O CASTELO E A MANSÃO

No início de fevereiro, o castelo do deputado Edmar Moreira, então corregedor da Câmara, virou assunto de capa dos principais jornais e sites do país. Ele colocou a venda uma “pequena” propriedade de oito andares e 36 suítes erguida em São João Nepomuceno, no interior de Minas Gerais. Tinha até campo de golfe e piscina com toboágua… O problema é que o bem avaliado em US$ 25 milhões não foi declarado à Justiça Eleitoral.

Na cola de Moreira, quem também ganhou os flashes no início de março foi Agaciel Maia, então diretor-geral do Senado, que usou o irmão e deputado João Maia (PR-RN) para esconder uma casa avaliada em R$ 5 milhões.

Localizado em Brasília, o imóvel está no nome do deputado, que não declarou o bem nem à Receita Federal nem à Justiça Eleitoral. Com quase mil metros quadrados, a propriedade fica num dos pontos mais nobres de Brasília, às margens do lago Paranoá, e tem três andares, cinco suítes, salão de jogos, campo de futebol e até um pequeno píer para barcos e lanchas.

Diante das falcatruas, Edmar Moreira poderá ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal por crime contra a ordem tributária. Desfiliado dos Democratas, Moreira também pediu exoneração de seu cargo na Câmara. Além disso, o deputado é suspeito de ter utilizado a verba pública para pagar os funcionários de suas empresas. Ele deverá ser julgado pelo Conselho de Ética da Câmara e corre o risco de ter o mandato cassado.

No caso da outra casa, Agaciel Maia também não suportou a pressão e deixou a diretoria-geral. Nomeado por José Sarney, ele ocupava o cargo de “homem do cofre” do Senado desde 1995. Agaciel terá seus bens investigados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e poderá responder por crime de sonegação fiscal. No Senado, cabe à Mesa Diretora abrir um processo para investigar irregularidades do servidor.

Obviamente que Edmar Moreira e Agaciel Maia não foram os primeiros “figurões” de colarinho branco que esconderam mansões e tentaram se livrar de seus próprios bens. Num passado recente, outros episódios curiosos (e revoltantes) simbolizaram a grandiosidade dos gestores brasileiros. E muitos continuam a gozar de privilégios… Adivinha quem paga essa conta?

MANDA-CHUVA AMAZONENSE

É o caso de Amazonino Mendes, ex-governador do Amazonas e atual prefeito de Manaus, dono de uma das mais vistosas propriedades às margens do Rio Negro. Em 2000, com os 2,5 mil metros quadrados de área construída, a mansão do então governador virou foto de capa da revista Veja.

Seria cômico se não fosse trágico. Em 1998, Amazonino recebia R$ 8 mil como governador e declarou um patrimônio de R$ 750 mil. Valores quase que incompatíveis com a mansão avaliada em R$ 10 milhões. Entre outras regalias, a propriedade possui quatro piscinas climatizadas, lago artificial, píer, cascata e heliporto. Além, é claro, de vidros blindados em parte da edificação.

Na época, Amazonino disse que fez um financiamento pela Caixa Econômica Federal, mas não revelou valores. Alegou também que o imóvel não foi declarado à Receita Federal porque ainda estaria em construção. E até hoje nada aconteceu.

Pelo contrário, ele voltou ao poder este ano após conturbadas eleições. E responde a processos por crimes de licitação, crimes contra o sistema financeiro nacional e crimes contra a ordem tributária.

HOMEM DO SINDICATO

Em abril de 2008, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, foi citado em relatório da Polícia Federal como sendo suspeito de participar de um lobby político que facilitaria a concessão de empréstimos do BNDES. Ele teria recebido R$ 325 mil para intermediar um empréstimo de R$ 124 milhões do BNDES para a prefeitura de Praia Grande (SP).

Em meio ao imbróglio, a ONG Meu Guri, presidida por Elza de Fátima Costa Pereira, mulher de Paulinho, recebeu R$ 37,5 mil de João Pedro de Moura, preso na operação da PF sob suspeita de fraude.

Em maio, a mulher de Paulinho comprou uma casa na Riviera de São Lourenço, praia nobre no litoral e São Paulo, por R$ 220 mil. O imóvel foi registrado no nome da filha do casal e foi pago à vista (R$ 160 mil em um único cheque e o restante em dinheiro).

