Chaiss na Mala


Créditos: Fabiano Alcântara/Virgula

Milton Nascimento já dizia: “Todo artista tem de ir aonde o povo está”. Para o baterista Fábio de Albuquerque e o multiinstrumentista Rob Ashtoffen, a rua é o melhor lugar que existe para tocar. E uma solução engenhosa está facilitando a vida deles no projeto Chaiss na Mala.  

Eles carregam a bateria dentro de uma mala e a grande sacada está em fazer com que ela própria seja improvisado como bumbo. “A gente consegue levar a mala para qualquer lugar. Cabe tudo dentro dela, exceto os pratos. Mas toda a parte de ferragens, que geralmente é o mais pesado e o mais complicado de carregar da bateria vai dentro da mala. Com isso a gente ganha uma mobilidade imensa para poder tocar onde quiser”, diz Fábio.

O Chaiss na Mala pode ser visto nas ruas de São Paulo. Geralmente, próximo ao Viaduto do Chá, na saída do metrô São Bento, onde estarão neste sábado (16) à tarde, e ainda na avenida Paulista, na praça da República e outros lugares de aglomeração popular. O Virgula Música acompanhou uma apresentação deles na Paulista, quarta-feira, na hora do almoço.

Neste dia, eles passearam por temas de Charlie Parker, John Coltrane, Tom Jobim e outros, mas eles garantem que o repertório pode ser ainda mais eclético, englobando Racionais MCs e até mesmo É o Tchan. “A gente vai na improvisação. Pega temas do jazz porque a bateria e o saxofone é um set típico do jazz. Mas dá para tocar música brasileira, toca Racionais, samba, Tom Jobim, É o Tchan. Vai pegando os temas. A estética não importa, as notas é a mesma coisa. Para visão de música é tudo nota, então não tem esse negócio de gênero”, afirma Rob, que toca sax soprano neste projeto. 

Fábio conta que a ideia da bateria portátil “veio do site Instructables, uma comunidade do-it-yourself dos Estados Unidos”. “Eu adaptei porque não consegui encontrar algumas peças e desenvolvi este sistema de mala de bateria. Que vira uma bateria e também auxilia na hora do transporte”, explica. 

O baterista avalia que tocar na rua é bem difente de se apresentar em lugares fechados e diz que a melhor coisa é conhecer pessoas. “Na rua tudo acaba interferindo no som que você faz. As pessoas passam e te dão um sorriso, a pessoa vem e tropeça no seu equipamento. É completamente diferente de você tocar em um lugar controlado, onde você tem um script para seguir. E na rua é livre, tem o barulho da rua, tem gente que fica buzinando no ritmo da música. Ela está aberta para ser o mais livre possível. É bem diferente” 

Rob diz que prefere tocar na rua. “A gente toca em qualquer lugar, qualquer lugar vai. E é muito melhor tocar na rua. Porque aí você tem contato com a galera. E não é aquela divisão. Tudo bem, tocar dentro dos lugares é bom também, mas na rua tem um público muito maior, não tem segregação. A divulgação é diferente. E botar a música na rua também, para música não ser só música de carro”, defende.

Para o músico, a questão da arte na rua também é política. “A gente está ocupando o espaço público com música, que é o que deveria ser. Estamos fazendo o nosso trabalho, tocando, estudando, porque você estuda também. É a melhor coisa. Por mim, só tocava na rua. Mas não dá porque você está ligado que é osso”, diz, referindo-se à dificuldade em arrecadar quantias que vão além das passagens de ônibus. 

Para quem quiser conhecer outros artista de rua de São Paulo, os integrantes do Chaiss na Mala sugerem o site www.artistasnarua.com.br. “Foi criado um decreto em 2011 que disciplina a apresentação de rua. Lá, tem uma série de descrições, como não ocupar tantos por cento da calçada. Esta associação nasceu e lutou para que este decreto existisse e que o músico de rua não fosse visto como um criminoso, um vendedor que é ilegal para a prefeitura. E ela organiza eventos, como maratonas de artistas de rua e coisa do tipo”, completa Fábio.

Para quem viajar para exterior e fica admirado com a qualidade dos artistas de rua, já é hora de olhar para o seu próprio quintal e valorizar nossos músicos, atores, performers e dançarinos, que muitas vezes precisam atravessar o mundo para serem notados. Em breve, o Chaiss na Mala pretende fazer uma turnê pelo Rio de Janeiro e outras capitais. “Vamos tocar muito na Copa do Mundo”, planeja Rob. Eles merecem porque são verdadeiros craques do improviso. Da música e da vida.

Veja performance do Chaiss na Mala na avenida Paulista

 


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Baterista usa mala como bumbo para tocar jazz nas ruas de São Paulo