A história da humanidade é marcada por datas que ficam na lembrança de todos. Quem não se lembra dos atentados do dia 11 de setembro de 2001 em Nova York? E no esporte, o dia 1º de maio de 1994 nunca será esquecido pelos brasileiros, dia da morte de Ayrton Senna.

Na história da economia recente a data equivalente é o dia 15 de setembro de 2008, dia que o banco de investimentos Lehman Brothers entrou em colapso. A data foi o início da propagação global de uma crise que já estava instalada nos Estados Unidos. O que será que mudou desde então?

O início

Em primeiro lugar, é preciso relembrar os motivos que levaram os bancos americanos a passarem por dificuldades no ano passado. A crise que teve o dia 15 de setembro como ponto mais alto, na verdade começou muito antes, com o chamado subprime.

A crise do subprime teve início em 2006, quando as primeiras instituições de crédito dos EUA, que concediam empréstimos hipotecários de alto risco (chamada em inglês de sumprime loan) foram à falência. Isso fez com diversos bancos passassem a sofrem com problemas de liquidez, o que acabou tento impacto das bolsas em todo o mundo.
No entanto, esse cenário só se tornou conhecido do público a partir de fevereiro de 2007, quando os consumidores passaram ter dificuldades para pagarem suas dívidas com os bancos. Com a inadimplência, as instituições passaram a ter dificuldades para arcar com seus compromissos, levando à uma crise no setor.

O que era o subprime?

Os subprimes incluíam desde empréstimos hipotecários até cartões de crédito e aluguel de carros, e eram concedidos, nos EUA, para clientes sem comprovação de renda e com historio ruim de crédito. Eles eram conhecidos como clientes ninja (Um acrônimo, em inglês de: no income, no job, no assets: sem renda, sem emprego, sem patrimônio)

O problema é que essas dívidas só eram honradas com uma rolagem das dívidas, que só eram possíveis como os bens financiados, no caso imóveis, estavam em constante valorização. Essa valorização contínua permitia aos mutuários obter novos empréstimos, sempre maiores, para liquidar os anteriores, em atraso – dando o mesmo imóvel como garantia. As taxas de juros eram pós-fixadas – isto é, determinadas no momento do pagamento das dívidas. Quando os juros dispararam nos EUA – com a consequente queda do preço dos imóveis – houve inadimplência em massa.

O movimento de desvalorização dos imóveis começou em 2006 e fez com que os empréstimos subprime tornassem de difícil liquidação.  Para diluir o risco dessas operações duvidosas, os americanos credores transformaram essas dívidas em derivativos negociáveis no mercado financeiro internacional, cujo valor era cinco vezes superior ao das dívidas originais, que eram chamados de títulos podres.

Foi a venda e compra, em enormes quantidades, desses títulos lastreados em hipotecas subprime o que provocou o alastramento da crise, de origem americana, para os principais bancos do mundo.

O mundo depois do 15 de setembro

O anúncio do colapso do Lehman Brothers fez com as bolsas de valores experimentassem no dia 15 de setembro a maior queda desde os atentados do 11 de setembro de 2001. No mesmo dia, outro importante banco de investimento, o Merril Lynch, foi vendo ao Bank of America por US$ 50 bilhões.

A primeira medida para conter a crise foi a união de dez bancos internacionais para criar um findo de emergência de US$ 70 bilhões. Outra ação importante foi a compra, por parte do Federal Reserve (banco central dos EUA) dos chamados títulos podres.

Um importante passo foi dado ainda pelo antigo presidente americano, George W. Bush, que anunciou um pacote de resgate de US$ 700 bilhões. No entanto, o pacote foi rejeitado no Congresso, o que levou à uma nova queda das bolsas no dia 29 de setembro. Foi nesse dia que o circuit-breake (interrupção temporária dos negócios por 30 minutos quando a bolsa cai mais de 10%) na Bovespa. A última vez que um pregão havia sido interrompido no Brasil foi em janeiro de 1999.

