Por quase dois anos, depois de quatro álbuns e um sem-número de fãs conquistados, o Los Hermanos descansou. Firmando junho de 2007 como mês de sua despedida, marcada com um show na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, o combo de Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba deixou palcos, estúdios e milhares de seguidores de todo o País à mercê de saudades.

Mesmo assim, alguns destes devotos dos hermanos nunca botaram muita fé em um fim da banda. E foram agraciados com a surpresa da participação do quarteto no festival Just A Fest, que trará Radiohead e Kraftwerk a São Paulo e Rio de Janeiro neste mês. A fã Aline Christiane Machado Carilo, secretária de 24 anos, é um exemplo de fã que nunca chegou a acreditar no término definitivo do grupo.

“Sou do tipo que assiste no mínimo duas vezes por semana ao DVD do último show deles, e que sempre se emociona”, conta. “Essa pausa da banda não afetou meu carinho, admiração e respeito por eles. Sinto falta da emoção do show ao vivo, mas eles têm o direito de escolher o que é melhor para cada um, eu como fã continuo admirando o trabalho de todos”. Ela planeja ver o espetáculo do do grupo no Rio de Janeiro chegando duas uma ou duas horas após a abertura dos portões.

Mesa de bar

Quem também não deixou de ouvir Los Hermanos durante este hiato foi Josh Lima, 19, também do Rio de Janeiro, que conta conhecer todas as músicas dos rapazes e ter reunido um grupo de amigos que trocam informações sobre a banda, o Mesa de Bar. Foi por meio de sua paixão pelo Los Hermanos que ele conheceu sua namorada. “Los Hermanos é especial porque me fez e me faz viver experiências incríveis”, lembra.

“A coisa mais importante que guardo do Los Hermanos são as amizades que a banda me ajudou a cultivar”. Mesmo antes do grupo declarar uma pausa, Josh diz que já sentia que ela ia acontecer. “Ouvindo o último CD, vi que as linhas do Marcelo e do Amarante estavam se distanciando. Não poderia nascer outra coisa a não ser uma pausa”, diz.

Carnaval que volta

E se o Los Hermanos já cantou que “todo carnaval tem seu fim”, alguns fãs lembram que términos podem ser somente recessos – ou, melhor ainda, novos inícios para “brincar de ser feliz”. O músico Rubens Alexandre Consulini e Silva (foto), 22, não aposta que a banda possa voltar a gravar junta após o Just A Fest, mas crê que os shows no festival são somente para provar que o que houve com o quarteto foi um recesso, não um final.

“Os quatro seguiram suas carreiras. Não sei se rolaria interesse agora de voltar à loucura que é o Los Hermanos. Mas espero que o dia do retorno com disco novo e turnê não demore”. Rubens também conta que quando a banda se separou, ele também entrou deu um tempo do som deles. “Fiquei um tempo sem ouvir para não bater aquela saudade. Ouvi muito o disco solo do Camelo, o do Little Joy, e aos poucos fui voltando a ouvir Los Hermanos”.

Conhecido pelos amigos como “Rubão”, o fã já viu cerca de 25 apresentações da banda ao vivo, além de ter visitado o camarim de um show e já ter esperado os barbudos na porta do hotel. Ele vai dar um descanso para a saudade do Los Hermanos comparecendo ao braço paulistano do Just A Fest. “Minha intenção é chegar no domingo bem de manhã e torcer pra não ter tanta gente assim desde o sábado na porta. Gostaria mesmo de re-encontrar o Los Hermanos, além de finalmente ver o Radiohead bem de perto”, pretende aproveitar, de quebra.

Família

A jornalista, percussionista e professora de yoga Camila Rosenbrock Ferreira Taveira, 26, do Rio de Janeiro, acompanha o Los Hermanos desde shows no antigo Ballroom. “Sempre comprei todos os ingressos para todos os dias em que havia apresentações”, conta. “Acho que nem eles tem ideia do bem que fazem. Cantar Los Hermanos virou uma forma de expressão. Nas músicas a gente grita, ri, chora e aplaude qualquer novidade que eles inserem na música de improviso, como fazer som de trompete com a boca”. Para Camila, a relação entre os fãs e a banda virou parecida com a de uma família. “Eles tocam pra nós e nos deixam fazer parte do espetáculo. União incrível, que permanece, mesmo com o fim. É uma troca gostosa”.

Ficar “órf㔠dos hermanos deixou a jornalista, a princípio, tristonha e até raivosa. “A gente acompanha, gosta, aplaude, se abre para novos, se entrega e de repente… Fim do Los Hermanos. Mas depois passou. Não temos direito de julgar, pois crises acontecem em qualquer lugar. E da mesma forma que eles nos fazem bem, precisam se sentir bem para transmitir tudo aquilo. Tudo tem seu tempo e graças a Deus temos a música, os CDs, que são eternos”. Destes Camila não abre mão. “Ouvi-los, para mim, é uma reza. Escuto todo dia e me sinto viva. As letras são poderosas”.

Nem cócegas

Para ela, o Little Joy, banda que Rodrigo Amarante montou com Fabrizio Moretti e Binki Shapiro durante este período, não chegou a acalmar os corações dos fãs saudosos do Los Hermanos. “Não fez nem cócegas. A questão não é ver o Camelo no palco, o Amarante em outro, o Barba em outro, o Medina escrevendo… e todos vivendo em separado. Fica um vazio”.

“Minha saudade é da banda unida. Dos sorrisos do Bubu [Gabriel Maytal, baixista do Los Hermanos desde a turnê que divulgou Bloco do eu sozinho e hoje parte da Do Amor], de saber que eles se reuniam em Araras para produzir CD novo, com carinho, troca de ideias, amizade, união, alegria, criatividade e vontade de fazer o melhor para depois apresentar a o trabalho com gostinho de mato, de verde, do novo”, desabafa.

“Sentíamos tudo como se estivéssemos convivido com eles durante as criações de novas músicas e íamos ao delírio a cada show. Era uma prova gostosa de que já sabíamos todas as músicas, e em agradecimento cantávamos sem parar, cada detalhe. A emoção era mútua”. Mesmo tão saudosa, Camila se diz realista em relação à possibilidade dos músicos retomarem a banda após o Just A Fest.

Vacinados

“Acho que a banda não volta a gravar junta. Cada um já tomou e seu rumo devem estar felizes como estão. Eles não estão retornando de vez. Aceitaram um convite e sentiram uma vibração boa. Não tem como concluir muitas coisas concretas em se tratando de Los Hermanos. E acho que quanto mais nada a ver, mais é Los Hermanos. Já estamos vacinados”.

Sabendo disso, a fã está pronta para encarar o que for a fim de não perder o espetáculo dos moços no Just A Fest. “Vou aguentar o calor, tudo. Depois do show deles, posso assistir de qualquer lugar. Para mim, o dia vai ser de Los Hermanos”, comenta ansiosamente.

JUST A FEST
Shows de Radiohead, Kraftwerk e Los Hermanos

Rio de Janeiro
Quando: dia 20 de março, sexta-feira
Quanto: R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada)
Horário: abertura dos portões às 17h
Shows: Los Hermanos às 19h, Kraftwerk às 21h e Radiohead às 22h30
Informações: www.ingresso.com

São Paulo
Quando: dia 22 de março, domingo
Quanto: R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada)
Horário: abertura dos portões às 14h
Shows: Los Hermanos às 18h30, Kraftwerk às 20h15 e Radiohead às 22h
Informações: www.ingresso.com


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Show de retorno do Los Hermanos reacende fanatismo de seguidores da banda