Trinta anos atrás, um 12 polegadas mudou o mundo da música. Rapper’s Delight, uma música de 15 minutos do Sugarhill Gang, não foi a primeira faixa do hip hop em vinil como muitos acreditam (o posto é de King Tim III, do Fatback Band). No entanto, foi definitivamente o disco que fez o hip hop crescer, o trampolim para o sucesso de muitos garotos que nunca acharam que conseguiriam antes.

Baseada em outro clássico – Good Times, do Chic (o instrumental foi tocado de novo por outra banda, Positive Force, e, pelo menos oficialmente, nenhum sample da original foi usado) – consiste em três caras tagarelando sem parar (no Brasil saiu com o apelido Melô do Tagarela) sobre festas, carros, mulheres, hotéis, motéis. Pura diversão. Nem todo mundo estava feliz, no entanto.

Sylvia Robinson era uma dona de selo que chamou três caras sem ligação profissional com o mundo do hip hop – Big Bank Hank, Wonder Mike and Master Gee – para gravar a faixa. Quem estava na cena desde o começo de tudo ficou puto – como três fanfarrões estão vendendo milhares de discos?

Alguns ainda dizem que foi o dia em que o hip hop morreu, e que Rapper’s Delight sequer tinha alguma das principais características do chamado verdadeiro hip hop: “nenhum DJ fazendo a base para as rimas, nem rivalidade ou competição com outros grupos, nem perspectiva de shows ou plateias para entreter. (…) Levaram o hip hop das ruas pro mainstream, do palco pro estúdio, do centrado no público pro centrado no rapper, do ativo pro passivo” (verbete do Urban Dictionary). Dizem também que um dos membros do Sugarhill Gang roubou versos de um dos rappers do Cold Crush Brothers para a faixa, e que o cara não ganhou nem grana nem créditos.

A questão é: certa ou errada, boa ou ruim, não fosse Rapper’s Delight e talvez não tivéssemos muito do que temos hoje na cultura do DJ, musicalmente ou tecnicamente. Segundo: se os caras que estavam lutando antes achassem que eles mereciam a oportunidade, deveriam ter pensado comercialmente antes e tentado lançar em vinil, mas nenhum acreditou que isso poderia dar certo, pelo menos até esse disco ter sido lançado.

Aliás, a maioria deles teve sua fatia do bolo mais tarde, e como sabiamente disse Grandmaster Flash no livro Last Night A DJ Saved My Life, de Bill Brewster and Frank Broughton: “Fiquei tipo… ‘Droga, eu poderia ter sido o primeiro.’ Não sabia que a arma estava carregada assim. Estourou. Foi um enorme sucesso pra eles (…) Tudo bem, porque a gente viria depois… A gente tinha talento, eles não”. Alguém se atreve a discordar?

Benjamin Ferreira é DJ e comanda o blog Boogie Central


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Rapper's Delight, música que marca o início do hip hop, completa 30 anos