Outubro

Para enfrentar o principal problema da crise, a falta de crédito, os Bancos Centrais de diversos países tomaram medidas conjuntas para a redução da taxa de juros. No Brasil, o governo editou uma Medida Provisória para permitir que bancos estatais comprassem carteira de crédito de instituições que estivessem em dificuldade.

Novembro

A Comissão Europeia avalia que a economia dos países que utilizam o euro como moeda já estava em recessão (crescimento negativo do Produto Interno Bruto por dois trimestres seguidos).  Para tentar evitar o pior, o Banco Central Europeu decide cortar pela segunda vez em menos de um mês a taxa de juros e anúncia um plano bilionário  aos países do bloco.

Enquanto isso, nos EUA, a crise atinge as empresas do setor automobilístico, com as montadoras Chrysler, Ford e General Motors a pedirem um socorro de US$ 25 bilhões ao governo americano.

Nessa época, as bolsas de valores americanas chegaram ao pior nível em cinco anos e meio. Para conter a fuga de capitais, o governo anuncia uma injeção imediata de US$ 20 bilhões e deu garantias de até US$ 306 bilhões para os ativos podres do Citigroup. Com o cenário não melhorando, os EUA lançam um novo pacote de US$ 800 bilhões para reativar o crédito ao consumidor e para o mercado imobiliário.

No Brasil, foi anunciada a fusão entre o Itaú e Unibanco, que fez a Bovespa subir e fugindo um pouco da tendência das bolsas americanas. O governo brasileiro também anuncia medidas de US$ 24 bilhões de crédito para diversos setores da economia.

Dezembro

O presidente americano, George W. Bush admite pela primeira vez que o país está em recessão. Para piorar a crise de credibilidade do setor financeiro, o administrador de fundos, Bernard Madoff é preso acusado de montar um esquema de pirâmide que causou prejuízos de US$ 50 bilhões em investidores em todo o mundo.

No Brasil a fuga de dólares da economia foi intensa, fazendo com que a moeda americana chegasse a ser cotada a R$ 2,50. O Ibovespa registrava uma desvalorização de 41,22% desde o início do ano, que era o pior resultado desde 1972.

O início da mudança

O começo do ano pode ser considerada a época que a economia começou a mudar de rumo. Ainda em meio a crise, Barack Obama assume a presidência dos EUA e logo de cara anuncia uma ajuda bilionária para o Bank of America. Na mesma época, o Citigroup anuncia uma reestruturação.

Já sob o comando de um novo governo, o Congresso americano aprovou um pacote de estímulo à economia de US$ 819 bilhões. No Brasil, o Banco Central inicia a trajetória da queda dos juros.
Apesar de já registrar melhoras, 2009 foi marcado pela a divulgação de dados que comprovam o impacto da crise em 2008. Milhões de postos de trabalhos foram fechados em todo o mundo e as grandes economias fecharam o último trimestre do ano com queda no PIB, que também aconteceu no Brasil.

Com um leve processo de recuperação, o primeiro trimestre do ano ainda foi ainda de muita dificuldade para as economias, apesar de já sinalizar uma leve recuperação. Os dados oficiais comprovam que o Brasil também entrou em recessão, tendo crescimento negativo também nos três primeiros meses do ano.

Com o tempo, as medidas para estimular o consumo, com a maior oferta de crédito com juros mais baixos, faz com as economias de diversos países iniciem um processo de recuperação. Importantes países conseguem fechar o segundo trimestre do ano com um avanço do PIB, saindo oficialmente da recessão. No entanto, as projeções ainda apontam para um crescimento negativo no início do ano.

As bolsas de valores de todo o mundo acumulam valorização em 2009, mais ainda longe dos maiores níveis do ano anterior. Apesar de tantas pressões e pedidos, as regras do sistema financeiro americano, considerada uma das principais responsáveis pela crise, não foram alteradas.

A melhora do cenário econômico em diversos países leva o G-20 a iniciar discussões sobre aas estratégias que devem ser adotadas no período pós-crise. Uma das medidas será o endurecimento das regras financeiras para os bancos por parte dos Bancos Centrais.


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15 de outubro de 2008: O dia que o Capitalismo sofria o maior abalo dos últimos 80 anos