O Brasil ainda não tem nenhum caso confirmado de gripe suína, mas a pandemia provocada pelo vírus influenza A (H1N1) tem deixado as autoridades médicas e sanitárias brasileiras em alerta.
Em menos de duas semanas, o vírus foi confirmado em mais de duas mil pessoas em dezenas de países, a maioria deles no hemisfério norte. Com a mudança das estações, especialistas temem o início de um novo ciclo da gripe suína, desta vez hemisfério sul, aumentando os riscos de propagação da doença no Brasil.
O BATE/REBATE desta semana ouviu dois profissionais da área para saber: o Brasil está preparado para a chegada da gripe suína no país? Ou ainda, as autoridades vão conseguir reduzir os danos e frear uma possível epidemia?
“SIM, O BRASIL ESTÁ PREPARADO”
Dr. Mauro José Costa Salles
Membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
“As barreiras de contenção ao vírus influenza A (H1N1) estabelecidadas pelo Brasil estão muito bem preparadas. A estratégia foi muito bem feita nos três níveis – em âmbito federal, estadual e municipal.
Temos uma série de hospitais de referência que estão aptos a realizar o tratamento anti-viral em caso de confirmação e toda uma rede qualificada para diagnosticar o vírus. O importante é diagnosticar o mais rápido possível, pois esses hospitais já estão preparados para realizar o tratamento.
O governo federal, através de suas entidades governamentais, tem investido arduamente na produção de materiais educativos sobre essa epidemia. Além de orientar médicos, os materiais ensinam a população a lidar com a situação, identificar sintomas, e não se desesperar diante de um quadro que pode indicar a suspeita do vírus.
Ao Brasil falta apenas desenvolver um método de testes mais eficiente e com nossas próprias tecnologias. Ainda dependemos de tecnologia importada para aplicação dos testes de identificação do influenza A (H1N1).
Na minha opinião, o Brasil nunca se preparou tão bem para uma epidemia como está preparado hoje.”
“NÃO, O BRASIL NÃO ESTÁ PREPARADO”
Dr.Luís Fernando Waib
Mestre em Clínica Médica e especialista em controle de infecção da Santa Casa de Limeira (SP)
“Não estamos preparados para conter esta pendemia como ela vem se desenhando. O Brasil tem um serviço desarticulado, onde os sistemas epidemiológicos são falhos e a circulação de informação acontece com um atraso enorme. Há um ‘gap’ muito grande entre o encaminhamento do paciente e o diagnóstico que acaba por comprometer o plano de contingência.
Alguns hospitais estão se articulando para melhorar a notificação dos casos, mas ainda tem muito a evoluir. o Brasil sequer faz a lição de casa. Números recentes mostram que só 18% dos hospitais do estado mais rico do pais (São Paulo) têm controle de infecção. Por aí você já imagina qual a caracteristica do Brasil nessa área…
As informações que recebemos são apenas para tranquilizar a população. Quando você ouve o presidente falando, ele nao tem noção sobre o que acontece. Ele não entende nada de saúde, apenas de política. O mesmo acontece com os ministros que falam aquilo que os assessores pedem.
Eu acho até que os dados notificados como suspeitos acabam recebendo observação adequada nos hospitais de referência. Mas isso é a ponta do iceberg. Os médicos da imensa maioria dos hospitais e dos postos de saúde não estão preparados para diagnosticar o influenza A nos pacientes. A informação e a qualificação não chega rapidamente até os socorristas e plantonistas, os mais importantes dentro dessa cadeia.
É muito provável que a influenza A chegue ao Brasil. A evolução da doença no mundo está extremamente rápida. Foram dois mil casos em duas semanas. E ela já chegou em países bem menos expressivos que o Brasil.”