Apanhando do rock ao rap, do rap ao samba, do samba ao rock, liquidificando tudo e sacando o momento de dar um choque barulhento na mistura para evitar o lugar-comum e o esgotamento de sua já consagrada receita. Foi este itinerário e a tática esperta de Marcelo D2 para acelerar A Arte do Barulho, seu recém-lançado quinto disco solo e entrada com pé direito na nova casa, a gravadora EMI.

Tal peso remete aos tempos do carioca no Planet Hemp, com mais guitarras e ímpeto roqueiro nos arranjos. O samba não é de todo desprezado, constando ainda como forma rítmica principal da primeira música de trabalho, Desabafo, que revela um cativante sample de Deixa eu dizer, consagrada em 1973 na voz da cantora Cláudia. “A Deixa eu dizer é do Ivan Lins e do Ronaldo Monteiro. Quem pegou o sample para criar a faixa foi um camarada meu de Curitiba, o Nave. Estava pronta há quatro anos. Agora achei o momento mais adequado para lançá-la”, conta D2 ao Virgula Música.

Veja o clipe de Desabafo, de Marcelo D2

Porém, as lições de veteranos do batuque como Bezerra da Silva, Arlindo Cruz e Jorge Ben flertaram mais com outras fontes que freqüentaram os ouvidos de D2 durante a gravação de Arte do Barulho, como Justice, Slayer, Metallica, Sepultura e até Elton John. O disco produzido pelo medalhão Mario Caldato Jr., o truta Nuts e Mauro Berman, da banda Cabeza de Panda (que acompanha D2 em shows), é ainda abençoado por temperos da percussão vocal de Fernandinho Beatbox, do afrobeat, do congado e do funk carioca – este representado por uma curiosa convidada, a capixaba radicada em Nova York Zuzuca Poderosa, na peça Meu Tambor.

“A Zuzuca é uma menina que conheci no MySpace. Nunca nos encontramos pessoalmente, mas achei que ela ficaria muito bem na música”. Mais vocais femininos arquitetam a paleta. Roberta Sá, Thalma de Freitas e Mariana Aydar encorpam o laiá, em um disco em que ainda cabe um D2 brincando de romântico, como nas canções Vem comigo que te levo pro céu e Ela disse. “Eu já conhecia a Thalma e a Mariana. A Roberta, com quem cantei no tributo ao João Donato, é incrível e manda bem no tipo de refrão de samba que eu estava procurando. O que essa menina canta não é brincadeira”, elogia.

Inquieto

Na capa, uma imagem feita por B+ – com quem D2 fotografou no deserto da Califórnia – e alterada por grafismos lisérgicos e old school assinados por Brent Rollins, é traduzido o espírito sempre inquieto e provocador deste malandro (repare no megafone e nas balas!). Também na leva de criações que trouxe da gringa, o tema maconha volta a mandar sinais de fumaça, aparecendo com nitidez na parceria com o rapper norte-americano Medaphor, Kush, realizada em Los Angeles.

Muita honra abrir a porta também para o piano do mestre Marcos Valle na psicodélica Afropunk no Valle do rap. O filho Stephan Peixoto, revelado em 2003 no álbum À procura da batida perfeita, volta à cena para se aliar a D2 em Atividade na Laje. “Fazer música com ele é um jeito de passarmos mais tempo juntos. E ele já mostrou que tem jeito para a coisa. Ele tem a banda dele, a Start, cria as bases e tal. Mas não me meto muito. Acho que tem que aprender quebrando a cara mesmo”, conta.

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Clipe de Desabafo, nova de D2, estréia na MTV

Com o disco em punho e divulgação à toda, D2 tem mais cartas na manga para abrir 2009 com arte e barulho. Gravou participação no DVD de Arlindo Cruz para a MTV e está tocando, com o diretor e brother Johnny Araújo, o roteiro de um filme sobre o princípio de sua trajetória na música. Skunk, vocalista com quem D2 idealizou o Planet Hemp e que faleceu em 1994 em decorrência do vírus HIV, é previsto como um dos destaques da película.


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Após tirar onda e procurar batida perfeita, D2 revive Planet Hemp e reinventa arte do barulho