Aniversário Zuzu Angel


Créditos: Arquivo/Reprodução

Se a estilista Zuzu Angel estivesse viva, ela completaria 93 anos nesta quinta-feira (5). A mineira da cidade de Curvelo ficou conhecida por sua carreira no mundo da moda e pela luta contra a ditadura militar. Zuzu buscava o corpo do filho Stuart Angel, um dos desaparecidos durante os anos de chumbo. Reconhecida internacionalmente por suas criações, ela foi a primeira estilista brasileira a desfilar em Nova York e vestiu atrizes do quilate de Liza Minelli, Joan Crawford e Elke Maravilha.

Em 14 de abril de 1976, Zuzu morreu em um acidente de carro no Rio de Janeiro. Dias antes, tinha deixado com Chico Buarque um bilhete que dizia: “Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”. 

Além de cruzar a passarela com as criações de Zuzu, Elke Maravilha foi amiga de longa data e acompanhou todos os percalços pelos ela passou. Elke conversou com o Virgula Lifestyle sobre a sua relação com a estilista. Acompanhe abaixo:

Virgula Lifestyle: Quem foi Zuzu Angel?

Elke Maravilha: Ela foi uma mulher muito interessante que não remava a favor da maré. Quem rema a favor da maré é peixe morto. E ela não remava a favor da maré em sentido nenhum, nem no sentido pessoal, nem no sentido da moda. Para mim ela era uma Antígona. A personagem de Sófocles queria enterrar o filho dela e a Zuzu queria enterrar o filho. Então, eu a vejo como uma trágica, não como dramática. O drama chora e a tragédia pranteia. Incluisve eu dizia para ela: “Zuzu, vão te matar”.E ela dizia: “Ah, mataram o Stuart, eu já estou morta”. Ela não era uma mulher infeliz. Sentia tristeza, porque o filho foi morto e ela não achava o corpo e isso se transformou numa busca incessante dela. Mas ela nunca ficou fazendo o papel de coitada. Seguiu o destino dela.

Como era a aceitação naquela época no país da moda criada por ela?

Naquela época os estilistas copiavam o que era lançado na França e em outros lugares fora do Brasil. Era uma cópia descarada. Hoje temos algumas tentativas de fazer uma moda mais brasileira, mas na época não. Inclusive, o trabalho da Zuzu era taxado naqueles tempos como cafona, porque ela fazia moda a partir de elementos da nossa história, como Lampião e Maria Bonita. Não tinha nada de cafona. Era muito chique. A Zuzu tinha uma estética extraordinária. Ela pegava elementos e tecidos brasileiros e transformava em coisas incríveis e, claro, as pessoas da época não gostavam. Ela era mais compreendida no exterior do que no Brasil.

Como vocês começaram a ter uma relação de amizade?

Nos conhecemos no salão num salão de beleza, começamos a conversar e descobrimos muitas coisas em comum. Foi amor à primeira vista. Trabalhei com ela e fui amiga por anos e acompanhei toda a luta dela.

Qual é o sentimento que fica em relação a Zuzu?

É o sentimento de que ela cumpriu o seu destido. Claro que sinto uma raiva danada pela morte dela. Nós permitimos a ditadura, que foi uma doença muito grave. Mas a Zuzu foi uma mulher que soube viver e soube morrer muito bem.

Ocupação Zuzu

No ano de 2014, a estilista ganhou uma exposição que rememora seu trabalho e sua luta, a “Ocupação Zuzu”, realizada no no Itaú Cultural,em São Paulo e organizada pelo Instituto Zuzu Angel, da filha da estilista, a jornalista Hildegard Angel.”Ela era uma mulher que mostrava o tempo todo a sua capacidade de superação. Era uma mulher criativa e cheia de habilidades”, conta Hildegard.


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"Ela era uma Antígona que só queria enterrar o filho", diz Elke Maravilha na data em que Zuzu Angel faria 93 anos