O caso recente do coronel, supostamente assassinado pela própria arma e pela própria namorada, nos leva a uma tétrica ironia: não adianta desarmar as pessoas se não desarma o coração. De terroristas a amantes traídos, o gatilho é o mesmo.

Coloque à parte as suspeitas de corrupção, mensalinhos, inimizades políticas e vamos pelo viés romântico e igualmente revelador.

Lembram do General Custer e o massacre do Little Bighorn? E dos 111 do Carandiru? O General Custer queria ser presidente dos Estados Unidos da América exterminando índios. Em 1876, graças a sua arrogância, foi morto junto a sua sétima cavalaria por Touro Sentado.

O Coronel se elegeu deputado depois da batalha no Carandiru. Seu número? Cento e onze. Mesmo condenado foi absolvido e, apesar da indignação de entidades humanistas, mesmo em tempos de PCC, etc e tal…acabou nas mãos da namorada.

Lembro dos versos de algumas canções: “O amor só constrói, ou o amor só destrói ?” … ou “O amor vai nos dilacerar novamente!”. Quem já não viveu, em algum momento, a ambigüidade dessa chama que aquece e que queima? O amor é bom? Há controvérsias, principalmente nos tribunais.

God help the beast in me canta Johnny Cash. Como num filme de terror em que o ursinho de pelúcia se transforma em serial killer, temos aí um clássico da dramaturgia: o amor que transforma e transtorna. O noivo que faz reféns num banco só pra ver a noiva, seria um sucesso no cinema!

Outro dia vi um psicanalista conversando com uma almofada, numa técnica chamada espelho, fui embora. Quis levar a almofada e não pude. Queria ser um pitbull e estraçalhar aquela almofada.

Separações são, às vezes, pequenos assassinatos e como tal são vingados. A vingança é o último capítulo de um amor que se mata.

Que inimigo é esse que dorme conosco? Que beija nossa boca e come nossa comida? Que vai com você para praia e deita no colo? Que inimigo terrível.

Como um peixe na rede você se debate. Pensa que está vivo, mas já morreu. Não há nada mais triste no mundo que o estampido dessa bala.

Eu tenho um amigo que ganhou um cachorro. Eles se adoravam. No primeiro ano lhe dava toda atenção e amor. Um ano depois meu amigo foi deixando-o de lado. Aí, toda vez que ele chegava em casa o cão rosnava e ameaçava atacar, mas só ameaçava… Meses depois, num dia, mal humorado, ele chegou em casa, e assim que o cão rosnou ele lhe deu uma tremenda surra! O cão nunca mais rosnou, nem se manifestou. Alguns meses depois, ao chegar em casa feliz e cheio de boas notícias o cão o atacou subitamente arrancando-lhe o braço, sem ter feito alarde. O mesmo braço que o espancou.

O amor, a arma, o cão. Um telefonema que se atende e um que não se atende.

O amor, dependendo da vítima, pode ser uma bala dum-dum.


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Coluna do Nasi - A bala dum-dum