Se a primeira apresentação de Cat Power no Brasil, em 2001, fez muita gente jurar que nunca mais ouviria seus discos – a presença de palco praticamente nula e os muitos problemas técnicos fizeram do show um fiasco – sua volta em 2007, no TIM Festival, selou as pazes entre a cantora e seus fãs paulistanos, que sairam do Auditório Ibirapuera completamente apaixonados pelo seu vozeirão, timidez e simpatia.

 

Foi portanto, de muita boa vontade, que o público praticamente lotou a casa de shows Via Funchal, em São Paulo, na chuvosa noite de sábado (18) para ver a musa indie novamente. Chan Marchall (37), como também é chamada, proibiu câmeras fotográficas, equipes de TV e restringiu a cobertura da imprensa, o que reforçou a fama de arisca da moça. Porém, assim que arriscou um “Oi”, pouco depois de começar o espetáculo, o publico se derreteu a delicadeza da moça.

 

Todos os elementos que fazem de Chan o sucesso que é estavam lá. O charme da timidez, os sapatos brancos, as luvas, a camisa com gravata, o rabo de cavalo e claro, a potente e sussurrada voz. Porém, quem esperava um show repleto de sucessos autorais, deve ter saído decepcionado. Cheio de covers, muitos deles desconhecidos, e marcado pela forte presença da banda de estimação de Cat,  The Dirty Delta Blues – formada por feras como o guitarrista Judah Bauer (do Blues Explosion), o tecladista Gregg Foreman (do Delta 72), o baixista Erik Paparazzi (da Lizard Music) e o baterista Jim White (do Dirty Three) –  o show teve clima de experimentação, com muitas distorções e efeitos em algumas músicas.

 

Repertório baseado no The Greatest

 

Assim como fez da última vez que esteve no Brasil, Cat apresentou um repertório baseado no álbum The Greatest (2006) e abriu a noite com um cover de The house of the rising sun, música americana que ficou famosa na versão da banda inglesa The Animals em 1964. Outro cover, também desconhecido e inusitado fechou a apresentação. Cat cantou Angelitos negros, de Andres Eloy Blanco e Manuel Alvarez Maciste, gravada pela cantora de soul Roberta Flack em 1969.

 

Do álbum que a consagrou não faltaram, além da faixa-título, incluída na trilha do filme Um beijo roubado, do chinês Wong Kar-Wai, as faixas Lived in bars e The moon, que marcaram o ponto alto da noite. A cantora também apresentou, de um jeito quase ronronado, que já é sua marca,  versões para New York, New York, imortalizada por Frank Sinatra, e canções interpretadas por divas do jazz, como Don’t explain, gravada por Billie Holiday e Nina Simone. A woman left lonely, Lord, help the poor and needy, Lost someone e Ramblin’ (wo)man também agradaram ao público.

 

Apesar do cenário que beirava o exagero, com jogos de luzes que vez ou outra cegavam a platéia e incomodavam pela variedade de cores, a presença de palco de Cat Power continua fiel ao estilo que a consagrou. Mesmo num formato mais performático, com cara de showzão, os dois pés no soul e no country, a melancolia e a relação quase que de desabafo com o microfone continuam sendo o ponto forte da musa, assim como a sensualidade natural de suas coreografias, que deixam seus fãs maravilhados.


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Cat Power faz show experimental e repleto de covers em São Paulo