A truculência da Polícia Militar de São Paulo e do Rio de Janeiro, e a violência empregada para impedir as manifestações dos últimos dias 13 e 16 de junho foram inspiração para a criação de um game de Facebook sobre a o assunto: “V de Vinagre”, da Flux Game Studio. Com base nos acontecimentos ocorridos na manifestação, a premiada empresa de desenvolvimento baseada na capital paulista decidiu participar do protesto fazendo o que sabe: um jogo eletrônico.

“Um roteiro no qual o manifestante precisa fugir da polícia por portar potes de vinagre em sua mochila poderia muito bem ser de um game 100% de ficção”, afirma Paulo Luis Santos, Diretor de Criação da Flux e um dos desenvolvedores do projeto. “O problema é que, neste caso, é inspirado nessa triste realidade com a qual não podemos compactuar. A maneira como a polícia atuou infelizmente foi digna dos mais violentos e impressionantes filmes ou jogos de ação”.

A Flux acredita que o game como mídia é uma ferramenta muito potente para ampliar a conscientização geral sobre a situação que está acontecendo na cidade de São Paulo e no país. O jogo tem o teor irônico e os gráficos divertidos de propósito: a empresa acredita que pode levar o assunto a uma audiência que não lê jornal ou sites de notícia, nem assiste aos jornais na televisão – especialmente um público mais jovem. “O game é, talvez, a mídia com a qual a conexão é mais forte e sólida para um pessoal mais novo, os pré-adolescentes e adolescentes ainda na escola”, observa Paulo. “Estamos manifestando uma opinião ideológica e registrando um movimento social importantíssimo com o ‘V de Vinagre’, e sabemos que as pessoas que o jogarem serão expostas e talvez até influenciadas por ela. Esse é o ponto”.

Em “V de Vinagre”, o jogador controla um manifestante mascarado, inspirado no protagonista do quadrinho e longa metragem “V de Vingança”, que deve fugir da raivosa polícia disposta a prendê-lo por porte de vinagre – a exemplo do que houve com o jornalista Piero Locatelli, da revista Carta e Capital, no último dia 13. Quando mais vinagre ele recolhe, mais policiais se juntam para tentar alcançá-lo. Ao final, ele recebe um ranking irônico de como a polícia o enxerga, com títulos variando de “meliante” a “comunista”. A jogabilidade é simples – são apenas duas teclas para jogar – e os dizeres “Liberdade de Expressão” são explicitados em forma de recompensa para quem consegue fugir da “Puliça” e chegar ao final do jogo.

“Quisemos fazer um game com orientação bem-humorada e atraente, mas que expusesse bem o assunto”, comenta Stiven Valério, Artista Líder e idealizador do projeto. “Nós não participamos dos atos que já aconteceram, mas esse é o nosso jeito de contribuir no sentido de uma mudança para a melhor”.

O game foi desenvolvido no formato Game Jam, uma mini-maratona de 18 horas de trabalho: a equipe começou o projeto na sexta-feira às 20 horas e publicou o jogo no sábado às 14 horas. “Optamos por fazer tudo muito rapidamente por dois motivos: primeiramente, nos propusemos este desafio de fazer um jogo em pouco tempo; e, depois, porque o assunto é urgente e não poderíamos investir muito tempo em polimentos – valia mais a pena lançar de uma vez do que perder o timing”, detalha Juliano Gomes, Programador Líder do game. O timing é importante pois há uma nova manifestação marcada para segunda-feira, dia 17/06, às 17:00.

A Flux está, agora, monitorando a recepção e alcance do jogo para decidir se é importante melhorá-lo com correções de problemas e novas features, ou eventualmente até ampliá-lo com mais conteúdo e portá-lo para dispositivos móveis. “Tudo vai depender do que o público achar do ‘V de Vinagre’ e do quanto ele contribuir para a conscientização da causa”, explica Paulo.


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Game “V de Vinagre” ironiza violência policial no Brasil