Walcyr Carrasco acabou de fazer 58 anos no dia 2 de dezembro e ele tem muito que comemorar. Sua novela, Caras e Bocas, é um sucesso absoluto no horário das 7 e já teve picos de audiência de 33 pontos, fazendo que a cúpula da emissora resolvesse estender até o começo de 2010 a trama que tem como protagonista um macaco pintor. No teatro, sua peça Seios estreou recentemente com elogios da crítica e também traz uma história inusitada, um homem que está virando mulher, mas que quer tentar continuar próximo de sua família, isso é, de sua mulher e de seu filho.

Sempre com tramas complexas tratadas com muita leveza, Walcyr conversou com o Virgula sobre os tabus que aparecem tanto na novela como no teatro.

Virgula: Como surgiu a idéia da peça Seios (um homem que está se transformando em mulher)?
Walcyr Carrasco: Ah, eu queria tanto saber dizer de onde surgem as idéias! Eu sou um escritor intuitivo, as questões vão pintando na minha cabeça, as histórias surgem. E essa surgiu de uma vez só, escrevi em uma noite, botando sentimentos, emoções. Eu penso muito nas possibilidades do amor. Tive vontade de falar disso.

V: Como você resolveu trabalhar esse tabu que acontece com freqüência em nossa sociedade, mas que é sempre muito recriminado, o de um homem querer se tornar uma mulher?
WC: Eu resolvi trabalhar através da emoção. Meu personagem é um homem que aprendeu a ser sincero com ele mesmo e com seus sentimentos. Por isso é capaz de querer se tornar mulher, botar seios. Mas ao mesmo tempo de amar o filho e corajosamente assumir isso diante da mulher.

V: Você concorda quando Dionísio Neto, ator da peça, descreve Seios  como almodovariana? Quem são suas referências na dramaturgia tanto do teatro, como do cinema e da televisão?
WC: Eu não sou um autor muito de referências. Se você observar minha obra, vai constatar que escrevo desde contos infantis bem leves, novelas melodramáticas ou de humor, livros infanto-juvenis polêmicos. Eu vou escrevendo na medida da minha intuição, do meu sentimento. Mas sou sim apaixonado por [o cineasta Pedro] Almodóvar. Se a peça tem algum parentesco com a obra dele, que é genial, considero isso um elogio!

V: Em Seios, você toca em um assunto tabu que é a mudança de sexo. Em Caras e Bocas, você toca em outro, um gay namora e é apaixonado por uma mulher.
WC: O personagem Cássio cresceu sim porque o Marco Pigossi é um grande ator e a Maria Zilda, que faz a Léa, também é uma atriz maravilhosa. E a dupla deu certo. Olha, em minha obra eu sempre discuto a questão dos limites, dos rótulos. Por que uma pessoa é rotulada disso ou daquilo? Na medida em que a liberdade de ser e fazer cresce, os rótulos também deixam de existir. Importante para mim é as pessoas perceberem que o amor é uma experiência significativa na vida, talvez a maior. E que deve ser vivido da maneira como surgir, como acontece com o casal da peça.

V: Outros tabus que você toca na novela são o casamento inter-racial entre Laís (Fernanda Machado) e Caco (Rafael Zulu) e as relações de pessoas de religiões diferentes como a judia Hannah (Julia Lund)  e o católico Vicente (Henri Castelli). Como você consegue que essas questões sejam discutidas de maneira séria, porém leve?
WC: Ah, eu vejo a vida com muito humor. Talvez veja a vida sim, de forma leve, otimista. Eu vivo dizendo que Deus me deu muito, mais do que eu poderia esperar em meus sonhos de menino. E agradeço sempre. E por isso aprendi a ver as dificuldades de maneira bem humorada, otimista. É o que me faz escrever de maneira leve sobre assuntos sérios.


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Autor de "Caras e Bocas", Walcyr Carrasco, declara: “Eu sempre discuto a questão dos limites, dos rótulos”

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