Ter a presença de um cineasta na estreia de um filme ainda é um luxo no Brasil. Então como ter a oportunidade de discutir um filme com o seu criador quando o conteúdo é muito polêmico? O diretor Oliver Stone inovou nesse quesito e fez uma aparição via Skype na pré-estreia aberta ao público de W., seu filme documental sobre o “pior presidente norte-americano da História”, George W. Bush, no Cine Bombril na última quinta-feira, dia 23.


 


O presente aos cinéfilos foi oportuno, já que seu filme provou reações adversas quando apresentado mundo afora. Uns admiraram as críticas e ironias usadas no filme, outros o acusaram de ter amenizado as desgraças do governo Bush e ter justificado seu comportamento por meio de uma juventude inconsequente. Em resposta, Stone disse que procurou fazer um retrato justo e, ainda assim, dar o “benefício” da dúvida ao presidente em questões pouco esclarecidas.


 


O debate, promovido pela Folha de São Paulo, foi mediado pela repórter Sylvia Colombo, e abordou também várias outras questões relativas ao filme, como a escolha do elenco, até a atual situação dos Estados Unidos no governo Obama.


 


Sobre a escolha do ator indicado ao Oscar, Josh Brolin, para a pele de Bush, o cineasta afirmou que o achou ideal para o papel. “Ele tem um tipo “macho” bem característico, além de ter 40 anos. Dava para fazê-lo jovem e mais velho”, contou Stone. Ele revelou ainda que o ator ficou ofendido quando recebeu o convite. “Josh pensou que eu estava alinhando seu comportamento ao do presidente. Mas logo depois se rendeu e disse que calçaria os sapatos de Bush para fazer um retrato fiel”.


 


Oliver deu detalhes sobre a pesquisa que resultou no filme de 120 minutos, que aborda a fase adolescente [e desordeira] de Bush, sua difícil relação com o pai, até o período em que governou os Estados Unidos. “Todas as fontes consultadas para o filme estão no site oficial [http://www.wthefilm.com]. Não inventei nada, até os diálogos com o pai foram retirados de biografias, entrevistas e documentos relativos ao período”, explicou.


 


Inclusive, sobre a relação conflituosa que tinha com o pai, Stone declarou que talvez fosse a real razão de seus erros nos quatro anos de mandato, principalmente o incentivo à guerra do Iraque. “Toda a agressividade e a determinação que Bush tinha, transformaram-se ações irresponsáveis”, contou.


 


Quando perguntado sobre o urgência de fazer o filme antes do fim do mandato republicano, Stone respondeu que o assunto tinha uma emergência característica. “Ainda se fala muito no governo Bush. Eu quis aproveitar esse momento em que a abordagem é de extrema importância para o esclarecimento do público. Tudo é ainda muito pungente. Bush ainda não se foi totalmente”, declarou.


 


Sobre o governo Obama, Stone explicou que, apesar de ter votado no democrata, acha que as pessoas não devem apostar todas as suas cartas logo de cara. “O novo presidente dos EUA está cometendo erros. A ação de aumentar as forças no Afeganistão, por exemplo, é um erro e pode provocar uma crise ainda maior”, comentou.


 


A conversa de meia hora ainda deu espaço para Oliver comentar sobre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, objeto de seu próximo filme-documentário. O cineasta acredita que ele poderá mudar a imagem que os Estados Unidos têm do presidente. “Chávez não pode ser confundido com um terrorista. Ele quer a paz. O filme vai informar sobre a situação da Venezuela e fazer entender de vez seus objetivos”, explicou.


 


De acordo com Stone, a obra será focada em Chávez e no surgimento de políticos de esquerda na América do Sul nos últimos anos. “É um filme sobre Chávez e a renovação na América do Sul”, finalizou.



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Oliver Stone explica seu retrato de George W. Bush em conferência no Skype