Elza declarou em 2006 ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, quando se candidatou a senadora, um patrimônio de R$ 130 mil em “aplicações financeiras”. Se fosse mantido intocado na poupança, o valor em dinheiro guardado por Elza na CEF seria hoje de R$ 149 mil – cerca de 67% do valor que ela desembolsou pela nova casa em Bertioga.

Após as suspeitas, Paulinho pediu afastamento da direção do PDT e foi denunciado ao Conselho de Ética da Câmara. Ele poderia até ter o mandato cassado, mas foi absolvido pelo Conselho em dezembro do ano passado.

GADO GORDO

Quem não poderia faltar é o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) que, na época em que era presidente do Senado, recebeu recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagamento de pensão e aluguel à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha fora do seu casamento. Para tentar se isentar, o senador argumentou que o dinheiro era dele, proveniente da venda de gado de suas fazendas.

Entretanto, as propriedades não foram declaradas no Imposto de Renda do senador. Mais tarde, descobriu-se que Calheiros não tinha vendido gado como dissera, o que reforçou a tese de receber dinheiro da Mendes Júnior.

Apesar das irregularidades, Renan Calheiros não teve seu mandato cassado. Assim como o deputado Paulo Pereira da Silva, foi absolvido em 12 de setembro de 2007 e continua a atuar como um dos senadores mais influentes da Casa.

CASA COLLORIDA

Localizada no Setor de Mansões do Lago Norte, em Maceió-AL, a conhecida Casa da Dinda era o símbolo da ostentação de riqueza e poder de Fernando Collor de Mello durante sua gestão como presidente da República (1990-1992). Transformada em residência oficial do presidente na época, o nome da mansão é uma homenagem a bisavó materna de Collor.

A propriedade de 13 mil metros quadrados foi decorada pelo paisagista José Roberto Nehring, dono da Brasil’s Garden, que plantou ao redor da mansão 200 árvores de grande porte e outras 40 frutíferas. Cerca de US$ 2,5 milhões foram gastos apenas na confecção do jardim da residência. O dinheiro foi obtido através do esquema liderado pelo tesoureiro de campanha de Collor, Paulo César Farias.

Entre diversos luxos financiados com dinheiro sujo, Collor construiu um bosque com oito cachoeiras e investiu em um sistema de filtragem e oxigenação da água que abastecia um lago artificial com cem carpas japonesas.

A Casa da Dinda chegou a ser ponto turístico na região. Milhares de pessoas se aglomeravam nos finais de semana em frente ao local para observar os passeios de Collor em lanchas, suas caminhadas, jogos de tênis e outros hobbies.

A mansão foi abandonada anos após o impeachment do ex-presidente. Depois de ficar um tempo sem poder se candidatar, Collor voltou à política. Se candidatou a Senador em 2006 e foi eleito com votação expressiva. Hoje, é presidente da comissão de infra-estrutura do Senado, com apoio de Renan Calheiros.

LIXEIRA DE LUXO

Timothy Mulholland, então reitor da Universidade de Brasília (UnB), decidiu aproveitar a influência de seu cargo para equipar sua residência. Acusado pelo Ministério Público de cometer improbidade administrativa, Timothy teria gasto R$ 470 mil para mobiliar a cobertura de um apartamento de 400 metros quadrados onde morou com a família por quase um ano.

O dinheiro teria vindo de um fundo de desenvolvimento institucional da UnB. O caso chamou a atenção da opinião pública pela absurda quantia de R$ 900 gasta na compra de uma simples lixeira.

Na época, o reitor também teria comprado um carro Honda Civic de R$ 72 mil com dinheiro da instituição. A grana deveria ter sido utilizada em fundos de incentivo à pesquisa.

O caso foi revelado em fevereiro de 2008. Pressionado por estudantes e pela opinião pública, Timothy Mulholland deixou a reitoria meses depois. Em março deste ano, o ex-reitor voltou à UnB como professor do Instituto de Psicologia e recebe um salário superior a R$ 8 mil.


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NA COLA: a casa desses políticos caiu... mas não deu em nada

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