O segundo dia da 26ª edição da Casa de Criadores trouxe o desfile mais esperado do evento: a apresentação da coleção de inverno de Walério Araújo, que aconteceu no Museu da Língua Portuguesa, região central da cidade.

O desfile começou com problemas – marcada para às 21h, a apresentação de Walério só aconteceu quase duas horas depois, para uma platéia já ansiosa e desconfortável.

Entretanto, na passarela a coleção de Walério provou ser capaz de superar as expectativas e de trazer satisfação para aqueles que esperaram pacientemente pelo início do desfile. Em um ano em que o cinema se voltou com força total para o imaginário lúdico e nonsense de Alice No País das Maravilhas, Walério Araújo decidiu ir na contramão e escolher como força motriz de sua coleção a história do Mágico de Oz.

“Tive a preocupação de não criar uma coleção que se transformasse em figurino”, afirmou o estilista, que trouxe ao palco um desfile baseado em um de seus elementos favoritos: o fetiche, que aqui transformou um universo aparentemente inocente e juvenil em uma história marcada pelo exotismo, a ousadia e uma sensualidade selvagem.

A história de Dorothy, que encontra o mundo mágico de Oz por acaso e se perde em meio a aventuras sonhadoras, foi virada do avesso por Walério, que criou um novo fio condutor para a história: de garota inocente perdida em meio aos acontecimentos, a personagem se transformou em diversos alter-egos decididos e multifacetados, trazendo para a coleção uma personalidade forte e que demarca o poder do universo feminino no imaginário do estilista.

As mulheres de Walério são decididas, exuberantes, belas e selvagens, trazendo, com passo decidido e ao som de música eletrônica, silhuetas justíssimas, cinturas marcadas e cortes violentos e incisivos, em uma coleção que priorizou as cores escuras e vibrantes. Tules, babados, veludo e tafetá foram usados sem parcimônia, com a apresentação performática e repleta de exageros que caracteriza todas as coleções de Walério.

Os tecidos metalizados harmonizaram bem com os elementos mais românticos escolhidos pelo estilista, como transparências, tules rosa e grandes flores decorativas. Os maravilhosos vestidos vermelhos e roxos traduzem com perfeição o universo cintilante e Technicolor retratado no filme O Mágico de Oz, com uma inversão curiosa – enquanto no filme Dorothy usa um par de sapatos de rubi, no desfile de Walério o brilho dos calçados de Dorothy é transferido para os vestidos, que trazem diversos detalhes cintilantes responsáveis por trazer às criações um tom mais doce. Destaque para um dos vestidos com um tom de roxo intenso, que traz uma abertura em forma de coração nas costas.

Já as criações masculinas – embora o estilista tenha acertado em cheio ao trazer os primeiros modelos com looks quase marciais e carregados de um tom sombrio – não corresponderam ao ideário lúdico e sensual proposto por Walério ao longo do desfile. Os homens vestidos com plumas, peles e tecidos pesados, que trouxeram para a passarela personagens como o Homem de Lata e o Leão Covarde, representaram mais o esboço da ideia que o estilista tem de cada um dos protagonistas do que um conceito acabado e finalizado.

Os desfiles da 26ª Casa de Criadores continuam nesta quarta-feira (25), com as apresentações de João Pimenta, Milena Hamaní, Ronaldo Silvestre, No Hay Banda, R. Rosner e Urussaí. Todos os desfiles acontecem no Shopping Frei Caneca, a partir das 21h.


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26ª Casa de Criadores: Walério Araújo reinventa o imaginário de O Mágico de Oz em sua coleção de inverno