Com produção e arranjos de Dustan Gallas, do Cidadão Instigado, Paula Tesser lançou recentemente seus segundo álbum, Valha.

Nascida na França, filha de pais brasileiros, ela retornou à Fortaleza em 2007, depois de 15 anos morando em Paris. Na bagagem, além de um doutorado em sociologia sobre o mangue beat e Chico Science, a cantora também trouxe a experiência de ter cantado e gravado na Europa e composto trilhas para filmes.

Em 2010, acompanhou a cineasta francesa Agnés Varda em sua visita à Escola de Artes Visuais de Fortaleza. O fruto do encontro foi a participação de Paula cantando no filme Agnés Varda De Ci, de Lá.

Ouça Paula Tesser

Como apresentaria a si mesmo para alguém que gosta de música brasileira alternativa, mas que ainda não te conhece?

Não é algo fácil de se fazer, falar de mim e sobretudo apresentar uma leitura fiel daquilo que eu sou como cantora é tarefa de titã! Mas andei pensando e acho que encontrei algumas palavras que possam me traduzir, me representar. Sou uma cantora de voz cristalina, o canto lírico sempre me instigou. E gosto de seduzir, provocar nos outros a sedução do canto das sereias (risos).

Cantar docemente com leveza e chame, penso nas divas francesas Juliette Greco e Edit Piaf, que são densas com certeza mas que seduzem através da voz. Na musica o que me atrai a primeira vista é a melodia, mas com o tempo aprendi a dar valor as palavras, elas tornam a melodia mais bela ainda. Por isso as letras tem que trazer algo, e não precisa ser nada de profundo, pode ser divertido, gosto das boas pilherias de espírito, como se dizia na Padaria Espiritual (Ceará).

Sou de natureza “espiegle” como diria o francês, sou saltitante, super ativa e por isso cada vez mais tenho prazer em cantar “musica de dançar”. O Valha demonstra isso quando comparado ao primeiro disco Retrato do vento. Talvez por isso tenha gostado tanto do grupo francês General Elektriks, uma musica que pra mim traz melodia e energia, é pra cima, da vontade de seguir em frente.

No texto de divulgação de Valha você disse que ao lado de Dustan foram buscar compositores cearenses da geração atual e das anteriores, que características crê que sejam mais marcantes na MPB cearense?

Penso no Fagner com aquele seu cantar trêmulo, um misto de nordestino com árabe. Acho que pensei nisso ao cantar Pé de espinho, uma lembrança da maneira de cantar da Teti, cantora do Pessoal do Ceara. No mais, nao acredito que tenha uma estilo de musica tipicamente cearense.

No entanto vejo uma característica sim e que é muito presente sobretudo no pessoal do Ceará que é marcante : a poesia. E nesse sentido o Valha é bem representado quando traz duas músicas do letrista e arquiteto Fausto Nilo. Essa atenção com as palavras talvez seja o grande marco entre as boas musicas de antes e as ruins de hoje (sem generalizar).

Que outros nomes da nova cena vocês gosta e indica?

Gosto muito do som do Rafael Castro, ouvi muito o disco Trabalhos Carnívoros do Gui Amabis, e a Cibelle gosto muito. Do Ceará, o disco Revolução do Oscar Arruda, e das cantoras Natasha Faria e Soledad Brandao, que ainda estão produzindo seus discos.

Vê características comuns entre o seu trabalho e dessa galera, um zeitgeist no ar?

O zeit – o tempo! O contemporaneismo das duas coisas, de mim e deles!


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Paula Tesser lança álbum produzido por Dustan Gallas, do Cidadão Instigado