Negra Livre é o primeiro trabalho solo de Negra Li, revelada ao grande público ao participar da música Não é Sério, do Charlie Brown Jr e gravar com o rapper Helião. O repertório pode surpreender aos que esperavam um repertório 100% voltado ao rap, dessa jovem cantora com uma voz poderosa, que começou cantando no RZO (grupo coletivo de rap Rapaziada Zona Oeste). O CD mistura MPB, romantismo, mas não perde o tom crítico. Em entrevista ao Virgula-Música, Negra Li disse que sempre quis fazer isso, “queria explorar novos horizontes”.

E não é de hoje que Negra Li é admiradora da MPB e cita dois nomes que chamaram sua atenção no estilo: Elis Regina e Leny Andrade. “Eu conhecia os maiores sucessos da Elis, Como Nosso Pais, mas nunca tinha ido tão a fundo no trabalho dela como quando meu professor me fez aprender nota a nota suas músicas. Pensava ‘o que essa mulher faz!’. Ela tinha uma divisão de tempo, técnica, uma interpretação maravilhosa”, diz Negra, que já até pensou em gravar um disco de Bossa Nova.

O gosto pela MPB acabou em parceria. “Pedi uma música ao Caetano quando ele me entregou um prêmio e ele disse ‘com prazer, claro’. Depois ele começou a trabalhar no seu disco () e decidimos não pedir uma nova, e sim regravar uma feita com o Afroreggae, que não tinha sido tão divulgada”, conta Negra.

Além de assinar a composição, Caetano divide os vocais com Negra em Meus Telefonemas. Ela lembra rindo que o baiano não queria cantar na faixa, pois achava que a voz dela estava linda demais na música. “Nunca pensei que alguém como ele, que eu vi criança, ia me apoiar desse jeito”. Modesto.

”Tenho vontade de fazer uma música mais infantil, jovem”

Negra Livre não tem só MPB e romantismo. Negra traz em algumas letras críticas à política, à situação social e mensagens sempre positivas, como ela gosta de fazer.

Mundo Jovem, composta pelo produtor Paul Ralphes, funciona como conselho de uma irmã mais velha aos jovens para que eles cuidem do mundo, papel que Negra Li acha importante exercer. Na letra, ela lembra que o futuro é dos jovens, que eles sabem e são livres para viver. “Eventos para falar de sexo com os jovens tem muito. Tem que ter alguém que fale outras coisas, do futuro. Sempre quis fazer uma música mais infantil, com aquele pianinho. Mas ainda não fiz. O Paul fez a base da música e ficou ótima. É a música preferida da minha sobrinha de 14 anos o que me deixou feliz”.

Por falar em Paul, o produtor gringo teve papel fundamental no disco. Para Negra, o fato de ser estrangeiro só contribuiu. “Ele valoriza demais a música brasileira. Já gravou black, reggae, pop e foi o responsável por trazer a percussão, o samba para o disco e quem me apresentou a música do Carlos Dafé (Tudo era lindo). Gringo dá mais valor ao Brasil, eles sabem o que é bom”.

”Cheguei aqui a pé”

A frase acima é um dos versos da música Negra Livre, composta por Nando Reis, a quem Negra chama de “verdadeiro poeta”. “Quando eu ouvi demorou pra cair a ficha das coisas que a música fala. Eu escrevo músicas simples, ele coloca umas palavras diferentes, que ninguém fala. Acho que as outras pessoas, como o Helião e agora o Nando, escrevem melhor sobre mim do que eu”, comenta ela.

Negra aponta a música como uma das que representam bem o disco, diz a que ele veio. “Essa frase, ‘cheguei aqui a pé’, me lembra de quando eu ia a pé da minha casa para a do Helião, de Vila Brasilândia a Pirituba. Eu lutei. Acho que sou uma pessoa iluminada, pois tanta gente luta e não consegue vencer”.

Outra importante canção para a cantora é a autobiográfica Ninguém Vai Me Impedir, que abre o CD. “Meu pai me ensinou que a coisa mais importante é a nossa liberdade. E tudo que eu queria falar eu falei nessa música. Ninguém pode me impedir de falar, de fazer, de ser”. Alguém se atreveria?


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'Queria explorar novos horizontes', diz Negra Li sobre seu 1º disco solo

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