por José de Holanda)

No dicionário, “ressonância” pode soar intensa e enigmática: estado de um sistema que vibra em frequência própria, com amplitude acentuadamente maior, como resultado de estímulos externos que possuem a mesma frequência de vibração; essa vibração.

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Na canção, composição solo de Coral com produção de Chico César e Alexandre Fontanetti, onde a artista baiana radicada em Minas e o artista paraibano cantam juntos, “Ressonância” soa intensamente brasileira: com versos guiados pela investigação do tempo e do amor, e sonoridade que celebra um encontro entre dois artistas surgidos no nordeste do país, a obra vibra como uma música originalmente popular. Uma conjugação de saudade e vontade de Brasil. O single “Ressonância” chega à meia-noite desta sexta-feira, 23 de junho, às plataformas de streaming, e ganhará também videoclipe às 11h da manhã do mesmo dia. O lançamento é do selo MacacoLab, que cuida também de lançamentos de Nath Rodrigues, Lagum e Paige.

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A composição, feita inteiramente por Coral, surgiu como uma poesia sobre seu pai, que havia sofrido um acidente, e a artista soube da notícia por meio de uma foto dele em um tubo de ressonância magnética. Os sentimentos de insegurança e medo, as saudades de tempos anteriores e de tempos que passou ao lado dele, foram gotejando e se transformaram em versos.

“Foi uma reflexão sobre o tempo, sobre saudade, sobre infância, o tempo que não pode ser perdido. E sobre o presente também”, compartilha a artista, que tem no tempo um ponto central de reflexão para a canção.

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O tempo costura a narrativa da composição e também a narrativa pessoal de Coral. “Sou uma pessoa muito ansiosa e muito ociosa às vezes. É uma guerra diária. Minha relação com o tempo é de pergunta e resposta o tempo inteiro. Eu pergunto, o tempo responde, aí daqui pouco o tempo me pergunta e eu respondo de volta… De fato, o tempo, pra mim, é lei que não se burla.” – diz ela.

A melodia sertaneja – que costura as vivências suas e de seu pai – logo fez Coral lembrar de Chico César, artista que marca a sua história desde o começo, e seu processo artístico enquanto cantora e compositora. Sobre sua participação, Chico César conta que se identificou com a canção e com a artista, também nordestina.

“Há poucas canções sobre essa relação de amor com o pai, das identificações e não-identificações. Sempre que dois artistas se encontram, algo se revela para além da obra de cada um, das manifestações de expressão de cada um. O que vem é sempre uma nova expressão”, diz Chico César.

“Ressonância” chega num momento simbólico: o mês de junho – mês do Orgulho LGBTQIAP+ – e em meio às festividades de São João. Como travesti, cancioneira e nordestina, Coral deseja celebrar uma festa que lhe é tão querida, e apresentar ao público sua arte, que é uma forma de subverter a realidade preconceituosa que ainda assola o Brasil, celebrando a existência de corpos dissidentes.


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Coral e Chico César se unem em "Ressonância", sobre o tempo e o amor