O grupo Roupa Nova está com uma nova turnê, chamada Roupa Nova em Londres. E fui convidada para assistir ao show em São Paulo, que aconteceu ontem (19), no Credicard Hall.

Fui, meio cabreira. E arrastei comigo o marido roqueiro, que foi mais cabreiro ainda. Eu tenho 38 anos, e não tem como fugir do fato de que o Roupa Nova fez parte da minha adolescência, notadamente dos 13 aos 17 anos. Se fizerem uma análise no dna das minhas lembranças afetivas, certamente vão encontrar um genezinho do grupo ali. Se um adolescente dos anos 80 disser que não ouviu Roupa Nova ou está mentindo ou na época morava, sei lá, em Marte.

Bingo. Chegando ao Credicard Hall, foi o que vimos: muitas mulheres com amigas e alguns casais, em sua imensa maioria quarentões, comprando pipoca,  castanha de caju e vinho branco antes do início do espetáculo. Perguntamos onde era a pista, que ingenuidade. E show para quarentões lá tem pista? Nos resignamos e nos aboletamos numa cadeira estofada (me segurei para não escrever “almofadinha”).

O show, marcado para 22h, começou às 22h20, com uma projeção no telão atrás do palco: era uma animação, um cartum do grupo dentro de um ônibus vermelho e de dois andares. Os personagens desenhados começaram a interagir com o público, mandando as pessoas gritarem,  o que deixou a plateia meio aturdida. Salva pelo gongo do constrangimento: o grupo em carne e osso entrou no palco.
Confesso que não me lembro do nome da primeira música, só sei que era uma música nova.  Toda música do CD novo era acompanhada pelo seu próprio clipe, no telão, numa sincronia perfeita de filme + ao vivo.

O Roupa Nova está claramente tentando renovar sua imagem. Tanto que gravou seu primeiro CD inédito depois de 12 anos, tanto que as gravações ocorreram em Londres, tanto que o estúdio escolhido foi Abbey Road… e, mais significativo, tanto que fizeram uma pesquisa para reconhecer seu novo público. Segundo a assessoria do grupo, os resultados indicaram que 75% dos fãs do grupo têm de 15 a 25 anos. Hmmm… não foi o que vimos ontem.

O público de ontem não estava lá para ver ou ouvir nada que lembrasse algo que não fosse o próprio Roupa Nova. Na segunda música apresentada ontem, a plateia veio abaixo (sentada, mas veio): os primeiros acordes de Sapato Velho começam a ecoar e eu fui imediatamente transportada para o começo dos anos 80, e me lembrei de que já havia assistido a um show do grupo, no finado Studio SP. Na época, no camarote estava ninguém menos do que a rainha Gretchen (que namorava alguém do Roupa Nova), e a plateia pedia insistentemente que o sexteto cantasse Sapato Velho. Depois de muita insistência, Paulinho passou uma descompostura na galera, dizendo que não cantaria a música pedida nem amarrado, que o grupo era muito mais do que isso.

Hoje, vinte anos depois, está provado que não é, não, e a graça é exatamente esta. Quem vai ouvir Roupa Nova em 2009 quer ouvir o Roupa Nova dos anos 80, quer ouvir Sapato Velho, Anjo, Whisky a Go Go, Linda Demais, Dona, A Viagem. Quer ouvir guitarras e vozes rasgadas, quer ouvir o baterista que canta sofrendo, o tecladista que faz piada, os arranjos vocais absolutamente perfeitos do grupo.

Ninguém quer ouvir uma música que fala da força das mulheres, com uma apresentação de power point rolando no telão, uma verdadeira ode à vergonha alheia, com fotos de Madonna, Rita Lee, Madre Teresa de Calcutá, Oprah Winfrey (essa é a senha para ir ao banheiro ou comprar mais castanha de caju na bombonière). O público está lá para gritar e delirar quando o tecladista diz “Podem vir aqui pra frente, o segurança não vai mais barrar vocês”, ou quando o sexteto se reúne na frente do palco, e, à capella, canta She’s Leaving Home, de Lennon&McCartney.

Essa é a essência do Roupa Nova: rimas fáceis e românticas pra cantar junto, um sonho gostoso com cheirinho dos anos 80. Sonho do qual fomos abruptamente despertados na hora de pagar R$ 25 no estacionamento do Credicard Hall. Bem-vindos a 2009!

A turnê tem outra apresentação:

ROUPA NOVA
Quando: Sábado (dia 20), às 22 horas
Onde: Credicard Hall (Av Nações Unidas, 17955. Tel: 2846-600)
Quanto: De R$ 60 a R$ 150


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Roupa Nova entretém e faz sonhar quem viveu nos anos 80 e era feliz