As caveiras e as flores de cempasúchil que inundam há dias os altares e oferendas colocados na capital mexicana anunciam a chegada do Dia dos Mortos, quando as almas dos defuntos deixam seus túmulos para se reunir com seus entes queridos.

“No México encaramos a morte com um pouco de humor, o fato de fazer caveiras de açúcar e ‘calaveritas’ (poemas) faz parecer que vivemos a morte de uma maneira peculiar”, explicou à Agência Efe a reitora da Universidad del Claustro de Sor Juana, Carmen Beatriz López-Portillo.

No claustro, situado no coração da capital mexicana, foi instalado um altar em homenagem ao artista mexicano José Guadalupe Posada, criador da gravura de “La Calavera de la Catrina”, popularizada pelo muralista Diego Rivera em sua obra “Sueño de una tarde dominical en la Alameda”.

La Catrina, na cultura popular mexicana, é a representação humorística do esqueleto de uma dama da alta sociedade. É uma das figuras mais populares da festa do Dia dos Mortos no país.

A gravura escolhida para enfeitar o altar foi a de “Los Periodistas” pela necessidade de “homenagear os defensores da palavra” no México, onde este ano foram registradas mais de 300 agressões contra a liberdade de expressão, segundo dados da Comissão de Direitos Humanos do Distrito Federal do país.

No meio do altar figura Posada, com seu característico bigode, junto à poetisa Soror Juana Inés de la Cruz (1651-1695) acompanhados de esqueletos, flores, castiçais, mole (espécie de canja) e o tradicional “pão dos mortos”, elaborado com farinha de trigo, ovo, açúcar e anis.

Os altares, caracterizados na maioria dos casos por suas cores vistosas, se completam com incenso de copal e flores de cempasúchil, veludo e lantejoulas, cujos preços dispararam nos últimos dias.

No entanto, a capital mexicana está cheia de altares, muitos deles dedicados a figuras de destaque, como o elaborado pela Universidad Nacional Autónoma de México (Unam) em homenagem à pintora surrealista Remedios Varo (1908-1963), onde convivem as “catrinas” e os bonecos de papel machê.

A também pintora Frida Kahlo (1907-1954) é protagonista do altar da Galeria José María Velasco, situado na colônia Morelos.

Reconhecida pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade em 2003, esta “talvez seja a festa mais importante dos povos indígenas”, disse à Efe o responsável pelo Museu Indígena da Cidade do México, Octavio Murillo.

Originária do sudeste do México e do norte da América Central, a “festa dos mortos” lembra a “última colheita do ano” e nela se agradece às deidades do mundo subterrâneo os frutos recebidos.

O altar indígena, ao contrário das oferendas que proliferam na capital mexicana, não tem caveiras e os populares papéis picados.

Em seu lugar, são usadas flores, cana-de-açúcar, milho e frutas como laranja e goiaba para decorar estes altares onde as cores sóbrias são dominantes.

Apesar de a festividade remontar a tempos pré-hispânicos, também toma elementos de culturas europeias, como a figura da morte dançando, própria da cultura romana, ou as alegorias da morte da Idade Média e do Renascimento, explicou o diretor do Museu da Cidade do México, Alfredo Cruz.

A comemoração do Dia dos Mortos se prolonga por vários dias. O dia 1º de novembro, por exemplo, é dedicado às almas das crianças e o dia seguinte ao dos adultos.

A festa termina no terceiro dia de novembro, quando as almas retornam ao Mictlán, o lugar onde vivem, e as famílias comemoram o fim da visita com uma festa onde são consumidos os alimentos que fizeram parte da oferenda.


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Altares vistosos e caveiras anunciam no México a chegada do Dia dos Mortos