Meno Del Picchia


Créditos: Divulgação

Bisneto do poeta modernista Menotti del Picchia, o músico Meno Del Picchia é um personagem ativo da cena paulistana de MPB indie. Fã declarado de nomes como Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Andreia Dias e Iara Rennó, ele se vê parte de uma cena onde estão Juliano Gauche, Porcas Borboletas, Gustavo Galo, Trupe Chá de Boldo, Zé Pi, Vitrola Sintética, Tatá Aeroplano e Peri Pane.

Meno Del Picchia – Juca Mulato

Frequentemente acionado para composições e projetos em parcerias, ressaltando o caráter coletivo da nova produção, Meno defende que a atualidade do modernismo está na ideia da antropofagia, conceito presente no Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade, em que ele propõe o canibalismo, temido hábito dos “selvagens”, como uma metáfora do ato de “devorar” a cultura alheia para criar uma vanguarda brasileira.

“Com a internet e as trocas de informação no ciberespaço, os artistas e as pessoas em geral conseguem se influenciar reciprocamente o tempo todo”, responde à pergunta do Virgula Música sobre os erros e acertos do movimento da Semana de 22. “Quem sou eu para julgar algum erro do modernismo brasileiro, mas já que você provocou, acho que meu bisavô, Menotti Del Picchia, pecou ao apostar num nacionalismo exacerbado que acabou desencadeando anos depois movimentos radicais como o fascismo e o nazismo”, pondera.   

Meno se apresenta nesta sexta-feira (31), em show de lançamento do seu novo álbum Macaco Sem Pelo, com participação especial do MC Sombra, no Espaço Serralheria, em São Paulo.

O músico e compositor paulista se apresenta ao lado de sua banda, formada por Allen Alencar (guitarra e voz), Otávio Carvalho (teclados e backing vocal) e Marcelo Effori (bateria e backing vocal). A presença de Sombra como artista convidado é uma “retribuição” a Meno, que atua como baixista na banda do MC, que recentemente lançou um trabalho solo de alto calibre.

Passou Da Minha Porta – (Flávio Lima, Tatá Aeroplano e Meno Del Picchia)

Em entrevista concedida ao Virgula Música, por e-mail, Meno fala sobre autonomia, articulação da cena musical independente e de seu mestrado em antropologia social pela USP, que teve como título: “Por que eles ainda gravam? Discos e artistas em ação”. Leia a seguir:   

Você fará esse show com o Sombra. Crê que as fronteiras entre MPB e hip hop tenham sido implodidas?

Eu conheci o trabalho do Sombra ano passado, achei muito legal, original, as letras tratam de diversos temas e essa diversidade de temas acho próxima do que vemos na MPB. Mas acho implodida uma palavra muito forte. As fronteiras existem, talvez elas estejam mais permeáveis entre si, mas elas permanecem. Existe toda uma estética dentro do rap com fronteiras claras.

Com que outros nomes do rap você gostaria de tocar junto?

Puxa, engraçado essa pergunta nesse momento porque acabei de tocar no aniversário de SP, dia 25, la no Sesc Santo Amaro com uma turma da pesada do Rap nacional. Quem me chamou foi o Rapper Xis. Toquei baixo acústico e elétrico num show com Xis, Thaíde, Lurdes da Luz, Rashid, Terra Preta, Marcelo Gugu e Roberta Estrela D’alva, todos grandes talentos do rap brasileiro. Alguns como Rashid e Gugu da nova geração e os outros como Xis, dispensam apresentações.

Você descende de uma linhagem nobre do modernismo, em que pontos situa a maior atualidade do movimento e onde ele errou?

A atualidade do movimento está na própria ideia de antropofagia, acho que com a internet e as trocas de informação no ciberespaço, os artistas e as pessoas em geral conseguem se influenciar reciprocamente o tempo todo. Ficou mais fácil mastigar e digerir o “outro”, ou seja, aquilo que o outro tem de interessante pra gente (seja na música, na política, na ciência).

Quem sou eu para julgar algum erro do modernismo brasileiro, mas já que você provocou, acho que meu bisavô, Menotti Del Picchia, pecou ao apostar num nacionalismo exacerbado que acabou desencadeando anos depois movimentos radicais como o facismo e o nazismo. Naquela época, existia uma vertente modernista que apostava no nacionalismo exagerado, num protecionismo artístico, acho que isso foi muito negativo no mundo todo.

Alergia – Meno Del Picchia canta com André Abujamra (Ricardo Teté e Meno Del Picchia)


Você fez um mestrado em antropologia social pela USP, com o título: “Por que eles ainda gravam? Discos e artistas em ação”. Sendo breve didático, a que conclusão chegou?

Os artistas da cena independente paulistana ainda precisam do disco como cartão de visita. Além disso, o processo de entrar num estúdio e gravar músicas novas é fundamental para um artista se constituir enquanto tal, ou seja, se tornar algo diferente do resto, algo único e original. O disco é uma materialização que agencia a transformação de um músico num artista. As mesmas ferramentas tecnológicas que derrubaram a indústria fonográfica tornou os artistas produtores autônomos de discos, por isso ele persiste.

Sente-se parte de uma cena?

Sim, uma cena onde estão nomes como Juliano Gauche, Porcas Borboletas, Gustavo Galo, Trupe Chá de Boldo, Zé Pi, Vitrola Sintética, Tatá Aeroplano, Peri Pane entre outros. Uma cena onde ainda se deseja gravar discos físicos e produzir essas obras de forma autônoma.

Ouça Seleta

Indique alguns nomes da nova música brasileira que mais gosta hoje?

Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Andreia Dias, Iara Rennó são alguns nomes dos quais sou fã, mas tem muita gente boa produzindo música. Recentemente conheci o trabalho do Daniel Groove e de toda uma galera que veio do norte pra Sampa fazer som novo.

Qual considera ser sua missão na música?

Me entregar de corpo e alma toda vez que estiver num palco mostrando o quanto somos frágeis e o quanto o instante presente é o que mais importa na vida.

SERVIÇO

Meno Del Picchia no Espaço Serralheria
Rua Guaicurus, 857 – Lapa
Sexta, 31 de janeiro às 23h30
Informações ao público: (11) 98272-5978
Ingressos: R$ 20,00 na porta ou R$ 15,00 antecipado pelo site (aqui).

 


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Bisneto de modernista Menotti del Picchia vê nacionalismo exacerbado como erro