No ano do bicentenário do nascimento do compositor, a música de Richard Wagner (1813-1883) vem se impondo sobre as polêmicas envolvendo o genial, venerado e polêmico compositor.

A cidade de Leipzig, onde Wagner nasceu em 22 de maio de 1813, inaugurou um monumento na quarta-feira (22) em reconhecimento tardio ao gênio universal da música – uma escultura do compositor em sua juventude, à frente da sombra de sua imagem quando mais velho.


“Wagner representa como nenhum outro artista nossa própria história partida”, afirmou o ministro da Defesa alemão, Thomas de Maizière, principal representante institucional na cerimônia em Leipzig.

O design da escultura reflete os sentimentos dos próprios alemães em relação a um compositor estigmatizado como controvertido, principalmente por um antissemitismo confesso em vida que o transformou, meio século depois de morto, em ícone da propaganda nazista.

“A alguns alemães ainda custa admirar abertamente Wagner por esse fator. Já outros apelam à teórica neutralidade de sua música para exaltar sua grandeza. E depois estão os que o veneram por pura fascinação pelo mal”, resumiu Nike Wagner, descendente do compositor.

Nike é uma das “dissidentes” mais reconhecidas da saga dos Wagner, proscrita do Festival de Bayreuth em tempos do patriarca Wolfgang Wagner, neto do gênio que dirigiu o evento por mais de 50 anos e cuja sucessão foi disputada por várias descendentes.

A sobrinha rebelde do falecido patriarca esteve em uma dos múltiplos homenagens ao bicentenário, enquanto Katharina Wagner, bisneta do gênio e codiretora do festival junto com sua meia-irmã Eva, foi de ato em ato, entre Leipzig e Bayreuth, cidade onde o compositor viveu de 1872 até sua morte, em 1883.

A inauguração da escultura, obra de Stephan Balkenhol, e o posterior concerto na universidade local foram o ponto culminante do Ano Wagner em Leipzig.

Bayreuth não precisa olhar o calendário para se render a Wagner, já que a cidade é expoente do culto incondicional e exclusivo ao compositor do Anel do Nibelungo e promove anualmente o esquema e espírito com que o compositor fundou o festival, em agosto de 1876, com a primeira representação de O Ouro do Reno.

Nem sequer após a refundação da cidade, nos anos 50, sob custódia dos aliados que derrotaram o Terceiro Reich e após sua etapa de submissão a Adolf Hitler, cogitou-se pôr fim à festividade.

A “tetralogia” do Anel dá margem para tantas interpretações como a personalidade convulsa e os ideais de Wagner, que além de antissemita foi, segundo alguns pesquisadores, anticapitalista, anarquista, antimonárquico e um teórico grande amigo de Luis 2º, rei da Baviera.

Wagner revolucionou a ópera, foi além do romantismo de sua época, imprimiu à sua música uma intensidade nunca superada, o que é admitido inclusive pelos que a detestam por ser excessiva, e isso pesa mais que as sombras de sua personalidade contraditória.

Para 26 de julho está programado o acontecimento mais esperado das festividades wagnerianas em todo o mundo, após várias temporadas de falta de grandes impactos em Bayreuth: a estreia de um novo Anel, do provocador Frank Castorf

Veja A Cavalgada das Valquírias em cena de O Anel do Nibelungo no New York Metropolitan Opera 


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Bicentenário reabilita Wagner, ícone da propaganda nazista