Cher, Deusa do Pop e maior diva gay
Antes de Lady Gaga apostar em figurinos ousados, de Elza Soares iniciar suas plásticas ou até mesmo do surgimento de Madonna na música, uma diva já reinava soberana na comunidade LGBT: a americana Cherilyn Sarkisia, mais conhecida como a excêntrica e talentosa Cher.
Considerada a Deusa do Pop, a diva de 66 anos é dona de uma trajetória artística e pessoal em prol da diversidade sexual e do feminismo. Sua força, perucas espalhafatosas e ousadia serviram de inspiração para drags, travestis, gays, lésbicas e transexuais.
Tanto que a visão de Cher sobre o mundo tornou-se frase em um mural da Austrália. E faz muita gente parar para refletir sobre as cobranças sociais: “Eu sempre corri riscos e nunca me preocupei com o que o mundo poderia realmente pensar sobre mim”.
De certo, não se preocupou mesmo. Mas trouxe instintivamente – e com muita arte e ousadia – a referência máxima de diva gay. Confira:
“QUANDO ME TATUEI, APENAS MENINAS MÁS FAZIAM ISSO”
Dona de perucas exageradas, performances ousadas e voz grave (classificada como contralto), Cher não faz parte do perfil “menina delicada”. Nos anos 70, quando fazia sucesso na música e em programas de tevê ao lado do ex-marido, Sonny Bono, não pensou duas vezes em abandonar a parceria e dar um grito de independência profissional e financeira.
Também fez questão de ser uma das primeiras a fazer plásticas e aderir às tatuagens, numa época em que se tatuar não era sinônimo de tendência ou moda. “Quando eu me tatuei, apenas meninas más faziam isso: Eu e Janis Joplin e garotas motoqueiras. Agora, isso não significa nada. Fiz uma tatuagem assim que deixei Sonny e me senti realmente independente. Esse era meu emblema”.
Com mais de 50 anos de carreira (quando Madonna surgiu, Cher já tinha 20 anos de estrada) a cantora também esteve à frente das questões de gênero. Não se intimidou em se transformar em homem para performances artísticas dos anos 70 e, no clipe Walking in Memphis, de 1995, se travestiu do Rei do Rock, Elvis Presley.
Em 1983, quando estava focada na carreira de atriz, estrelou o filme Silkwood – O Retrato de uma Coragem – interpretando uma operária lésbica e companheira de quarto da personagem de Meryl Streep. Pelo papel, extremamente humanista e positivo para a comunidade, recebeu sua primeira indicação ao Oscar como melhor atriz coadjuvante e foi premiada com um Globo de Ouro.
PEGADORA
Porém, o conteúdo e referência lésbica de Cher ficaram apenas na arte. Após o casamento com Sonny – em que disse ter sido vítima de traição – a morena engatou diversos romances e flertes com ícones do entretenimento. Entre eles, o galã Marlon Brando, Elvis Presley, Val Kilmer, Ray Liotta e Tom Cruise. Também teve um relacionamento com Gene Simmons, da banda Kiss e o guitarrista Les Dudek.
“Lamento não ter conhecido [Marlon Brando] melhor. Foi ótimo, tivemos os melhores momentos, mas eu estava tentando fazer o meu casamento [com Sonny] dar certo.” Já sobre Elvis, ela diz: “Ele me ligou e queria que eu passasse um fim de semana com ele, mas eu estava muito nervosa. Eu estava prestes a ir, mas pensei: ‘Não, eu não quero’ e depois me arrependi.”
Atualmente, a artista namora o roteirista e diretor Ron Zimmerman, a quem conheceu por meio do Facebook. “Nós decidimos que estamos em algum lugar entre namorados e melhores amigos. Ele me faz rir mais do que ninguém que eu já conheci. E ele é muito louco, mas muito inteligente e muito talentoso”, elogiou.
FIGURINO
Roupas e perucas sempre foram um show à parte. Cher já inventou e surpreendeu o público em inúmeras aparições. Nos anos 70, atacou de índia no clipe Half Breed e logo depois apareceu quase nua na canção Take me Home, cujo figurino fazia parte de sua peruca.
Em 1989, apareceu com um maiô cavadíssimo e polêmico em If I Could Turn Back Time – o mesmo em que ela apareceu na entrega do prêmio para Lady Gaga no Video Music Awards, em 2010. Lá, surgiu uma possível parceria e uma referência nítida para as reinvenções da Diva Monters.
Isso sem contar nos figurinos pra lá de comentados na história do Oscar.
“APRENDAM COMIGO, VACAS”
Imitada por muitas drag queens pela criatividade de seus figurinos e performances, Cher serviu de referência também para as novas gerações de divas. Em seu show de “despedida” – The Farewell Tour, em 2002 – soltou com bom humor: “Aprendam comigo, suas vacas”.
Cher referia-se à Britney Spears, Jennifer Lopez e outras novatas que surgiriam. Na apresentação, proporcionou um verdadeiro espetáculo pop, com várias trocas roupas, dance music, performances e efeitos. A repercussão fez sua carreira ser prolongada e, até 2011, Cher tinha um contrato milionário com o Caesars Palace, em Las Vegas.
Apesar de pouco conhecido pelas novas gerações, seu som vai muito além do dançante Believe, álbum mais vendido de 1999, um hino gay, e passa por vários estilos. Pelo trabalho de atriz, cantora, diretora e apresentadora, tornou-se vencedora de um Oscar, um Grammy, um Emmy, três Globos de Ouro e um prêmio do Festival de Cannes, entre outros. É a única artista do mundo a conseguir todos esses prêmios.
“MEU FILHO É TRANSEXUAL”
Ao contrário do comum argumento que a aceitação do diferente é mais fácil na casa do vizinho, Cher apoiou sua filha – Chastity, agora o transhomem Chaz Bono – na descoberta da transexualidade e construção da identidade masculina.
Em 1997, após sofrer, chorar e entender as particularidades de seu herdeiro, tornou-se oradora principal da convenção nacional Parents, Families, & Friends of Lesbians and Gays (PFLAG). “Senti medo no início, mas estarei apoiando Chaz em qualquer decisão. Quero que ele seja feliz”, declarou a cantora.
Neste ano, compareceu de surpresa na entrega do prêmio Glaad e deixou Chaz emocionado na homenagem. “Eu realmente surpreendi Chaz [com minha presença]. Ele estava adorável e me disse que ficou tão surpreso que esqueceu o que ia dizer”, escreveu no Twitter.
Quando o pimpolho participou de uma competição de dança e foi humilhado pelos jurados, Cher esbravejou: “Eu o apoio e não importa o que ele faça. Sempre haverá gente para criticar, e Chaz foi muito corajoso para se assumir. Ele tem um coração muito bom e não merece o ataque desses fanáticos estúpidos”.
LENDA VIVA
Ganhadora de vários prêmios em prol da comunidade LGBT, Cher já foi tema da revista gay The Advocate. Nela, Alex Mapa a definiu: “Enquanto resto de nós estava dormindo, Cher esteve por aí, pelas últimas quatro décadas, vivendo cada uma de nossas fantasias de infância. Cher encarna uma liberdade sem remorso e uma coragem que alguns de nós pode apenas aspirar.”
Uma verdadeira lenda viva. Um verdadeiro ícone gay.
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