Acaba de chegar nas livrarias brasileiras, o polêmico O Culto do Amador (Jorge Zahar Editor, 207 págs, R$ 39,90), do escritor britânico Andrew Keen. Lançada em 2007, a obra causou um alvoroço: Keen diz que os blogs, as redes sociais, o YouTube e a pirataria digital estão destruindo nossa economia, cultura e valores.


 


Chamado de “anticristo”, Keen é um crítico ferrenho à Web 2.0 – onde os internautas ganharam voz e começaram a produzir e compartilhar conteúdo na rede. Segundo o autor, ela trouxe menos cultura, menos notícias confiáveis e mais informações inúteis. Tá bom ou precisa mais?


 


Ao ler o livro, percebe-se que o escritor é um polêmico de carteirinha. Ele mostra dados, pesquisas e cita vários exemplos alarmantes. Bacana, mas falta mostrar o outro lado da história. Fica uma crítica radical, vazia, feita para chocar o leitor. Só bate, bate e bate.


 


Segundo ele, cada anúncio gratuito que sai no Craiglist é um anúncio pago a menos em um jornal local. Os resenhadores anônimos do Amazon mataram o vendedor especializado em músicas e as lojas de discos. Para Keen, qualquer novidade tecnológica dentro do mundo da comunicação significa exclusão, não inclusão.


 


Não é bem assim


 


O cinema não matou o teatro, a MTV não acabou com o rádio, nem o YouTube minou a televisão. Então não é um cara que tem um blog sobre literatura que vai tirar o emprego de um crítico literário, como aponta Keen. Tampouco o Wikipedia (alvo predileto do escritor) não vai substituir a renomada enciclopédia Britannica.


Talvez por ter sido lançado há dois anos, o livro não choca tanto hoje. A tal “cultura do amador” vem sido bastante debatida nos últimos anos, e quase todo grande veículo de comunicação já dedicou um certo espaço para falar do tema.


 


A obra é cansativa, tem muitas ideias repetidas e só dá um suspiro no último capítulo, em que ele aponta as possíveis soluções para o “problema”. É aí que Keen mostra como todas as mídias se convergem e que a dinâmica dos sites deve caminhar para o meio termo: nem pouca nem muita abertura. Aqui o livro soa atual.


 


Se Keen tivesse ido por esse lado, pondo todos os seus argumentos numa balança e pesando cada lado, isso tornaria “O Culto do Amador” um livro mais interessante e um bom objeto de estudo. Mas talvez isso não o faria vender tanto, né?


 


Ironicamente, na década de 1990 Keen foi um empresário da web, e chegou a criar um site, o Audiocafe, que distribuía música digitalmente.


 



 


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A internet nos deixou burros, muito burros demais?