Se alguém acha que os quase 400 mil jovens presentes no Rio de Janeiro nesta semana para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) estão na cidade apenas para rezar e passear pela cidade nas horas vagas, em que não há cataquese ou eventos oficiais, está enganado.

“Sabemos que nesta idade os hormônios saltam pela orelha”, disse o advogado Jackson Massinhan, um dos coordenadores de um grupo de 36 jovens da cidade de Ponta Grossa, no Paraná.

Com cinco minutos de caminhada pela praia de Copacabana na quinta-feira (25), quando houve a missa de acolhida, e na sexta (26), com a Via Sacra, já era possível notar o clima de romance no ar entre alguns peregrinos. Entreolhares tímidos e até abordagens inesperadas deixavam transparecer que uma das intenções de alguns jovens durante a jornada é a paquera.

Brasileiros, argentinos, americanos e grupos de vários outros lugares do mundo tinham histórias para contar. No entanto, a maioria é – ou alega ser – recatada e tímida. Embora o sorriso não deixasse disfarçar, muitos tentavam esconder que já haviam conhecido ou queriam conhecer um alvo que poderia se tornar um par.

Na caravana coordenada por Jackson, alguns integrantes disseram que dois casais haviam sido formados. Contudo, nenhum deles quis contar a própria história ou mesmo a dos amigos para não “entregá-los”.

“Nós evitamos, ou ao menos tentamos evitar que isso (formação de casais no grupo) aconteça. Porque pode dar muito certo, mas também pode dar errado, e queremos evitar que e vinda para a jornada se torne uma experiência traumática”, explicou o advogado, cujo desejo não pareceu ter sido atendido.

Mas nem só de recato é feita a JMJ. Há também os mais atirados, que não escondem que estão “à procura”. Num grupo de nove jovens de Macaé, no interior fluminense, que caminhava pela orla de Copacabana antes da Via Sacra, um deles afirmou: “você quer histórias de casais formados na jornada? Nós temos várias histórias de ‘quase casais’. No meio deles, o estudante Leonardo Oliveira, de 25 anos, era um dos mais quietos, mas também o que tinha mais a ser relatado.

“Tenho uma ex-namorada que morava em Macaé e foi para a Bahia há um ano e meio. Nós não terminamos, mas também não mantivemos o relacionamento por ela estar longe. Ela veio para a jornada, e vou tentar encontrá-la hoje (sexta-feira) ou amanhã”, revelou Leonardo, que, no entanto, preferiu não limitar as próprias opções.

“Tem uma garota de quem eu achei o crachá e peguei o contato. Trocamos vários torpedos, e meus amigos estão até me zoando, dizendo que eu não largo o celular. Primeiro, marquei de encontrá-la na Quinta da Boa Vista, mas a chuva atrapalhou. Ontem, estava tudo certo para nos vermos em frente ao (hotel) Copacabana Palace, mas ela apareceu junto com um tio, que atrapalhou tudo”, lamentou o estudante, que, para piorar, teve o celular roubado e perdeu contato com a moça.

Porém, os percalços não desanimaram Leonardo, que prometeu: “pode me procurar no domingo. Com certeza terei história de casais formados durante a jornada em que eu serei o personagem principal”.

Em meio a tantas histórias omitidas e desencontros, um grupo de 29 peregrinos da cidade paulistas de Louveira “denunciou” um casal de amigos. Segundo eles, Thiago Godoi, de 16 anos, e Bruna, de 14, “já se amavam há algum tempo, mas precisaram de um empurrão” que veio com a JMJ.

“A gente se conheceu em um retiro espiritual perto da minha cidade, em Jundiaí. Na ocasião, tivemos muitas palestras sobre educação sexual, e eu pensei que não seria um bom dia para ficarmos. Depois, houve uma festa do pijama do grupo jovem de que participamos, e passamos a noite inteira acordados conversando. Não rolou nada, mas a atração aumentou. Até que viemos para cá e…”, lembrou Thiago, deixando subentendido que o primeiro beijo aconteceu no Rio.

Por muito pouco, no entanto, o começo da relação não ficou para outra ocasião. Bruna não estava animada a viajar para o Rio para participar da JMJ. O papa, os cartões postais da Cidade Maravilhosa e os quase 400 mil cadastrados no evento não eram suficientes para convencê-la, à exceção de um deles.

“Eu estava decidida a não vir, mas ele (Thiago) insistiu tanto para que eu viesse que eu mudei de ideia e agora estou aqui”, revelou a jovem, com sorriso e brilho nos olhos peculiares de qualquer garota apaixonada.

Da forma como foi contado por Bruna, o convencimento pareceu fácil. Thiago, porém, contou que não foi bem assim: “Ela é muito difícil”, reclamou, em tom de brincadeira.

A maioria dos jovens atualmente não gosta de rotular o que vivem. Perguntado se a JMJ e a presença do papa poderiam abençoar a relação e torná-la duradoura, o casal foi cauteloso: “temos que esperar, deixar acontecer”, disse Thiago, cuja declaração foi aprovada pelo olhar de Bruna.


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Juventude do papa reza, se diverte e entra em clima de romance e paquera

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