Recebi de Dany Araújo, de Curitiba, informações sobre o Movimento Musica Curitibana – MMC. O responsável pela divulgação deste movimento é o Álvaro Neves Jr. – mcuritiba@globo.com. O lema dessa galera deve ser: “Unidos venceremos!”.

No começo do que hoje é conhecido como o rock de Brasília, em 1980/1981, o Renato sugeriu o nome ‘A Organização do Desespero’ para a nossa turma, uma visão utópica do que nós poderíamos atingir se todos uníssemos esforços e caminhássemos juntos. Mas rapidamente o nome virou ‘A Desorganização do Desespero’, por refletir melhor o espírito da turma de Brasília…Se tivesse havido esse espírito aglutinador talvez mais bandas teriam conseguido uma projeção maior. Mas lá valia o cada um por si. Todos nós nos esforçamos para produzir releases, adesivos, posters, camisetas, e fizemos vários shows juntos. Mas cada banda se virava sozinha. A nossa idéia de movimento era de passar a maior parte do tempo juntos, fazer acampamentos, invadir as festas com nossas fitas K7, resumindo, nos divertir com os amigos. Aqui, com o MMC, existe um esforço coerente e organizado visando dar o máximo de visibilidade para as bandas. Parabéns! Isto posto, vamos às bandas:

Extromodos: Apresentam o CD ‘Pra Ficar’, com 13 músicas. Bom trio, excelentes músicos. Ecos de Paralamas, Red Hot Chilli Peppers e Hendrix. A melhor música é ‘Língua dos cachorros’, poderia ser um single, tão bom quanto qualquer outro que toca nas rádios hoje em dia. O melhor riff é o da canção ‘Sexo de almas’. Uma produção cuidadosa nos arranjos, na gravação, na capa – gostei do cachorro! Às vezes a performance da banda supera a do vocal, que pode soar repetitivo. Ah, eu samplearia a quebrada de bateria em ‘Loucura de Todo Mundo’, e a usaria como base para uma nova música. Muito boa!

Innexo: CD demo com 07 músicas, apresentando um hard rock estilo anos 90, tocado por músicos competentes. Ecos de Living Colour, Black Sabbath e Rage Against the Machine. O que será que quer dizer “O espírito innexo! Não cansa e nem se entrega na fronteira do tempo que avança?”… Às vezes caem em clichês do metal. Uma inesperada balada de piano, ‘O Poeta…A visão’ merecia uma bela letra e melodia. Com um bom arranjo poderia ser a ‘Changes’ deles.

Trivolve: Um CD demo de três músicas. ‘Até chegar’ é um rock lento que lembra Pearl Jam. ‘Não Preciso Chorar’ tem uma flauta e gaita, instrumento tão pouco usado pelas bandas brasileiras. O som do Trivolve é mais indie, acústico, com uma pegada folk. Pato Fu é uma referência aqui. A melhor canção é ‘Que a loucura me faça’, onde a cantora Mônica Bezerra se destaca. Uma produção mais cuidadosa com os vocais faria bem à banda.

Rock Brothers: ‘Não vou mais’ é a música que abre o CD – demo com seis músicas, ‘A gente vai se encontrar’, desta banda de Londrina. Um rock estilo Rolling Stones, que lembra também o rock das bandas do sul dos EUA, como Lynyrd Skynyrd, e os nossos brasileiríssimos Golpe de Estado, Barão Vermelho e algo de Nenhum de Nós nas melodias. Destaque para o guitarrista e cantor Luke. O rock lento ‘A gente vai se encontrar’ resume as principais características da banda: atenção às melodias vocais, em cima de uma base tradicional de rock, com violões e guitarras, e letras românticas.

Stereo 33: CD – demo com três músicas. Bons músicos, um quarteto com influências de Red Hot Chilli Peppers, Pearl Jam, Barão Vermelho e Golpe de Estado, principalmente nas letras e no estilo de cantar. Tocam um rock pesado baseado em riffs do bom guitarrista Rafael. As melodias de vocal porém não conquistam a atenção, e as vezes as letras acabam truncadas para se encaixarem na melodia.

Anacrônica: O quarteto apresenta um CD – demo com quatro músicas. O som tem uma influência forte da new wave e do pós-punk. Músicas curtas e diretas, com arranjo cuidadoso de vocais e instrumental. As letras fogem do lugar-comum. A música ‘Delorean’ lembrou Bidê ou Balde, e em ‘Deus e os Loucos’ escutei ecos de XTC e Mutantes. O refrão e os backing vocals de ‘Vestígios’ fazem a gente querer ouvir a música de novo. O baixista Marcelinho se destaca, e os vocais compartilhados de Sandra Piola e Bruno Sguissardi dão uma coloração interessante ao som. Os vocais de Sandra são agressivos, mas não são cansativos. A dose certa de ‘atitude’. Uma boa surpresa, o melhor CD desta compilação.

No geral os discos estão muito bem gravados, demonstrando que Curitiba, assim como outras grandes cidades brasileiras, tem todas as condições técnicas e de pessoal para a gravação de bons discos. Os CDs-demo, contudo, traem suas limitações, particularmente na produção dos vocais. É interessante que as bandas aqui representadas passem ao largo da eletrônica, MPB e da música negra como influência. A maioria tem os pés firmemente enraizados nas tradições do rock ‘n’ roll.
Sinto uma falta de ousadia. Muitas bandas parecem não querer correr riscos. Não há nada errado, realmente, se o que você quer é manter uma tradição.

Mas, a fagulha da criatividade, o inesperado, aquilo que faz um artista se destacar dos outros, de alguma forma parece ausente. Para mim, é o que faz a diferença. É o meu graal.
Por outro lado, para os fãs de rock, ter esta quantidade de bandas com toda essa diversidade de estilos é ótimo. Garante diversão para todas as tribos, e o fim das noites de tédio na frente da tv. A cena só tem a ganhar com a profusão de bandas. É normal a gente copiar para depois romper, mas, galera, às vezes chutar o pau da barraca é a opção!

PS: Estas foram as seis bandas das quais recebi material próprio. Outras bandas citadas no MMC são Black Maria, Syd Vinicius, Sexofone, Terminal Guadalupe, Mariatchis. Mais informações: www.escandalorock.kit.net ; www.movimentomusicacuritibana.kit.net

Fê Lemos, além de baterista do Capital Inicial, lançou recentemente seu CD solo e tem como hobby descobrir novas bandas


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Coluna do Fê Lemos - Curitiba Rock 'n' Roll