No fim de junho, o site do semanário musical inglês NME organizou uma lista com algumas das bandas mais difíceis de serem escutadas. Alguns dias depois, o assunto foi retomado: um dos comentários da primeira notícia falava sobre a banda Stalaggh, projeto de noise metal que tem como vocalistas os internos de uma instituição psiquiátrica holandesa.

No site da gravadora da banda, a Autopsy Kitchen Records, não existem informações concretas sobre o grupo. O que se sabe é que os membros não se identificam, não concedem entrevistas e tem fascinação pelo conceito de “Arte Bruta”, cunhado pelo artista francês Jean Dubuffet para designar os trabalhos artísticos feitos por doentes mentais e internos de instituições psiquiátricas.

“Com certeza, não foi uma ideia que veio do nada. Um trabalho como esses é muito difícil de controlar. Não há como saber como essas pessoas vão reagir durante as gravações”, comenta Gustavo Serpa, integrante do projeto de noise brasileiro ABESTA. “O que eles fazem é muito sério e não tem nada por acaso.”

Fato é que o som do Stalaggh é muito perturbador e é possível sentir na pele o desespero e a agonia que se passa na cabeça dos vocalistas convidados pela banda, como você pode constatar por si próprio no vídeo abaixo.

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Música ou puro barulho?

Não é mesmo fácil de encarar um projeto de noise quando você não está acostumado ao gênero, especialmente se seu primeiro contato com o estilo já é com uma banda com um pezinho número 45 no metal extremo.

“Particularmente eu não tenho nenhuma formação de músico. Não sei tocar nenhum instrumento. Só fiquei fascinado com a possibilidade de trabalhar com frequências no lugar de notas”, explica Bata (como também é conhecido Gustavo) sobre as linhas gerais do noise. “De cara, comecei a pesquisar o gênero a fundo e foi apaixonante.”

Segundo ele, o noise não é difícil de ouvir. “Fato é que nós não usamos notas para tocar, e sim frequências sonoras. Mas discordo dos que dizem que o que fazemos não é música. Para mim, qualquer forma de expressão através do som pode ser chamada dessa forma”, garantiu

A banda de Gustavo foi uma das atrações da edição de 2008 do festival Bananada e vem se firmando como um dos grandes representantes do estilo em terras verde-amarelas, graças às suas apresentações cheias de energias e de improvisação.

“Nós usamos uma série de microfones de contato com caixas e instrumentos metálicos ligados a uma série de pedais de efeito, tanto de guitarra como de baixo. O nosso som é sempre baseado no improviso e vamos construído as estruturas sonoras no andamento do show”, explica.

Logo abaixo, você pode dar uma espiada no som dos catarinenses.

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“No caso dos caras do Stalaggh, é bem diferente do noise japonês e do som que a gente faz, mas acho que nem é puramente noise. Eles trabalham com notas musicais, em uma estrutura próxima do black metal e do grind core”, garantiu Bata.

“Eu vejo esse tipo de som como uma maneira de exorcismo. Eu estive no Japão durante o festival Fukuoka Extreme Music e vi o quanto o gênero é popular por lá. Existem vários bares dedicado ao estilo no país, onde não é raro ver casais, senhores de idade e uma molecada ouvindo som juntos para se desligar do cotidiano”, continuou Gustavo.

Difícil de ouvir para alguns, o noise japonês (ou japanoise) realmente ganhou espaço entre todas as classes sociais nipônicas, provando que não é porque um gênero funciona de uma maneira completamente diferente dos outros que ele precisa ficar à margem.

Vale procurar projetos como Astro, CCCC, Government Alpha e até trabalhos de artistas de rock convencional, como Lou Reed (o CD Metal Machine Music) e Thurston Moore, do Sonic Youth, para saber que nem só de ruídos vive o noise, por mais irônico que isso possa soar.


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Extremismo musical: O noise e as músicas difíceis de se ouvir

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