Diferente de outras cenas, uma característica marcante do britpop foi o fato de que seus principais expoentes não eram assim tão parecidos uns com os outros. Claro que havia muito em comum, mas era bem mais uma questão de localização, estilo de vida e atitude do que o som em si.

Por isso, decidir quem leva ou não a alcunha de “banda britpop” é tão complicado. Seria fácil fazer uma lista enorme, incluindo nomes como Bluetones, Sleeper, Supergrass, Verve, Super Furry Animals, Ash, Gene, Auteurs, Menswear, Echobelly e Catatonia, por exemplo.

Mas, embora cada uma dessas bandas tenha seus méritos, nenhuma chegou tão alto ou foi tão influente quanto as cinco ali embaixo. Afinal, podemos dizer que foram essas que, em 1994, detonaram o movimento que roubou dos Estados Unidos – de novo – o posto de cenário mais relevante e inovador para o rock.

Para ilustrar essa teoria, escolhemos os discos que cada uma delas lançou naquele inspirado ano (ok, um deles foi em 1995, a gente sabe). E que, de quebra, mostram como o britpop foi realmente versátil.

Parklife (Blur) – Se o britpop tivesse que comemorar oficialmente seu aniversário, a data seria 25 de abril. Foi nesse dia que o Blur, uma banda até então mediana e já com dois discos no currículo, lançou Parklife. E, no pacote, um novo jeito de se vestir, dançar e até falar.

Muita gente torceu o nariz para o filhinho de papai Damon Albarn posando de representante da classe trabalhadora e forçando um sotaque cockney, mas das músicas ninguém reclamou. Pelo contrário. Girls & Boys, Country House e Parklife ajudaram o disco a estrear direto em primeiro lugar e a permanecer por 90 semanas nas paradas inglesas.

Definitely Maybe (Oasis) – A grande pedra no sapato do Blur chegou em 30 de agosto. Tudo bem que as provocações na imprensa, as declarações polêmicas e a tosquice do vocalista Liam Gallagher ajudaram no marketing, mas o disco de estreia do Oasis é mesmo genial.

Obcecados pelos Beatles, os irmãos Gallagher conseguiram unir melodias e guitarras aceleradas com perfeição. Se o Blur representava o lado mais pop e ensolarado da nova cena, o Oasis assumiu a porção bebum com o maior orgulho. E deu certo: no ano seguinte veio (What’s the Story) Morning Glory?, o quarto disco mais vendido na história no Reino Unido, com absurdos 14 discos de platina. Só pra situar: Thriller, de Michael Jackson, é apenas o sétimo dessa lista.

His’n’Hers (Pulp) – A guinada pop de Jarvis Cocker, um esforçado sujeito que tentava emplacar desde 1983, foi a melhor coisa que ele fez na vida. Autor de algumas das letras mais cinicamente inteligentes de todos os tempos, foi no disco de 1994 que ele encontrou o equilíbrio: largou seus resquícios mais obscuros e entrou de cabeça no (bom) pop. O resultado foram dois clássicos instantâneos: Babies e Do You Remember the First Time?, que explodiram nas pistas e prepararam terreno para a consagração definitiva. Em 1995, veio o ainda melhor Different Class, com hits como Disco 2000 e o grande hino oficial do britpop, Common People.

Dog Man Star (Suede) – Se já existiam os representantes pop, da boemia e do cinismo, faltava ao britpop um toque de sofisticação. E o papel coube ao Suede, que já tinha sido chamado pela Melody Maker de “a melhor nova banda na Inglaterra” antes mesmo de ter qualquer single lançado, e que, um ano antes, tinha apresentado um elogiado disco de estreia. Mas 1994 foi um ano complicado. Em meio a um conflito interno que culminou com a saída do guitarrista Bernard Butler, a banda gravou e lançou um disco muito menos pop, com músicas longas e elaboradas, com direito até a uma participação de 72 membros da Orquestra Sinfônica de Londres. O resultado surpreendeu e até hoje faz com que alguns hesitem em incluir a banda na lista do britpop. Seja como for, todo mundo tem que admitir que não é qualquer um que consegue uma sequência como We Are the Pigs, Heroine e Wild Ones.

Elastica (Elastica) – Justine Frischmann fazia parte da formação original do Suede. Mas, quando começou a trair o namorado Brett Anderson com Damon Albarn, do Blur, achou de bom tom deixar o grupo. E foi melhor para todo mundo, inclusive para os fãs do britpop, já que ela acabou criando sua própria banda. Em 1994, o Elastica se consagrou com o single Connection, da introdução descaradamente chupinhada de uma música do Wire (Three Girl Rumba, para quem ficou curioso).

O primeiro disco da banda foi lançado em 1995, com uma capa claramente inspirada nos Ramones, outra das influências assumidas, ao lado de Blondie e Stranglers. Na época, a imprensa inglesa tentou colar um rótulo novo, o tal new wave of the new wave, mas não pegou. Ironicamente, o lado mais “macho” do britpop foi representado por uma banda com três mulheres em sua formação.

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